Prólogo

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A chuva estava fazendo um barulho de trovão na janela de Wendy, afogando os gritos de dor por dar à luz pela primeira vez.

Ela tem 18 anos, seu rosto ainda novo e bonito, juventude correndo em suas veias, fazendo suas bochechas e testa vermelhas como vinho da Borgonha.

Ela expira, seus gritos de dor tão altos que ela pensa poder quebrar suas cordas vocais. Ela está morrendo, não há outra explicação para este horror.

Sua parteira segura sua mão, a dizendo que deve empurrar mais forte, para respirar mais devagar. Wendy quer arrancar a mão da mulher de seu braço e afundar seus dentes em sua carne para acalmar seu choro.

Mas não é assim que uma dama se comporta.

Outro uivo e um entusiasmado, quase histérico, choro a deixa saber que agora a cabeça de seu filho está visível.

"Mais forte, madame"

Wendy está gritando, sua garganta ferozmente avermelhada conforme a criança deixa seu corpo, como um demônio depois de um exorcismo.

Ele está coberto de sangue e cheira tão mal que Wendy sente vontade de vomitar.

E ela vomita.

Então ela dá uma boa olhada na criança e se sente abençoada.

É um menino.

O primeiro garoto da família Urrea. Wendy foi bem-sucedida onde seu irmão Cygnus falhou. Ela está segurando em seus braços o herdeiro de sua fortuna, ela está segurando sua vitória sobre seu irmão insignificante e sua esposa patética.

É um menino, e ele já se parece tanto com seu pai. O mesmo nariz, o mesmo queixo. Isso é bom, aprecia Wendy, se ele se parece com Marco ninguém será capaz de duvidar de suas origens e seu sangue.

Os rumores sobre os casos de Wendy finalmente irão ter fim.

O bebê chora, sua voz acabando com a paciência de Wendy, ela não quer mais segurar ele, então ela o solta nos braços da cuidadora.

Ela não tem tempo para a pequena coisa chorosa e suas fraudas fedidas. Seu filho será criado pelos melhores tutores da França e cuidado pelas suas empregadas. Ela não tem a menor intenção de fazer parte da vida da criança.

Assim que uma empregada limpa suas meias manchadas de sangue e a veste de uma camisola mais adequada, Wendy chama pelo seu marido.

É seu dever apresentar seu filho para seu marido.

Marco entra na sala com decadência, uma taça de vinho em sua mão esquerda e um sorriso alegre preso em seu rosto pálido.

Ele poderia fazer qualquer um acreditar que ele é feliz.

Ele senta próximo a sua esposa e beija sua mão suavemente enquanto ela lhe mostra seu filho, ainda nos braços da cuidadora.

Marco é bom em fingir felicidade e amor, acariciando a bochecha de seu filho enquanto olha amorosamente para sua esposa.

Que bela mentira.

A casa dos Urrea é governada por mentiras sofisticadas. O tipo de mentira que sufocaria qualquer tipo de ser moral. Mas para os Urrea, é por esse tipo de mentira que eles acordam todos os dias.

Wendy odeia seu marido. Tanto quanto ele odeia ela.

O amor deles é um simples negócio arranjado para manter sua riqueza e nome.

Toujours pur. Disse a mãe de Wendy. Sempre puros e sempre infelizes.

Mas infelicidade é necessária quando você quer ser alguém nesse mundo. Nenhum homem feliz sobrevive, homens felizes são coisas imundas que esquecem qual é o verdadeiro significado da vida.

Marco deixa a sala com metade de sua taça vazia, álcool virá a ser necessário essa noite quando ele contar mentiras com sua esposa na cama em que compartilham.

Wendy bebe a água que estavam lhe dando, então decide dispensar suas empregadas. Ela já teve publico o suficiente para o dia.

Ela está cansada.

Seus olhos se fecham antes mesmo que ela os ordene a fazer isso, e ela lentamente deriva nos véus do sono enquanto seu filho é levado pela cuidadora.

Ela não cuidará dele na manhã seguinte. Deixará sua educação inteira nas mãos de pessoas que ela mal confia, porque ela não pode olhar para o rosto dele de novo.

Ela odeia o seu marido.

E ela odeia esse filho que se parece tanto com o pai.

——

~Ana Clara ✨

Royals {Nosh}Where stories live. Discover now