XI - A SURPRESA

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Duas semanas haviam se passado daquela noite. E, ainda assim, Karen não conseguia esquecer cada detalhe. Os últimos dias tinham sido torturantes. Nem um sinal de Ricardo. Por várias vezes se pegou xingando silenciosamente Gabriel por não ter repassado o telefone de nenhum integrante da banda. Ou por Juliana não ter tido a cara de pau de pegar o número de David. Ao mesmo tempo, se martirizava por não ter pego o contato dele, ou de qualquer integrante da banda. Poderia telefonar, desinteressadamente, só para checar a agenda e combinar o próximo show, aquele que ela tinha ficado devendo.

Mas, não. Nem isso. Pensou em recorrer às redes sociais. Mas achou desesperado demais e informal entrar em contato pelas redes sociais. Mas também não iria telefonar, ficaria muito claro que ela estava desesperada. Desespero talvez não fosse a palavra certa, estava extasiada, com a cabeça nas nuvens e se sentia como que sonhando o tempo todo.

- Filha, você não vai comer? Está meio dispersa, alguma coisa está acontecendo? - sua mãe tinha vindo visitá-la assim que soube do fim do relacionamento. Considerou que ela precisava de algum apoio e precisavam decidir o que seria feito com a casa e se ela voltaria para Rio Claro.

- Está tudo bem. Só não estou com muita fome. Acho que vou pegar um doce - se levantou para ir à geladeira, quando sentiu uma pontada no seio, elevando automaticamente as mãos para segurá-los.

- O que foi?

- Não sei. Acho que é coluna, estou com uma dor no peito. Acordei hoje com essa dor, acho que dormi muito encolhida, aí fica essa dor pesando aqui.

A mãe achou estranha a reação, mas logo emendou outro assunto.

- Então, você vem comigo ou não?

- Não sei mãe, ainda não sei como vai ficar a empresa. Tenho alguns casamentos para organizar aqui, hoje marquei de encontrar uma mãe que quer ver um aniversário de 15 anos. Enquanto eu não tiver outra profissão, não vai dar para mudar.

- Mas é tão pertinho, você poderia vir para cá quando tivesse algo e teria a possibilidade de começar a pegar coisas por lá. A cidade é maior, tem mais chances.

- E mais concorrência também.

- É um risco, mas, também, lá tem eu!

- Isso é verdade, mãe - disse se aproximando da mãe, que estava sentada na mesa, e a abraçou de forma afetuosa. Tinha um amor imenso pela mãe, sempre foram muito unidas, principalmente, depois da morte do pai. Karen não chegou a conviver muito com Paulo, que morreu quando ela tinha apenas oito anos.

Maria era dentista, uma daquelas mulheres determinadas e sem muita vaidade. Engordou muito depois da morte do marido e aprendeu a viver sozinha. Sempre pode contar com os seus sete irmãos para ajudarem no que fosse preciso e, com o tempo, voltou a sorrir, mostrando a todos uma disposição que era invejável. Em todas as situações, sempre conseguia ver algo positivo.

- Eu só tenho a você, quero a sua companhia.

- Não é verdade. E o Carlos?

Karen não gostava do novo marido de sua mãe, mas não por algum motivo específico. Ele até parecia ser um homem decente, estava para se aposentar, trabalhava duro e tinha se divorciado há dez anos. Não entendia o quê exatamente a incomodava no padrasto, mas sentia que ele ocupava um espaço, talvez o espaço deixado por seu pai. O via como um intruso e um usurpador, que agora morava em sua casa. Por 29 anos ela e sua mãe sempre estiveram praticamente grudadas, diferente de muitas de suas amigas. Sua mãe até a acompanhava nos barzinhos, participava das reuniões com amigos e se tornou a mãezona, a amiga de toda a turma. Quando se casou e mudou de cidade, a mãe a apoiou inteiramente.

O cara do pôster - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora