VINTE E QUATRO

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Ela cheirava a um rastro de terra e a algum perfume cítrico que já era característico dela, que por sinal eu adorava

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Ela cheirava a um rastro de terra e a algum perfume cítrico que já era característico dela, que por sinal eu adorava. O carro estava impregnado com o seu odor viciante. A garota começou a retirar suas botas enquanto resmungava baixinho da dor que sentia em um dos seus tornozelos. Com as mãos, a Hamilton massageou a região dolorida por cima da meia de cano alto preta que usava.

Estar sozinho com Dasha sempre me trazia uma sensação sufocante, pois eu sabia que não conseguia ficar confortável e ser cem por cento eu mesmo enquanto estivesse com ela. E como se não fosse o bastante todo o desconforto, eu ainda tinha que ter memórias dos nossos beijos, os quais estavam ocorrendo com uma frequência maior do que eu imaginava. Tentei ignorar essas lembranças enquanto dirigia em direção à delegacia de San Diego, quando tudo o que eu gostaria de estar fazendo naquele momento era encontrar Henry e dar a lição que ele merece.

- Sério, você deveria ter me deixado ir dar uma surra no Collerman. - Comento depois de um longo tempo em silêncio.

Dasha me olhou com um olhar tão abalado e exausto que me fez sentir uma imensa vontade de tomar o caminho de volta para aquela festa, a fim de fazer Henry se arrepender do que ele havia feito para ela. Apertei com força o volante para tentar suprimir de alguma forma a raiva que eu estava sentindo. Depois ela se encostou no assento do banco do carro e com um suspiro me olhou e disse:

- De fato eu deveria, mas não iria adiantar em nada. Só iria gerar mais confusão e dor de cabeça. 

Ela permaneceu me olhando e, se não fosse pelo fato de estar dirigindo,  eu não deixaria de olhar para ela tão cedo. Dasha era linda, isso é algo inegável. E ali, naquele exato momento, eu sentia que ela havia ficado confortável e segura comigo, fazendo sentir-me daquela mesma forma - mesmo que a alguns segundos atrás eu tenha me identificado de maneira completamente oposta.

- Pelo menos ele iria ficar com a cara arrebentada. - Falei olhando para a estrada como se aquilo fosse justificativa o suficiente e dei de ombros. Do canto do olho eu vi Dasha sorrir.

- Essa imagem na minha cabeça é muito satisfatória. Mas não me faça voltar atrás com a minha decisão. - Rebateu olhando para frente, provavelmente imaginando como seria agradável ver Henry Collerman com a cara fodida, e eu sorri.

- Mas é exatamente isso o que eu quero. - E eu realmente gostaria de dar a lição que Henry merecia. Ele havia passado completamente dos limites e, se eu havia o influenciado a ter pensamentos e atitudes próprias que machucassem Dasha, eu me arrependia profundamente disso e irei fazer de tudo para que ele pare de uma vez por todas com essa palhaçada, assim como eu decidi a um tempo que o que eu estava fazendo era pura tolice. Eu estava determinado a fazer mais coisas boas por ela para encobrir as ruins, a partir de agora.

- Eu só espero que ele não tenha pegado o meu celular. - Ela comentou depois de alguns minutos em silêncio.

- O seu celular tá naquela mata? - Perguntei e ela afirmou ao balançar a cabeça.

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