Prólogo

7.5K 379 59
                                    

Desculpe Senhorita, mas terá que sair dessa casa...” As palavras do corretor de imóveis ecoavam pela minha mente e se misturavam com as do médico que ficou responsável pelos meus pais no dia do acidente “Sinto muito Natasha, mas seus pais não sobreviveram...”.

Minha vida estava acabada, eu estava acabada, não tinha mais casa, não tinha mais ninguém, não tinha mais nada... Nem dignidade.

Há setenta e duas horas havia recebido a pior notícia de toda a minha vida, meus pais foram vitimas de um fatal acidente de carro. Eles haviam saído para uma viagem de trabalho em Nova Jersey, era uma coisa rápida e iriam num dia para voltar no outro. Mas eles nunca voltaram e eu estava completamente sozinha no mundo...

Como se já não bastasse, dois dias depois dessa noticia, fui procurada pelo o advogado da família. Meus pais estavam com uma grande dívida e nossas contas bancarias estavam negativas então o único bem que sobrou em nosso nome foi nossa casa... A dívida era extremamente alta e nem que eu trabalhasse minha vida inteira iria conseguir pagar, nem a poupança que meus pais tinham guardado para os meus estudos e um futuro carro era suficiente para cobrir tudo aquilo. A única escolha, escolha não, saída, era entregar a casa onde eu morava.

E ali estava eu, andando no centro de Nova Iorque, totalmente sem rumo. Já era noite e eu tinha passado a tarde inteira procurando um emprego mas não era aceita em lugar nenhum. Lanchonete, botecos, lojas, super mercados, ninguém me queria... Eles diziam que era nova demais para trabalhar e quando explicava minha situação, os donos dos recintos me mandavam tentar seguir uma carreira de atriz ou escritora por conseguir “criar” uma historia dessas e conseguir “atuá-la” tão perfeitamente.

Eu estava exausta de tanto andar, tinha a impressão de que meu sangue não circulava por todo meu corpo devido ao frio que estava sentindo e aquele vento de inicio de inverno batendo em meu rosto banhado de lágrimas não cooperava em nada. Era noite, as ruas estavam vazias, nem carros mais passavam pelas ruas, o comercio já estava todo fechado e eu era a única a insana a vagar sozinha pelas calçadas naquele horário. Pela falta de movimentação eu deveria estar em algum bairro muito longe do centro porque aquilo estava longe de ser “a cidade que nunca dormia”.

Eu já não tinha mais nada... Só a certeza de que em quarenta e oito horas iria ser despachada de minha casa e se não arrumasse lugar para morar estaria de baixo da ponte ou indo no central park.

Minhas pernas começaram a ceder me fazendo não me deixando escolhas a não ser me sentar em um banco mais próximo. Meu corpo padeceu e eu adormeci ali, apenas esperando a morte chegar, ou talvez, um milagre...

Já estava ali há muitos minutos quando dedos longos e finos acariciaram meus cabelos me despertando. Aquilo só poderia ser uma brincadeira de mau gosto, o jeito que mexiam em meus fios era exatamente como minha mãe costumava a fazer quando eu pedia consolo... Meu peito doeu de saudades...

Era um carinho gostoso e acolhedor mas por mais que a sensação fosse ótima eu não sabia de onde vinha tal toque e por isso me levantei assustada.

– O que uma garota como você faz aqui sozinha? – Uma voz doce falou comigo assim que levantei minha cabeça para encará-la. A dona do carinho reconfortante era muito jovem e bonita, tinha longos cabelos castanhos um tanto ondulados que molduravam perfeitamente seu rosto fino, seus lábios estavam bem marcados por um batom vermelho vívido e seus olhos por uma maquiagem preta e bem feita.

A forma que ela falou comigo me assustou um pouco e eu me esquivei.

– Hey, não precisa ter medo de mim...

– Quem é você? – Forcei minha voz mas ela saiu como um sussurro.

– Meu nome é Melina... – Sorriu amigavelmente. – E o seu?

– Natasha.

– E então Natasha, não vai me dizer por que está aqui as duas da manhã nesse frio? – Meus olhos se encheram de lágrimas novamente e pelo canto de meus olhos elas transbordaram.

– Eu não tenho mais nada... – Suspirei. – Não tenho nem pai, nem mãe e nem casa para morar... –

– Foi o que eu imaginei... – Pegou minha mão. – Tenho uma proposta para você, querida. – Começou. – Já vou avisando que não é algo muito digno mas pelo menos terá uma casa pra morar, comida e um trabalho... – Cerrei meus olhos, desconfiada. Era um milagre, só podia ser. – Venha, vou te levar até um lugar e no caminho faço minha proposta. – Eu assenti. Ela não poderia ser capaz de me fazer mal, estava me oferecendo abrigo e isso era a única coisa que eu precisava, e afinal, o que ela iria conseguir tirar de mim? Eu já não tinha nada.

Melina era responsável por uma casa de prostituição em SoHo (Sul de Houston), um bairro em Manhattan, um dos mais bem conceituados da região e ela queria que eu fosse uma de suas garotas. No caminho ela me explicou como tudo funcionava, o que e como deveria trabalhar, quanto iria receber e como seria minha vida se eu aceitasse...

A proposta era extremamente assustadora, eu nunca em hipótese alguma tinha pensado em ser prostituta, nunca nem se quer havia cogitado isso, e ali estava eu, aos meus dezesseis anos de frente com uma cafetina que me queria em sua casa de prostituição. Não fazia nem ideia de como funcionava tudo aquilo e nem experiência no assunto eu tinha, ainda era virgem e era uma negação quando o assunto era sexo ou homens. Mas eu não tinha escolha...

Depois de uma viagem longa chegamos a uma até então boate, na frente dela havia vários carros luxuosos estacionados e eu conseguia ouvir as batidas da musica lá de dentro. A fachada era vermelha e luzes coloridas e fortes marcavam o nome do lugar; SoHo Dolls, que era acompanhado com o desenho de uma taça de martini.

– Natasha, não precisa me responder hoje... – Melina falou ao perceber o pavor em meus olhos. – Eu te dou uma semana para pensar, ok? Enquanto isso você pode ficar aqui apenas conhecendo, pode descer e ver como são as noites para ter certeza do que é isso que quer mesmo. – Pegou minha mão e fez um carinho ali. – O que acha de entrarmos e você comer alguma coisa, tomar um banho quente e descansar? Amanhã voltamos a conversar...

Essa não era a vida que eu queria para mim, não queria vender meu corpo para sobreviver mas parecia que eu não tinha escolha. Meu sonho era entrar em uma faculdade e me formar, ser bem sucedida e reconhecida pelo meu trabalho e tudo isso tinha ido por água a baixo. Melina tinha me oferecido tudo que eu precisava, abrigo e emprego... Eu não tinha outra opção a não ser aceitar ou morrer de fome.

Soho Dolls - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora