Capítulo 14 - O Acordo

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Hades caminhava por uma das áreas mais escuras da Mundo Inferior depois do Tártaro. Particularmente não gostava do lugar, mas conhecia alguém que gostava muito.

Perséfone tinha uma estranha atração pelos lugares escuros e "misteriosos" segundo ela, e adorava escutar sobre as histórias do submundo, tanto como explorar lugares que normalmente ninguém ia. 

Mas ele também sabia que quando ela não estava bem, era para esses lugares que ela ia para ficar só. Por isso ele soube exatamente onde procurar quando não a encontrou no palácio ou nos jardins.

Ele a encontrou sentada em uma pedra com as costas apoiadas na parede da caverna. O rosto estava virado, mas pelo tremer dos ombros e os soluços que emitia ele soube que estava chorando. Talvez há um bom tempo.

Se aproximando silenciosamente, ele pairou sobre ela de maneira protetora antes de abraça-la por trás e depositar um beijo terno na sua nuca. 

-O que faz minha esposa chorar?

-Oh, não me leve a mal meu querido. Eu o amo e tenho apreciado cada momento ao seu lado, mas sinto muita falta da minha mãe. -Fungou. -Ela nem pôde vir ao nosso casamento.

Ela sentiu seu corpo ser virado, e foi sem lutar quando ele fez com que ela apoiasse a cabeça no seu peito. Ao fechar os olhos, sentiu o ambiente ao seu redor se mover, girar e depois voltar ao normal novamente. Quando abriu os olhos, estavam no salão do palácio. Ele sentado no seu trono e ela sentada no seu colo, ainda que tivesse um trono bem ao seu lado o qual ela podia ocupar.

-Não gosto de vê-la triste. -Hades falou acariciando seu cabelo. -Já faz um tempo que tem estado cabisbaixa.

Esfregando o rosto contra o peito dele de maneira manhosa, ela se aconchegou nos seus braços e suspirou.

-Não estou acostumada a passar tanto tempo longe dela. -Ficou calada por alguns minutos antes de erguer a cabeça para fita-lo. -Será que ela viria nos visitar algum dia?

Hades sentiu uma pontinha de esperança na voz dela, e embora soubesse que Deméter não pisaria no mundo inferior por vontade própria nem sob tortura, não teve coragem de acabar com tal esperança. Ainda assim, também não podia alimenta-la. Não seria justo.

-Isso é um caso a se pensar. -Titubeou dando de ombros. -Por que não?

Os olhos inchados e avermelhados de Perséfone pareceram brilhar com tais palavras, e ela aproximava o rosto dele para beija-lo quando ouviram as batidas suaves nas portas do salão.

-Sim? -Hades respondeu quase rosnando.

A voz do criado soou trêmula por trás das grandes portas.

-Meu senhor, o deus mensageiro está aqui.

O corpo de Hades se enrijeceu imediatamente. Seu reflexo foi abraçar Perséfone mais fortemente contra o seu corpo, mas rapidamente mudou de postura tencionando o maxilar. 

-Meu bem, pode nos deixar a sós um instante? Não vai demorar muito.

Perséfone franziu a testa contrariada. Ela queria ficar. Fazia tempo que não via seu irmão, e talvez ele pudesse lhe dar notícias da sua mãe e da superfície. Ainda assim, não discutiu e desceu do colo do seu marido.

-Tudo bem. -Falou a contragosto e lhe deu um beijo rápido. -Estarei no quarto.

Então finalmente pareciam ter descoberto o paradeiro de Perséfone afinal, mas Hades não tinha motivos para se preocupar com aquilo. Ele e Zeus tinham um trato e agora ela era sua esposa. Não seria tão fácil leva-la dali.

-Sobrinho. -Hades esboçou um sorriso amigável quando o deus mensageiro entrou no salão. -O que o trás aqui?

-Olá tio. -Hermes o saudou com um aceno de cabeça antes de assumir uma postura ereta. -Vim a comando do meu pai para levar minha irmã de volta para casa.

O Conto de Hades e PerséfoneOnde histórias criam vida. Descubra agora