O dia mais esperado e perfeito da minha vida: o dia do meu casamento. Leo é um homem lindo, jovem, mas muito responsável e com uma carreira brilhante na empresa da família.
Quando entro na igreja de braços dados com meu pai, o vejo todo lindo naquele terno cinza. Os padrinhos alinhados olhando para mim, o casal de crianças que andava a minha frente, como um mini casal de noivos e a igreja muito cheia. Toda a alta sociedade estava presente, nosso casamento era uma acontecimento digno de ser relatado nas colunas sociais de jornais e revistas. O casamento dos filhos dos maiores empresários do país.
Eu, na verdade, não ligava muito para tudo aquilo, eu tinha meu refúgio que era o balé, como eu adorava dançar! A música clássica me fazia flutuar, e eu realmente me sentia flutuando quando estava dançando. Mas neste momento eu até que estava gostando de toda a pompa, meu vestido parecia o de uma princesa, meu futuro marido parecia um lindo príncipe à espera de sua amada, e ter todos ali testemunhando a nossa união, era maravilhoso. Que espalhassem que este homem tem dona e se chama Rebeca.
Tudo muito lindo, muito maravilhoso, um verdadeiro sonho. Uma cerimônia grandiosa, uma festa deslumbrante e uma lua de mel inesquecível em Paris, a viagem dos apaixonados. Mas um pedacinho do meu sonho perdeu o brilho um mês depois de casarmos. Foi a primeira conversa que tive com meu marido que me deixou triste:
— Amor, você não precisa disso! – Ele disse.
— Preciso, Leo. Você nunca reclamou antes.
— Antes não era minha mulher.
— Mas que diferença isso faz? Eu tenho uma carreira de bailarina, você sabe muito bem, foi me assistir diversas vezes...
— Eu sei, meu bem, mas entenda que agora é diferente. – Ele se sentou na poltrona onde tínhamos estado momentos antes, nos amando, e bateu em seu colo. Eu me aproximei e me sentei. – Você agora é uma mulher casada, deve ficar em casa e cuidar dela, zelar do que é nosso, e quando vierem nossos filhos? Você precisa estar aqui por eles, é seu dever de esposa e mãe. Meu dever de marido e pai é mantê-los, e eu trabalho muito para isso.
— Eu sei, meu amor, mas é que amo dançar...
— Já sei... – Ele disse como se tivesse achado a solução perfeita. – Crie um estúdio de dança pra você aqui em casa, dance, faça seus exercícios, chame suas amigas... eu pago tudo, compro tudo que precisar...
Meu coração bobo até se alegrou por um instante.
— Poderei dar aulas, mesmo que não me apresente mais, mas meus alunos apresentarão por mim, apresentarão minhas composições...
— Querida, acho que não entendeu. Crie um estúdio para você, para uso seu, não quero estranhos na nossa casa.
— Mas... – A decepção retornou.
— Não fique assim, logo se acostuma e encontra novas ocupações. – Ele me beijou e eu é claro me entreguei a seu beijo. – E logo virão nossos filhos, encheremos a casa de crianças.
— Não! Muitos não, dois, dois está ótimo. – Ele tinha conseguido desviar o assunto, mas de qualquer jeito, sua palavra final era aquela.
— Tudo bem, amor, dois, então. Um casal?
— Isso só Deus sabe!
— Um casal, então, e será uma menina primeiro e depois um menino, pra fechar com chave de ouro.
— Uma menina também fecharia com chave de ouro! – Protestei.
— É claro, meu amor, eu só estou brincando.
E o cretino quase acertou, tivemos um casal, mas ele errou na ordem das crianças. Primeiro nasceu Fabrício, quase no dia do meu aniversário de um ano de casamento e depois nasceu Elisa, um ano e seis meses depois. Eu achei que ficaria louca com dois bebês, se não fosse as babás que me ajudavam eu acho que teria ficado. Leonardo a cada ano que passava se afastava mais, fazia viagens demoradas, mas sempre trazia presentes.
— Você demorou muito desta vez, amor. Binho fez uma apresentação de dia do trabalho e ele queria que você fosse falar de negócios e eu tive que falar de balé em seu lugar, acho que ele não gostou muito.
— Sua profissão era linda, meu amor, Lisa poderia seguir seus passos. – Eu sorri pensando em meu pequeno furacão como bailarina.
— Não foge da pergunta, Leo, por que demorou tanto?
— Já te disse, meu bem, tínhamos um contrato importante e a oportunidade surgiu quando eu estava para voltar para casa, tive que ficar pelo bem dos negócios, mas é claro que lembrei da minha linda esposa. – Ele tirou uma caixa de sua mala. Tinha um laço prateado em cima, eu sabia o que tinha ali: mais um conjunto de joias. Meu cofre já estava cheio.
Abri a caixa e não deu outra: era um colar de ametista com diamantes, era a coisa mais linda. Os brincos e pulseiras acompanhando o colar, além de um anel, com uma ametista bem moldada no centro.
— Obrigada! – Disse o abraçando. – Mas queria mais a sua presença em casa.
— Sabe que não é assim, mas vou tentar, tá bom? Prometo! – Ele me deu um selinho e continuou. – Temos um coquetel amanhã às 20h, seria um bom momento para usar suas joias novas. Quer um vestido novo? Pra combinar com as joias? Chame uma miga para ir com você... – Ele tagarelava, provavelmente para me inibir de continuar com aquele assunto, era sempre assim: ele seguia falando e falando, e então pegava dois copos de bebida, e me oferecia uma e então bebíamos, depois acabávamos no quarto e o assunto morria.
No dia seguinte, no coquetel, eu o acompanhava para qualquer lado que ele ia, sempre o acompanhando e sorrindo para as pessoas, sem entender metade do que elas falavam. O assunto sempre era os negócios, e isso é um assunto que eu não entendia uma única virgula. Sua mão sempre na minha lombar, e a outra com um drink. O sorriso que eu julgava falso, de seus amigos e seu também, estampava no rosto. Definitivamente, o mundo dos negócios não serve para mim, por isso me sentia penas como um troféu sendo arrastado para todo lado, como algo a se mostrar para os outros. Ele falava de nossos filhos com orgulho, principalmente de Fabrício, dizendo que assim como ele tinha ficado no lugar de seu pai, o garoto ficaria em seu lugar no futuro. No final sempre tinham os jornalistas esperando por uma boa foto, e nós posávamos.
Em todos os eventos sociais era assim. Os anos se passavam e as coisas nunca mudavam, não para melhor, pelo menos. Os eventos sociais agora eram mais raros, pelo menos aqui no país, ele passava meses fora de casa, e quando voltava era quase como se estivesse recebendo um estranho. Tudo entre nós esfriou, e embora ele jurasse que não tinha uma amante, eu desconfiava. Um homem de 50 anos não está tão velho a ponto de não querer ter relação com nenhuma mulher, assim como eu, uma mulher com 45 anos, adoraria ter meu marido mais presente, e uma vida sexual ativa.
Me sentia carente, todo homem bonito eu suspirava, mas me pegava pensando se não estava pecando. A ausência dele era sufocada pela presença agitada das crianças, mas agora Fabrício tinha 24 anos e estava há quase dois anos na faculdade. Sim, ele está atrasado assim como Elisa, ambos quiseram aproveitar alguns anos de viagem pelo mundo antes de se trancarem na faculdade, eles falavam como se fosse uma prisão.
Agora minha menininha, minha caçula, minha gatinha que amava andar de vestido rosa e os cabelos com longas tranças douradas, agora já é uma mulher, viajou o mundo como queria e vai para a faculdade também, e eu como ficarei?
Sozinha.
************* ********* ***************
Olá! Bem vindo (a) a mais um romance de minha autoria. O que achou do prólogo?
Se gostou não se esqueça do votinho!
Postagens todo domingo!
26/04/2020
Atualizado em 13/09/2020
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nem tudo são joias (DEGUSTAÇÃO)
RomansaRebeca é uma mulher rica que tem tudo menos amor.