Capítulo 6

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Pronto! Bastou ouvirem o temido nome da boca de Dara que o falatório aumentou de imediato. Um disse: "Então é mesmo ela! Bem que o Josef, o cocheiro, comentou sobre a jovem dos cabelos cor de fogo que ele teve que levar até a mansão"; "Sim, sim, eu também soube!", outro concordou. Tamanha intromissão deixou a moça indignada!

— Ai, mas que cocheiro fofoqueiro! E ainda por cima, mentiroso. Ele não me levou até a mansão coisa nenhuma, só foi até o portão, e como suponho que todos aqui já saibam — e olhou para cada um dos curiosos à sua volta — desde o portão até a entrada do lar dos Winks há uma distância mais do que considerável, e eu tive que subir sozinha! Aquele medroso, nem pra me ajudar...

O burburinho foi crescendo em torno dela. Aos olhares curiosos e de espanto, somaram-se dezenas de bocas com intermináveis perguntas:

— E o que faz lá? — indagou um senhor de barba branca, que se apoiava numa bengala desgastada.

— Também é uma Wi... Win... Winks?! — o medo de mencionar o nome "amaldiçoado" fez uma mulher gaguejar.

— Já testemunhou alguma assombração por lá? — foi a vez do cismado escrivão de polícia; que pouco antes tomava uma cerveja no bar, pois encontrava-se de folga justamente naquele dia; questionar.

— É verdade que os móveis voam? — um garoto franzino, com ar de sapeca, perguntou com entusiasmo.

Dara; sentindo-se pressionada; acabou explodindo:

— Chega! Calem-se todos! Não responderei a nada do que me perguntaram nem do que, por ventura, venham me perguntar! Não tenho obrigação de dar qualquer tipo de informação a quem quer que seja.

— Ora, não pode fazer isso conosco! Precisamos saber! — reclamou o barbeiro, incitando os demais.

— "Precisam saber?" E do que eu preciso, ninguém deseja saber?! — todos a olhavam em expectativa, refletindo sobre o que ela poderia estar precisando — Eu preciso de um pouco de cavalheirismo! Qual dos senhores me fará a gentileza de levar o meu cesto?

Todos se entreolharam e recuaram. O primeiro nome cogitado foi o do corajoso e destemido cocheiro Josef, afinal, ele já havia estado lá, tão perto do refúgio dos Winks... Porém o homem não encontrava-se na cidade naquele dia: saíra em viagem na véspera. Em meio à total ausência de iniciativa, um segundo nome surgiu, já com justificativa e tudo, quase uma intimação.

— Quem deve levar é o Philip, pois foi na banca dele que ela fez as compras.

Um grupo de homens puxou Philip a um canto para falar-lhe rapidamente, tentando convencê-lo, enquanto sua mãe protestava a plenos pulmões:

— Não! O meu filhinho não vai seguir pela estrada na companhia dessa forasteira; que pode muito bem ser uma bruxa; até aquela mansão mal assombrada! Ah, não mesmo!

Envergonhado, Philip rebateu, entredentes:

— Mamãe, eu já sou um homem.

— Pois se ele não é capaz de me fazer esse favor, eu é que nunca mais compro aqui!

Dara ergueu o queixo, estufou o peito e com esforço, suspendeu o cesto com as duas mãos, à frente do corpo. Distanciou-se apenas algumas poucas passadas quando foi detida por uma mão, que segurou-lhe um dos braços:

— Espere, eu a acompanharei! — contrariando a mãe e para espanto da maioria,Philip aceitou ajudar a ruiva à levar o cesto até o tão temido endereço.

O Fantasma de Lockwood (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora