O anúncio

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As incertezas eram muitas. Não saber o que aconteceria àquelas pessoas enfermas, não saber como se proteger ou se quer como fazer aquilo parar. Tentar entender como começou era ainda mais difícil, porque não se sabia nada a respeito daquele surto. Apenas um monte de gente ficando doente ao mesmo tempo e sendo levadas para um isolamento rigoroso.

Todas as manhãs, era sufocante a atmosfera de medo que se espalhava entre os alunos, sem saber quem seria o próximo a ser levado para longe. Qualquer um estava sujeito à contaminação, aparentemente, não havia um padrão. Eles tentaram alertar para o contato físico, ninguém podia se abraçar ou se tocar, era a ordem. Por isso, andavam sempre a uma distância razoável uns dos outros, o que causava ainda mais insegurança e afastamento social.

Naquela manhã, em específico, havia um burburinho intenso nas mesas do Salão Principal durante o desjejum, especialmente depois que os jornais bruxos foram trazidos pelas corujas através do correio. As manchetes diziam que Hogwarts não era um lugar seguro e que, em breve, reforços seriam enviados pelo Ministério.

Haviam inúmeras teorias de conspiração circulando pelos corredores, durante as aulas ou nas conversas em grupo. Desde sabotagem dos elfos até um plano maligno de ressurreição de Voldemort. Eram tantas absurdidades que ficava difícil ter uma conversa saudável com os colegas. Afinal, dava para responsabilizar alguém?

As aulas transcorreram normalmente naquele dia, como nos dias anteriores. Não havia nenhuma proibição nesse sentido, apenas para as aulas práticas ao ar livre e qualquer outro tipo de atividade que representasse perigo aos alunos, uma vez que o atendimento na enfermaria da escola era restrito aos casos graves da doença. Ninguém mais podia errar o feitiço nas aulas e fazer crescer os dentes do colega ao lado, porque não haveria ninguém para fazê-los voltar ao tamanho normal depois.

Ao final daquela aula, no entanto, os alunos foram surpreendidos com a entrada abrupta de dois professores, impedindo que alguns estudantes deixassem a sala. Havia um misto de curiosidade e temor pairando no ar.

- Todos de volta aos seus lugares, por favor. – disse a professora McGonagall, sinalizando aos alunos para se sentarem, enquanto caminhava a passos largos até a frente da classe.

Atrás dela, vinha a figura imponente do professor de Poções, Severo Snape, caminhando sem desviar a atenção para os lados, enquanto, com a varinha em punho, fechava todas as janelas e persianas, deixando apenas a chama das tochas clareando o ambiente, cujo crepitar do fogo podia ser ouvido tamanho o silêncio que se formou. Uma vez à frente da classe, se posicionou ao lado da professora e guardou a varinha na manga do casaco pesado, só então percebendo que toda a atenção estava voltada para a sua figura negra e impassível.

- Isso tudo era mesmo necessário, Severo? – Minerva sussurrou, apenas para ele ouvir – Não consigo ver nada desse jeito.

- A claridade me incomoda. – respondeu, soltando um suspiro resignado quando acendeu mais algumas tochas ao longo da sala com feitiços não verbais.

- Agora sim, obrigada. – sussurrou, grata. – Bom dia a todos. – cumprimentou os alunos, notando suas caras de temor após entrada tão teatral – Acredito que não seja desconhecido de nenhum dos senhores que nossa escola está passando por um momento difícil em termos de saúde. Muitos estudantes estão sendo acometidos de uma enfermidade de causas ainda desconhecidas e, na posição de Diretora desta escola, tenho o dever de comunicá-los sobre algumas medidas que estarão sendo tomadas para conter o avanço dessa doença e proteger a saúde de todos.

Desde a chegada dos alunos à escola, em primeiro de setembro, até o surgimento do primeiro caso grave da doença, sete dias depois, nenhum pronunciamento havia sido feito por parte da direção. Tudo o que se sabia, até agora, era o que se especulava nos corredores e no pouco que se lia a respeito nos jornais. Agora, no décimo dia do surto dessa doença de origens incertas, finalmente alguém falaria sobre ela.

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