Epílogo

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Hades vagava pelo jardim do seu palácio e observava a paisagem pra lá de morta com melancolia. Há alguns meses atrás aquele era o mais belo jardim que havia visto, agora a paisagem o deixava a beira da depressão.

Não por estar morta, ele estava acostumado em estar cercado de morte constantemente. O que o entristecia era o fato de que a responsável por levar vida até aquele lugar estava longe, e ela detestaria ver o estado em que se encontrava o seu tão adorado jardim.

-Aqui de novo Hades? -Ele ouviu Nix perguntar atrás dele. -Você não tem trabalho a fazer ou coisa do tipo?

-Não é a mesma coisa de quando ela estava aqui. -Ele respondeu pegando uma flor seca de um arbusto. -Tudo parece sem vida.

A divindade da noite cruzou os braços e revirou os olhos.

-É porque está sem vida. Você a deixou ir e sabe que foi a decisão certa a se tomar.

Ele sentiu a mão esguia tocar seu ombro mas rejeitou o contato. Não queria consolo. Queria sua deusa ao seu lado.

O suspiro irritado dela foi bastante audível, mas ele se sentiu aliviado quando ouviu seus passos se afastando e em seguida deixou de sentir sua presença. Precisava de um momento a sós e por mais que ela fosse uma boa companhia para conversas, ele não estava no clima ultimamente.

Tinha aguentado firmemente os primeiros meses longe de sua esposa, mas com o passar do tempo a agonia havia se tornado tanta que ele mal podia suportar, e por conta disso seu humor andava muito, muito pior que o habitual.

Sentado em um banco de pedra, ele se perguntava o que ela estaria fazendo, por onde andava, se estava bem e se sentia saudades dele. Tudo que passava na sua cabeça era em relação a ela, e aqueles momentos sozinhos com seus pensamentos eram extremamente necessários para que ele não saísse cuspindo fúria sobre tudo e todos enquanto estava cuidando dos seus afazeres como governante do submundo. 

Seus pensamentos estavam longe quando ele sentiu algo na sua mão se mover. Era a flor murcha que outrora ele havia colhido. Lentamente suas cores voltavam e ela desabrochava tão bela quanto um dia já fora. 

Olhando ao redor, ele percebeu que todo o jardim sofria a mudança. Árvores, grama, flores, toda a paisagem se tornando tão verde e bela quanto quando...

Se levantando em um salto, Hades olhou para a entrada do jardim sentindo o coração bater fortemente dentro do peito. Deu alguns passos na sua direção quando para a sua surpresa as portas foram abertas tão abruptamente que ricochetearam nas paredes do palácios e causaram um enorme estrondo ao revelar uma Perséfone ofegante e ligeiramente descabelada.

Ela não perdeu tempo e desceu a pequena escadaria apressada, ao mesmo tempo em que Hades corria na sua direção. 

-Meu amor! -Ela gritou quando finalmente o alcançou e lhe deu um forte abraço. -Ah eu senti tanto a sua falta!

Afastando-a apenas o suficiente para olhar nos seus olhos, Hades acariciou o rosto dela com ternura tal qual ela fosse uma escultura de vidro e pudesse se estilhaçar a qualquer momento. Depois de meses insuportáveis ela finalmente estava ali com ele. Seu corpo quente em seus braços, seus olhos o olhando como se ele fosse a única coisa no mundo que importasse.

-Não tanto quanto eu senti a sua querida. Estava quase indo busca-la pessoalmente.

A risadinha que ela soltou foi um deleite para os ouvidos dele.

-Isso deixaria meus pais furiosos.

-Com eles eu me resolveria depois de tê-la em meus braços.

Nenhum dos dois soube quem avançou primeiro, mas no segundo seguinte seus lábios estavam chocados um contra o outro em um beijo profundo e demorado, que só teve fim quando ambos ficaram sem ar. A sensação de estar nos braços dele novamente era tão boa que Perséfone não conseguiu conter suas emoções.

-Você está ainda mais bela do que no dia em que partiu. -Ele sussurrou contra os lábios dela, mas franziu a testa quando notou as lágrimas escorrendo pelas suas bochechas. -Por que o choro?

-São lágrimas de alegria. -Ela sorriu em meio as lágrimas e fungou suavemente. -É que eu senti tanto, tanto a sua falta.

Mesmo compartilhando dos mesmos sentimentos que ela, Hades detestava vê-la chorar. Pensando nisso ele enxugou as agrimas dela a olhando de maneira preocupada enquanto a mesma soluçava. 

-Se acalme meu bem. Eu estou aqui agora.

Respirando fundo ela assentiu e deixou sua cabeça descansar no peito dele. O som das batidas do seu coração a acalmando quase imediatamente.

-Que bom que esperou por mim. -Sussurrou.

Sentindo o peito se encher de alegria, Hades a abraçou mais forte e fechou os olhos inspirando profundamente. O cheiro dela, tão bom e inebriante como sempre fora. Sim, ele estava em casa agora, e ela também. Ambos tinham seu abrigo nos braços um do outro da maneira que tinha que ser. 

-Eu sempre vou esperar por você. -Ele sussurrou deixando seu queixo descansar no topo da cabeça dela.

E assim foi. Por diversas vezes Hades esperou que sua amada retornasse para seus braços. Quando ela estava com ele, seu coração se enchia de amor genuíno e seu humor melhorava em 100%, fazendo-o um líder benevolente e gentil. Enquanto isso na superfície Deméter deixava suas tarefas de lado e Despina se aproveitava para espalhar terríveis nevascas por todo o canto já que nem sua mãe, nem sua irmã poderiam desfazer suas travessuras.

Em contrapartida, quando Perséfone estava na superfície Deméter ficava tão feliz que as colheitas eram fartas, e a deusa da primavera fazia com que as mais belas flores brotassem na terra. Despina se recolhia na escuridão e o Humor de Hades voltava a ser ácido, e assim seria até que sua esposa voltasse para o seu lado e o ciclo recomeçasse.

E assim foram criadas as estações, sendo Despina responsável pelo inverno, Perséfone sozinha pela primavera, Deméter e Perséfone do verão, e Deméter sozinha pelo outono.

O Conto de Hades e PerséfoneOnde histórias criam vida. Descubra agora