A Fantástica Vida de Bombeiro

A Minha Primeira Ocorrência

Minha primeira ocorrência.

Como Soldado do Fogo não podia deixar de relatar sobre a minha inesquecível, triste, grandiosa, cansativa e complicada primeira ocorrência... "A explosão de Pirituba" em 27 de janeiro de 1995 sexta-feira por volta das 10hs em uma casa de Umbanda onde funcionava um depósito clandestino de fogos na rua Benedito de Andrade no bairro de Pirituba.

Este foi literalmente falando meu primeiro dia de serviço operacional no Corpo de Bombeiros, na verdade foi uma forma real de teste para ser sabatinado por uma comissão de oficiais, sargentos, pares e a população, a minha chegada, a minha afinidade, a minha coragem e meu espírito de equipe. Neste primeiro dia deu para sentir na pele o quanto nós Bombeiros somos de extrema importância e essencial à sociedade, sem falsa modéstia, de certo modo a presença do Corpo de Bombeiros no seio da sociedade ameniza as tristezas e as desdita da população em especial as das grandes metrópoles, nós do Corpo de Bombeiros, fazemos o máximo para dar um atendimento digno à sociedade conforme a vontade de Deus.

Pois, nós vamos aonde as pessoas comuns não vão! E assim foi minha a primeira ocorrência!!!

Eram quase 11hs da manhã na data de 27jan1995, eu juntamente com mais três recrutas, estávamos chegando no PB Casa Verde para nos apresentar e definitivamente fazer parte do efetivo. Todos nós passaríamos por estágios em outros quartéis da unidade para depois sermos distribuídos nas prontidões, o qual eu fui para a prontidão Azul da Casa Verde.

Já estava tudo acertado, e nesse momento foi acionado o alarme do resgate para atendimento de vítimas de explosão ambiental, a viatura de resgate saiu em código 3, passados 10 minutos, já no local, desesperado o comandante da guarnição, na época o Bombeiro Clemente solicita mais apoio e reforça a mensagem, muito apoio!
Pois a grandiosidade dessa ocorrência naquele momento era surreal, impossível de ser calculada e mensurada num simples piscar de olhos.

O comandante do 2SGB/2GB na época era o comandante Edson (conhecido como Nego Edson em off), naquele mesmo instante, prevendo que a "chapa estava a esquentar", ele ordenou que nos fosse servido o almoço e rapidamente pegar nossos equipamentos pois, íamos engrossar o efetivo para apoiar nas buscas.

A dimensão daquela ocorrência foi imensurável, um quarteirão inteiro estava implodido, segundo informes havia armazenamento de pólvora e artefatos de uma casa de fogos que funcionava como uma fabriquinha de fogos e artifícios.

A grandiosidade da ocorrência mobilizou todos os quartéis do 2°GB outras unidades e instituições como o COE, o GATE-PM, Exército-EB, Defesa Civil, Guarda Municipal-GCM e muitos voluntários do bairro.
Várias emissoras de TV faziam a cobertura. Como disse o quarteirão estava literalmente no chão, foi uma cena terrível, ver aquele monte de entulho sobre as pessoas que lá moravam.

Uma montanha de telhas, tijolos misturados aos móveis e eletrodomésticos parecia que um furacão havia passado naquele espaço.
Mas a disposição e experiência de muitos antigos que lá estavam, naquele dia, lapidou em nós um estilo de trabalho que faz da Casa Verde uma afamada unidade. Ali aprendemos ir para os sinistros para ganhar sempre.

Enfim, vidas soterradas e o tempo passando, quando chegamos no local, o cenário parecia uma praça de guerra, causado pela negligência e funcionamento de um deposito de fogos clandestino provavelmente sem as devidas formas preventivas de segurança.

Não sabíamos ao certo o número de vítimas, mas tínhamos correr contra o relógio para regatá-las. Quando cheguei no local da ocorrência algumas vítimas já tinham sido encontradas sob os escombros sem vida mesmo assim foram encaminhadas ao PS. Uma pessoa moradora que escapou ilesa da explosão porque havia ido à padaria, contribuiu conosco indicando onde possívelmente poderia ter mais algum morador soterrado.

Começamos então a operação com pás de escotas, com as mãos, sem ferramentas pesadas para não agravar ainda mais a integridade física de algum sobrevivente, tudo de forma rápida e sincronizada.

O primeiro local indicado foi a parte dos fundos e exatamente lá os cachorros de busca e salvamento sinalizaram, fomos rapidamente e com cautela removendo os escombros, localizamos um casal em estado grave com dificuldades respiratória e politraumatizados onde foi retirado mais de meio metro de entulho sobre seus corpos, incansavelmente continuamos procurando.

Primeiro encontramos o rapaz politraumatizado, trauma de abdômen estava com queimadura de segundo grau o qual foi imediatamente assistido pelos médicos e rapidamente encaminhado para o PS.

O mesmo procedimento ocorreu com sua esposa que estava próximo do local onde seu marido estava, ela apresentava trauma de crânio com possível comprometimento da coluna cervical, dificuldades respiratória e um possível pneumotórax em estado gravíssimo.

Procura daqui procura dali naquela área extensa, encontramos uma jovem oriental (japonesa) embaixo dos escombros também  politraumatizada com fratura total da coluna lombar, foi constatado morte evidente.

As pessoas que trabalhavam na casa de fogos e no correio que funcionava naquele espaço, desapareceram, não foi encontrado nenhum vestígio de ninguém, mas os seus parentes tinham a certeza que seus familiares foram trabalhar naquele dia, hora e local.
Devido a dimensão da explosão, alguns peritos desconfiaram mas não afirmaram que talvez os corpos se desintegraram com a combustão e o deslocamento de ar mas para chegar a uma conclusão final, teria que ser feito uma severa investigação pericial.

A exaustão castigou a todos das 11hs da manhã até ininterruptamente às 19hs, até o momento em que o comandante das operações naquele dia o Major Paca de Lima ordenou que a partir dali, as busca seriam auxiliadas por uma retroescavadeira.

Até o momento que ficamos no local todos resgatados estavam com vida, horas mais tarde fomos informados que nenhum resgatados resistiram a gravidade dos ferimentos e vieram à falecer.

Foram 8hs ininterruptas de trabalho com EPI completo para salvamento (gandola de manga comprida, bota, capacete, óculos e luva), até que chegou a rendição. Horas depois foi encontrado o último sobrevivente, um cachorro depois de uma incessante busca na fase da varredura, já era noite, não me lembro sua raça mas parecia um Lhasa, que estava sã e salvo, um pouco fadigado e assustado com razão.
Enfim, foi o único sobrevivente daquela tragédia. O saldo daquela tragédia foi a morte de 10 pessoas, 20 feridos e 10 internações em estado grave nos PS de Pirituba, Hospital das Clínicas, Santa Casa de Misericórdia.
Voltamos para o quartel perplexos, todos esgotados e cansados mas, pela primeira vez com a sensação do dever cumprido, apesar do saldo negativo.

Não só eu como todos nós, ficamos muito orgulhosos naquele momento, com uma sensação de auto aprovação.
E a partir deste dia minha segunda casa passou a ser o PB Casa Verde.
Ao longo desses anos conquistei meu espaço, fiz muitas amizades, pelo esforço e o suor do meu trabalho.

É Vero, Verdadeiro.....

É vero, verdadeiro
Que o amor inato entre as pessoas existe!
É vero, pura verdade
Que o amor é tudo nessa vita
Que o verdadeiro amor vem do coração!
A vida é pela vida
É vero sempre vero
A essência, o pó, o Ser
Belo dia!
É vero
Por enquanto..
Por enquanto
No girar dos ponteiros tudo muda
As casas abaixo em ruínas
Cobrindo vidas, corpos e histórias
É vero, triste verdade
Peço a Deus, é vero
Que guarde vocês, é vero
Que olhe por nós, é vero
É vero?
Sim, sempre!
Ma que dúvida!
Deus, é vero
E sempre por nós, é vero
E o meu amor pela vita
É vero, tão vero
Quanto ao amore
Que sinto por vocês
É vero! ...
E é por vocês
Que somos todos por hum...

O Poet@Luíz Kon'Z
#Autor@l