Cap. 02 Anjo da Guarda

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Gasper Dahoman

Me sentia desorientado com tantos barulhos misturados: ambulância, alarme de incêndio, gritos de desespero, escombros desabando para todos os lados e vidros sendo estilhaçados.
Eu era um dos poucos alunos que conhecia a universidade muito bem.
Entrei pela porta antichamas, sem qualquer proteção, só havia minha mão para cobrir as vias respiratórias. Eu precisava ajudar e só conseguia pensar nisso. Instintivamente me sentia capacitado. Invadi o emaranhado véu de fumaça e fogo com os olhos cerrados, protegia minha cabeça com um dos braços por cima da mesma e andava apressado, procurando qualquer minimo sinal de vida. Quando repentinamente tropeço e caio no chão quente coberto de cinzas, algo havia agarrado minha perna. Olhei diretamente para compreender o que estava acontecendo e surpreso me deparo com a visão de uma mão sangrando. Assustado, levantei-me depressa e comecei a desenterrar aquele corpo dos escombros.

— Qual o seu nome? Foque na minha voz. Consegue me ouvir? — Falava em tom alto enquanto tirava cacos de vidro e madeira de cima da pessoa. — Meu nome é Gasper, precisamos sair daqui! — Foi a ultima frase que proferi após remover uma placa fina de inox de cima de seu rosto que estava coberto pelo braço, era uma mulher,  estava desacordada e com diversas queimaduras e escoriações pelo corpo.
Prontamente distribui o peso em meus joelhos e em um impulso trouxe ela aos meus braços enquanto me levantava. Sem chances de continuar a busca por mais sobreviventes naquele momento, comecei a missão de retirada. Escutava ja vozes em pânico ao lado de fora clamando meu nome, sabia que já estava próximo à saida.

— Ambulância! Estou com uma pessoa ferida aqui, precisamos de um médico urgente! Mulher, aparentemente de 19/22 anos, com ferimentos, queimaduras e inconsciente. — Gritava enquanto movia-me com ela em meus braços.

[...]

Hospital de Praga. Quinta-feira, 12 de Fevereiro - três dias depois.

Anísia Splendore

Deveriam nos contar que quando estamos próximos da morte, conseguimos sentir intensamente as nossas melhores lembranças. Isso foi tão louco e lúcido...

Estou deitada em algo que considero ser uma cama de hospital, laterais de ferro e ambiente totalmente branco com cheiro de iodo. Viro a cabeça lentamente para descobrir o que é o barulho compassado em cima de mim e encontro um medidor de batimentos cardíacos. - Merda, minha cabeça dói. - resmunguei comigo mesma.
Tento verificar como estou fisicamente, mas meus dois braços estão com camadas grossas de atadura. - Nada bom, nada bom. - Fico preocupada.

— Boa tarde, Srta. Anísia. Você quase levou o hospital a falência com tantas ataduras utilizadas nessas queimaduras, viu? Me chamo Gasper, estou aqui com você desde o incêndio na Universidade. — Brincou e explicou-se ao mesmo tempo em que se encontrava sentado na poltrona localizada próximo aos pés da cama.

— Nossa, que graça. Já pensou em ganhar a vida com piadas? Passaria fome. — Falei com a voz rouca e logo senti minha garganta ardendo.

 Peço desculpas pelo humor, mas estou muito feliz por te ver acordada. — Disse enquanto se levantava e ficava ao meu lado, ele era simplesmente um Deus Grego do car@lho. Corpo atlético, ombros largos, músculos fartos e um sorriso espetacular. Enfim... Tive a certeza que morri, fui ao céu e deparei-me com aquele anjo ali. Se fosse a vontade do meu Santinho António, eu estava pronta de véu e grinalda. Fui salva por um anjo!

— Tudo bem, Gasper. Me sinto um pouco mole e meus braços ardem. Como cheguei aqui? Eu lembro de um peso imenso em mim e depois disso... — Com os olhos enchendo de lágrimas, continuo - Só esperei o pior. - Suspiro arrepiada com a lembrança do acontecimento.

— Sozinha certamente não morreria, pois eu não sairia de lá sem você. Faria mais se conseguisse, mas tudo ocorreu muito rápido. Muitas pessoas estão recebendo um memorial de despedida hoje.

— Memorial hoje? — Digo em tom de surpresa. — Em que dia estamos, Gasper?

— Faz três dias que tudo aconteceu, Anísia. Sinto muito, você entrou em coma devido a quantidade de gases tóxicos inalados. Estou com você aqui desde então. A policia e os bombeiros não conseguiram contactar a sua família e achei desumano te deixar sozinha. — Ele terminou de falar encarando minha fisionomia, certamente esperando alguma expressão de tristeza, se preparou para algo que não aconteceu, surpreendido pela minha indiferença, ficou inquieto.

— E não conseguiriam contactar ninguém mesmo. — Respondo-o secamente

Fomos então interrompidos por um médico muito bem disposto seguido da sua enfermeira chefe, eles se mostraram surpresos ao me ver acordada.

— Enfim a nossa paciente favorita acordou. Gasper poderia nos dar licença? Vamos fazer exames físicos para ver como ela esta agora e deixa-la à parte do que vem acontecendo. — Disse o doutor com um sorriso largo nos lábios.

Tubarão Negro: A herdeira perdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora