Cap. 04 Gato e Rato

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Anastácia McMillan

No jogo da vida, não me trate como seu peão. Pode ser tarde quando perceber que sou a rainha, xeque mate.

Os saltos da minha mãe ecoavam pela sala inteira, não tinha como tomar café da manhã em paz com tanto toc, toc, toc, toc... De um lado ao outro. Tomava um gole de café e o mesmo pulava em meu estômago no ritmo em que ela andava.

— Mamma, mi amore.  Está treinando boas maneiras às 08h00? Já passou da fase para isso. Por que não faz coisas normais como as mulheres da sua idade? Quem sabe uma passada no médico para um check up dos 60 anos. — Finalizei com ar sarcástico, eu realmente não estava bem, mal dormi após o plantão.

— Bom dia Anastácia, estou atrasada para o meu vôo, querida. — Fingiu que não escutou minhas implicantes e insultuosas palavras. — Agradeço a pequena estadia em sua casa, mas seu pai esta surtando sozinho na Itália. Dei uma lista com teus alimentos favoritos, regimes e itens dos quais é alérgica para a empregada e por favor, troque o colchão do quarto de visitas, aquilo é tortura até para um cachorro. — Em meio a um frenesi de atraso, se aproximou de mim e beijou me a testa já com sua mala em mãos. Apertou-me em seus braços e sussurrou "Dio ti protegga" como faz desde que eu era pequena.

— Deus te proteja também, mamma... Deus te proteja... - Mordendo uma maçã a vi sumir pela porta.

Continuadamente finalizei o café da manhã e fui ao escritório ver e-mails da universidade e do trabalho, como sempre, respondi alguns, deletei outros, entretanto o mais importante de todos os dias, eu não recebia fazia uma semana. Nem e-mails, nem ligações, muito menos sinal de fumaça...  Gasper estava muito distante. Compreendo que o incêndio na universidade foi impactante e os plantões no hospital são cansativos, contudo, ele sempre arrumava um jeito de dormir comigo.

Exausta do modo como as coisas estavam ocorrendo, mandei aprontarem minha moto e fui tomar banho. Estava decidida a tirar satisfação sobre tudo o que estava acontecendo.

Apesar de saber que não seria correspondida, mandei mensagem perguntando onde ele estava. Se ele queria brincar de de gato e rato, a gata estava pronta. 

Pilotei diretamente para o apartamento dele, se tem algo que o faz hibernar é video game e frio. Na minha perspectiva ele só estaria cansado de uma semana longa e turbulenta. Ao chegar à porta, levei a mão direto para de baixo do tapete e peguei a chave reserva. Se Gasper estivesse em casa, queria faze-lo uma surpresa, entretanto neste ínterim de abrir a porta e entrar, o escutei conversando com alguém. Me abstive de mostrar que estava presente e escutei "...foi tudo muito rápido e estranho, mas a maneira como mantínhamos contato visual parecia que fazíamos aquilo todos os dias das nossas vidas." neste momento senti um pequeno arrepio na espinha, com toda a certeza ele estava falando de mim, foi quando tudo desabou e ele falou "a imagem dela frágil e protegida em meus braços saindo do incêndio toca todas as noites em minha cabeça." Não se referia a mim!
Meus sentimentos declararam anarquia dentro do peito e perdi as forças nas pernas, por um descuido de segundos esbarrei no móvel de entrada e derrubei os livros que ali estavam. Pronto. Já sabiam que eu havia entrado, fiz de conta que não havia escutado nada e me recompus.

 Querido? Sou eu. — Em passos rápidos e forçando um andar despojado adentrei a sala e encontrei Gasper deitado com a cabeça no colo de sua mãe, ele certamente estava desabafando. — Oh! Peço desculpas, não sabia que a Sra Tresa estava aqui, é que eu estava muito preocupada... — Ele não me deixou finalizar.

— Olá anjinho ruivo, como você está? — Disse enquanto levantava do sofá. — Estou me sentindo saturado, eu quem lhe peço desculpas. Não respondi suas mensagens antes porque não me sinto a melhor das companhias no momento. — Aproximou-se e segurou minha mão, a beijando em seguida e acariciando meus dedos com seu polegar.

A Sra. Tresa não estava com a expressão para muitos amigos, me olhou com reprovação, talvez não tenha gostado da minha invasão repentina, mas não deixou de ser educada, sempre se portando como uma lady.

— Olá Anastácia, não tem problema. Eu já estava de saída. — Tirou a almofada que estava em seu colo, levantou e ao me olhar lançou um sorriso ambíguo. — Ga, mais tarde mando a ti o horário do almoço de amanhã. Qualquer coisa me ligue. — Se despediu de nós e piscou ao Gasper, esse comportamento me enervou.

Esperei até escutar o barulho da porta se fechando, neste momento todos os sentimentos que estavam explodindo em guerra dentro de mim afloraram.
Cega de raiva, tateei a mesa de centro e joguei contra a parede o primeiro artigo que encontrei.

— Quem lhe deixa confuso? Eu fazendo plantão e te procurando noite e dia e você pensando em outra?  Esta me taxando de idiota, seu canalha imoral!? Sinceramente, Gasper. — Exclamava enquanto desferia tapas em todas as partes possíveis do seu corpo e o empurrava espalmando seu tórax, sim, eu perdi o controle.

Você perdeu a cabeça, Anastácia! Eu não sou nenhum animal para ficar em combate corporal com você! - Esbravejou enquanto agarrava-me pelos dois braços e me prendia contra a parede.

— QUEM? Quem você salvou naquele maldito incêndio? Por que você me enganou? Eu faço um excelente papel de otária mesmo! — Tentava o chutar sem sucesso, pois prendia minhas pernas com as dele.

Você esta descontrolada, tirou tuas conclusões precipitadas e me agrediu. Eu não compactuo com a sua maneira de resolver problemas, Anastácia. Se você foi criada por animais, então que fique entre os teus, NESTA CASA EU NÃO TOLERO VIOLÊNCIA. Compreendeu? — Me tirou da parede e foi me empurrando para a porta de saída pelo ombro. — Saia e não volte. — Falou friamente enquanto me colocava para fora e batia a porta logo em seguida.

Chutei a merda daquela porta e fui embora. Eu vou descobrir quem é a garota andando no meu território e não vai demorar muito.

Vocês vão me conhecer melhor daqui pra frente. A propósito, sou Anastácia, primogênita e única herdeira McMillan. Nascida e criada em Génova, Itália.
Tenho 26 anos e possuo cabelos longos e ruivos como fogo, rosto fino e de detalhes delicados. Corpo "falso-magro" que delineia cintura fina e conjunto de busto e quadril largo.
Sou um tanto quanto competitiva, desinibida, debochada e uma profissional apaixonada pela adrenalina em duas rodas.
Nunca tive muita atenção dos meus pais, mas sempre tive o que eu queria e quando eu queria em troca. Conheci minha melhor amiga Mia ainda na pré escola, com quem dividi minha infância inteira e fiz com que meus pais bancassem a vida estudantil. Me formei em Medicina e logo depois ingressei na Pós Graduação de Neurologia, foi onde conheci Gasper e sério, nunca senti algo tão forte por alguém como sinto por ele. Estamos juntos há 2 anos e nunca tivemos problemas, bom, até hoje. Eu odeio sentir que fui passada para trás ou pior, que não sou mais a "alfa" da turma. É difícil me acompanhar, mas não impossível.


Tubarão Negro: A herdeira perdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora