Capítulo 1 - Cruel

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Edimburgo, 02 de janeiro de 1758

Era mais uma noite de jogos, bebidas, danças e meu esporte favorito, conquistas. Como um dos maiores partidos de Edimburgo não ficaria a mercê de diversões unicamente masculinas. Ocasionalmente, eu me via necessitado do calor de um corpo feminino.

Caminhei para fora da mansão e segui para a carruagem, enquanto observava a movimentação das pessoas nas ruas, eu tentava assumir minha postura. Não queria deixar que coisas triviais revelassem minhas fraquezas.

Assim que chegamos a Ailein House. Eu não gostava particularmente de nenhuma reunião de pessoas nobres. Mesmo que isto me desse a oportunidade de desonrar uma ou duas jovens ladies desesperadas por um casamento vantajoso, essas diversões triviais vão ficando cada dia menos interessantes.

Caminhei para a porta e cumprimentei o barão e a baronesa. A mulher sorriu e o homem me estudou desconfiado.

— É sempre um prazer ser recebido em suas reuniões Sr. e Sra. Duncan — comentei em tom cordial.

— Sr. Hunter, é sempre bom revê-lo. Os jovens já estão lá dentro — a baronesa convida-me a entrar.

Faço uma reverência curta e caminho para dentro. Quando chego ao salão de bailes, avisto alguns rostos conhecidos, muitos se viram para me olhar entrando. Minhas roupas completamente pretas costumavam atrair atenção em qualquer ocasião.

— Alec — Errol Shaw meu melhor amigo.

Caminhei em sua direção e vi a jovem com quem ele falava se afastando. Eu dei a ela um sorriso de canto quando notei seu olhar e exibiu uma máscara de desaprovação. Tínhamos dormido juntos em minha casa certa vez, mas ela não gostou do fato de que eu não pretendia me casar com ela.

— Errol... Não o vejo desde o jogo em que o massacrei — comento. — Ainda estou esperando que me pague a aposta.

— Considere paga, uma vez que afugentasses minha companheira — ele comentou e ergui uma sobrancelha sem lhe dizer qualquer coisa.

Errol sabia muito ao meu respeito, talvez fosse a pessoa viva que melhor me conhecesse no mundo, mas não sabia tudo. Apesar de tudo que faço, meu lema é sempre que o que acontece na privacidade de um quarto deve permanecer lá. Mesmo quando lhe conto de minhas aventuras, nunca cito nomes e ele nunca questiona.

— Você consegue outra rapidamente — aviso.

Encarei o salão cheio e as danças que se iniciavam. Vasculhei as moças sem par que esperavam ser convidadas a dançar, Errol logo foi atrás de sua acompanhante enquanto eu permanecia observando aquelas com quem já tive contato e as que poderiam despertar meu interesse.

Afastada das desesperadas estava uma jovem com um cálice em suas mãos, ela tinha os cabelos ruivos e usava um vestido verde que parecia destacar seus olhos. Me aproximei dela que ergueu o rosto para me encarar, os lábios rubros me atraíram a atenção e eu quis desesperadamente provar aqueles lábios.

Ela curvou a cabeça em um cumprimento simples e voltou os olhos para o meu rosto. Havia dois tipos de mulheres na sociedade de Edimburgo, àquelas que me odiavam (com as quais já me envolvi) e àquelas que me olhavam como se eu fosse uma fortuna diante delas. Esta me olhava com curiosidade contida.

— Gostaria de dançar? — convido.

— Desculpe-me milorde, mas eu não danço muito bem. Acredito que o senhor apreciará melhor outra acompanhante — retrucou.

— Eu realmente gostaria de dançar com a senhorita — tento convencê-la.

Ela suspira e repousa o cálice sobre a mesa antes de segurar minha mão e me acompanhar para uma dança. Nos cumprimentamos e começamos a seguir os passos, a ruiva não me olhava como antes, ela observava o modo como os demais nos encaravam.

O Outro CondeOnde histórias criam vida. Descubra agora