Capítulo 9 - Desavenças

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Passeando pelo grande jardim do palácio de Hades, Perséfone olhava distraidamente ao redor e pensava no quanto sua vida havia mudado drasticamente nos últimos... ela nem podia se lembrar mais por quanto tempo esteve ali.

A superfície era perfeita e ela sentia falta do ar puro e do canto dos pássaros, assim como de sua mãe, mas adorava estar na escuridão. Adorava estar entre as trevas, descobrindo coisas ocultas, desvendando seus mistérios... E Hades se mostrava um anfitrião muito atencioso, ela precisava admitir.

Hades... Só de pensar nele o suspiro era inevitável. Quem diria que aquele deus de uma aparência tão fria e dura poderia ser tão amável.

Mais tarde naquele mesmo dia, a jovem deusa decidiu ir ver como Cérbero estava na entrada para o mundo inferior. A interação entre os dois havia se tornado um hábito agradável, e ela sempre lhe levava algum petisco.

Estava acariciando uma das cabeças da besta quando sentiu uma presença atrás dela.

-Ele parece gostar de você. -A voz era grave e soava como um eco aos seus ouvidos.

Se virando, ela deu de cara com o rosto fantasmagórico de Tânatos, deus da morre e também filho de Nix. Não tinham tido muita interação além de curtas conversas esporádicas, mas pelo pouco que havia visto, ele não era nem um pouco parecido com seus dois outros irmãos. Havia algo sombrio naquela divindade, e ela estava se decidindo se tomava aquilo como bom ou mau.

Dando de ombros, ela sorriu e se afastou para deixar que Cérbero continuasse sua vigília.

-É uma criatura adorável. -Comentou quando ele se pôs a acompanha-la em uma lenta caminhada.

-Fico feliz que esteja bem dada a sua condição.

-Condição?

Perséfone sentiu o olhar dele sobre ela.

-De prisioneira.

-Eu não sou prisioneira. Estou aqui porque quero. Hades diz que eu posso ir quando eu quiser. -Respondeu erguendo a cabeça.

-Correção: Você pode ir quando ELE quiser.

Parando de andar, ela semicerrou os olhos na direção dele, não gostando do seu tom e da sua escolha de palavras.

-O que está dizendo?

-Comeu da comida do mundo inferior, certo?

-Eu...

-Quem come da comida daqui está preso para sempre, a menos que Hades lhe dê permissão para sair. -Quando ela empalideceu, ele acrescentou. -Pensei que soubesse disso.

E de fato, ela sabia. Mas daí saber e se lembrar são duas coisas diferentes. Ela sentiu as coisas ao seu redor ficarem mais lentas conforme chegava a uma terrível conclusão.

Não, não, não... Eu não quero ir por esse lado.

-Ele me daria permissão se eu o pedisse. -Ela murmurou tentando convencer a si mesma.

-Está certa disso?

Quando ela não respondeu, o deus sacudiu a cabeça e ajeitou sua túnica. As mãos pálidas e esqueléticas tinham um forte contraste com o tecido negro e pesado que cobria o seu corpo.

-Veja bem, eu não quero coloca-la contra o mestre. Queria apenas que soubesse de toda a verdade.

Dito isso, ele deu de costas e partiu. Suas grandes e pesadas asas negras arrastando atrás dele.

Perséfone estava aturdida e acima de tudo, desolada. Uma parte dela queria ignorar tudo que lhe foi dito e seguir com sua estadia indefinida no reino dos mortos, mas nem ela era tão ingênua assim.

O Conto de Hades e PerséfoneOnde histórias criam vida. Descubra agora