Capítulo 03 - Liam

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Levanto depois de outra noite mal dormida. Vou ao banheiro e começo a me arrumar para mais um dia de trabalho. Ducha, escovar os dentes, vestir roupa, sapatos. Poderia fazer isso de olhos fechados. Transformou-se em uma tarefa robotizada, como o restante da minha vida.

Não preciso pentear o cabelo – o mantenho curto exatamente por isso – não uso perfume, não lustro os sapatos. Não tenho motivo. Aliás, não vejo motivo em quase tudo da vida. Pelo menos na minha.

No quarto, inalo uma respiração profunda. Olho para mesinha ao lado da cama e apago o incenso. Ele sempre está aqui. Sempre o acendo antes de dormir. Respiro profundamente de novo. Meu cérebro tentando manter esse perfume gravado em meus sentidos. O perfume dela.

Fecho olhos enquanto meu peito se aperta com lembranças. Resolvo sair dali apressadamente antes que eu fique mais atormentado do que deveria. Antes a aflição me dominava, mas hoje eu consigo manter a dor sob controle. Só nunca consegui me livrar dela. E acho que não mereço isso.

Chego ao hospital e caminho para minha sala. Não me incomodo em parar para cumprimentar alguém. E também ninguém insiste. Aqui todos já me conhecem. E, se por acaso, algum desavisado tentar se aproximar, nada do que uma expressão séria e um pouco de arrogância não resolva.

Não quero proximidade com ninguém. Na verdade, quanto mais longe ficarem, melhor para mim. Estou muito bem do jeito que estou.

Entro na sala da nova assistente e a encontro vazia. Estreitei os olhos olhando ao redor. Liberei-a mais cedo ontem com o combinado dela chegar adiantada hoje. Bufei indo para minha sala. Incompetente.

Já basta ter quase caído aos prantos ontem aqui em seu ambiente de trabalho. Deus me livre! De sofrimento já basta o meu. Eu sou obrigado a suportar minha dor, mas não a dos outros. Balancei a cabeça em desgosto. Eu a puniria de alguma forma mais tarde. Aprenderia ser profissional ou teria o mesmo destino das anteriores: seria demitida.

Concentrei-me no trabalho. Era cansativo e, às vezes, estressante, além de precisar de muita atenção, pois era importante para o hospital também. O trabalho feito aqui com médicos residentes era bem reconhecido. Não podia permitir que algum erro acontecesse nas provas dos residentes.

Fui interrompido depois de algumas horas com uma batida leve à porta. Suspirei e pedi para entrar. A assistente colocou a cabeça para o lado de dentro da sala, seus olhos arregalados de um jeito nervoso. Olhou-me por um instante antes de dizer:

— Dr. Parker, seu telefone deve estar com algum problema, pois estou tentando falar com você, mas está sem sinal.

Encostei-me à poltrona e cruzei os braços no peito, respondi impaciente:

— Não está estragado. Eu desliguei. Justamente para não ser interrompido.

— Er..bom..Tem alguém aqui querendo vê-lo.

— Já falei que não quero ser interrompido, Aline — respondi, e ela estreitou os olhos. Abriu a boca, mas não respondeu. — Pode sair.

Ela fechou a porta um pouco mais brusca do que o necessário. Voltei a me concentrar nos papéis. Logo a porta se abriu de novo. Levantei a cabeça, pronto para brigar com a mulher, quando vi que não era Alice que tinha entrado.

— Scott! — falei e soltei o ar. — Só você mesmo para invadir meu escritório.

Ele se virou e falou alguma coisa, suspeito eu, para a assistente e fechou a porta.

— Só invadindo para ser recebido agora, é? — questionou, se jogando na cadeira a minha frente.

— Estou trabalhando. Não gosto e nem posso ser interrompido com o que eu faço. Você sabe disso — retruquei, mal-humorado.

Minha Tentação - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora