Idas e vindas

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Durante muito tempo, setembro costumava ser uma época do ano pela qual Hermione ansiava que chegasse, pois marcava o início de um novo ano letivo. Uma nova oportunidade de estar perto de seus amigos, de viver experiências que, por ter nascido em uma família trouxa, ela nunca imaginou que experimentaria. Depois da guerra, todos os meses do ano só indicavam a ausência de entes queridos. Agora, ela sempre se lembraria de setembro como um mês sombrio, de tristezas, perdas e doenças.

Naquele dia, ela estava um pouco nostálgica, se lembrando de coisas que havia vivenciado até então, e de como havia chegado até ali. Estava sentada em um banquinho no laboratório com os cotovelos apoiados contra o balcão de pedra, uma pena pendendo de uma mão e, na outra, um punhado de pergaminhos que ela, momentaneamente, havia parado de escrever neles para se ater nesses pensamentos, saídos do seu subconsciente.

Fazia tão pouco tempo desde que setembro começara, e Hermione tinha a impressão de já ter vivido tantas coisas desde então. Tinha estado lá quando um anúncio de epidemia havia sido feito para uma turma lotada; e depois tinha passado dias difíceis em isolamento na torre da Grifinória. Ela não gostava de se sentir insegura, e só de lembrar daqueles dias lhe dava um arrepio gelado nas espinhas.

Endireitou-se após um suspiro e molhou a pena novamente no tinteiro, voltando toda sua atenção para as palavras que não havia terminado de escrever ali. Mas sua mente não correspondeu aos comandos e voltou a se lembrar da sua trajetória até aquele momento. Tinha escapado da sua torre uma noite e terminado na enfermaria implorando para ficar e ajudar a cuidar dos doentes; tinha comemorado um aniversário; tinha sido beijada por seu professor; e tinha terminado na cama com ele, mais de uma vez.

Com essa última linha de pensamento, decidiu parar por ali mesmo. Balançou a cabeça para afastar essas ideias e se ateve novamente aos pergaminhos. Estava fazendo anotações para a pesquisa do professor, a fim de encontrar uma nova fórmula para a poção imunnis. Estava dando mais trabalho do que pensou que daria, até porque nunca tinha experimentado aquelas combinações de ingredientes antes, e não sabia se podia funcionar.

Quando se deu por satisfeita, organizou tudo em um canto e se levantou. Ao passar pelas portas do laboratório, ouviu o ruído de água corrente vindo dos aposentos particulares. Soube que seu professor estava no banho. Na noite anterior, eles haviam se amado naquele mesmo laboratório, sem nenhum conforto ou cuidado, e mesmo assim tinha sido maravilhoso. De repente, a água parou de cair e ela voltou a si, seu estômago indicando que estava faminta naquele início de tarde. Era hora do almoço, e ele já estava servido em seus aposentos, por isso entrou.

O que ela não esperava era encontrá-lo no meio do quarto, secando os cabelos com a toalha que deveria estar enrolada em sua cintura, mas que não estava. Paralisou por um momento e, por sorte, ele a notou e rapidamente tratou de se cobrir, apenas dedicando-lhe um olhar de lamentação pelo ocorrido, embora nada arrependido. Mas não era só aquilo que os incomodava, e sim a crescente intimidade entre eles.

- Desculpe, eu deveria ter batido na porta antes de entrar. – ela disse, um pouco sem jeito.

- Não precisa, os aposentos também são seus.

Mas ela queria dizer que isso não lhes dava o direito de sair andando desnudos por lá. Acabou não dizendo nada, só desviou os olhos por um instante.

- Vamos almoçar? – ela sugeriu, para quebrar o desconforto entre eles.

Concordando, Severo recolheu suas peças de roupas e se dirigiu ao banheiro. Quando voltou de lá vestido e com os cabelos secos, Hermione já tinha iniciado sua refeição.

- O que acha de começarmos a testar os novos ingredientes que você selecionou para a pesquisa? – ele perguntou, sem olhá-la diretamente.

- Acho ótimo. – ela ficou verdadeiramente animada – Podemos fazer isso assim que terminarmos aqui.

A epidemiaOnde histórias criam vida. Descubra agora