Capítulo 07 - Alice

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Era ainda inacreditável. Surpresa nem começava a definir meu estado. Meu cérebro tentava a todo custo acompanhar o rumo dos acontecimentos, mas eu ainda sentia-me dormente.

Primeiro, fiz de tudo para ser amigável. Fiz meu trabalho direitinho, fui muito bem-educada – até mais do que deveria – e até fui bondosa, buscando seu café e tudo mais.

Eu tentava recompensar a confusão com felpudo e, ao mesmo tempo, colocava em ação o plano de aproximação do Dr. Liam.

As palavras do seu amigo, Scott, voltavam o tempo todo me dando um fio de esperança. Dr. Liam tinha alguma simpatia por mim. E, sendo mesmo verdade, eu usaria isso a meu favor.

Quando eu mais precisei, eu tive amigos ao meu lado me apoiando em um momento que foi terrível pra mim. Não gosto de imaginar que alguém que passe pela dor do luto, que imagino ser bem pior que a dor de um coração partido, enfrente isso sozinho. Deveria ser proibido passar por momentos de dor sem amigos por perto.

Dr. Liam é meu amigo? Definitivamente não. Mas, poderia ser. Sei lá... Minhas intenções são confusas a respeito desse assunto. Porque me interesso tanto em ajudá-lo? Em querer entender o que ele está passando? Não entendo essa necessidade de me aproximar dele. Só sinto que eu preciso disso.

Achei engraçado seu olhar desconfiado das minhas ações de hoje. Deu até vontade de rir, mas precisei me controlar, senão ia achar que eu zombava dele. Eu sabia que eu estava chocando-o, mas essa era a intenção. Precisava ganhar a atenção dele.

E tudo ia bem até quando saiu para almoçar com o médico brasileiro. E por lembrar-me dele sinto a necessidade de me abanar. Que homem lindo. Rodrigo Lancaster quase fez com que eu salivasse. O cara é lindo demais.

Quando chegou para a reunião marcada com meu chefe ranzinza, eu tive que me lembrar de manter a boca fechada para não babar descaradamente. Isso até eu receber um olhar de desaprovação do Dr. Liam e murchar imediatamente.

Quando Dr. Liam voltou do almoço foi que recebi o grande golpe que me tirou o ar. Primeiro, me surpreendeu quando questionou se eu tinha almoçado. Tenho certeza que olhei pra ele como se tivesse uma segunda cabeça. Eu não acreditava que ele se importou ao ponto de perguntar. Recuperei-me rapidamente quando vi suas feições de surpresa também.

Depois, fiquei assustada quando deu a notícia da viagem. Ainda bem que eu estava sentada, senão teria estatelado no chão. E ainda bem também que ele entrou rapidamente em sua sala, não percebendo minha falta de controle.

Precisei puxar longas respirações. Eu voltaria para o Brasil depois de ter praticamente fugido de lá?

Pesquisei na internet de onde o tal doutor Rodrigo era, pois só podia ser por causa desse médico brasileiro e sua visita, que estávamos indo pra lá. Descobri rapidamente que morava e cuidava de um hospital em Minas Gerais.

Suspirei um pouco aliviada. Minas Gerais. Era um alívio em parte. Eu não chegaria perto de Daniel já que ele morava em Goiás. Mas, continuei nervosa, alerta e assustada o resto do dia.

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— Para o Brasil?

— Sim.

— Com o Dr. Parker? — Tamara perguntou, seus olhos arregalados.

— Sim, Tamy. E pare de fazer essa cara — falei, olhando a nossa volta. — Vai chamar a atenção!

— Desculpe, mas é uma notícia tão inesperada. É só que... Uau! — falou, por fim.

Uau mesmo. Eu ainda estava tentando aceitar o fato de que voltaria para o Brasil. Lugar que eu pensei não voltar tão cedo. Que em breve, poucos quilômetros me afastariam do homem que mais amei nessa vida.

Minha Tentação - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora