Noah Urrea.
Headland, Alabama | 1996.Está quase anoitecendo. O sol engole os gramados da região e esquentam ceticamente as pessoas que desfilam de um lado para o outro. Cego pelo meu próprio ego, continuo segurando com os punhos fechados o peso da guitarra, entre os dedos frios que tentam evitar o movimento bambo que as pernas dão a caminho do palco.
Fogos de artifício, as risadas que circulam com aptidão a brisa forte da cidade. Vejo quando a multidão se arrasta até o outro lado. Os passos incoerentes e impulsivos das crianças, algodão doce cor de rosa, maçã do amor, e cachorro-quente.
— Nervoso? - Ryan tem suas mãos em meus ombros, o baixo pendurado nas costas — Eu estou tremendo.
— Um pouco. - minha voz dispara.
— Vai dar tudo certo. - Zoe tem total controle de suas emoções. Ela balança seus compridos cabelos platinados e rebola enquanto anda, apenas muito apressada — Vocês não vem?
Meus olhos giram por todo o globo, caindo freneticamente à garota que se interpõe diante do discurso de ódio, feito pela expressão que veio como resultado de seu sorriso meio singular, meio comum.
Ela estica o braço, arrastando com delicadeza o panfleto acinzentado que segura entre os dois primeiros dedos. Meu olhar duro cai pelo corpo dela, cegando com rapidez, até deixar o clarão do fraco raio solar vir como uma grande bola de luz sobre o rosto da garota.
Eu pego de sua mão o papel que há muito tempo pareceu uma divindade. Dentro de sete segundos parado, passando os olhos carregados de expectativas por cima das palavras em destaque na primeira linha, meu sangue drena na cabeça.
Dando um único passo, aperto o panfleto com as duas mãos para que assim arremessá-lo até o outro lado seja possível. No entanto, a ventania de agora o traz de volta, chegando aos pés trêmulos e juntos da garota. Ela fica cabisbaixa, mas prossigo. No terceiro passo, meu corpo está imobilizado.
— Ei! - viro a cabeça para trás, sentindo-me instigado pelo momento — Por que fez isso?
— O que eu fiz? - o corpo da guitarra parece fazer minhas mãos latejarem, embora o contato não seja um todo preciso ou intenso.
— Você amassou e jogou fora. - ela agarra o panfleto e, com cuidado, passa os dedos sobre ele, tentando se livrar do estrago feito agora há pouco.
Resmunga, então, de cabeça baixa.
— Bem, eu não estou interessado em ir a sua igreja. Pensei que isso tivesse ficado claro no minuto em que me livrei dessa coisa boba.
Os olhos verdes e pequenos crescem no rosto pálido que ela tem. A boca despenca sobre o queixo enquanto os lábios ficam rapidamente secos, deixando a respiração fluir através deles.
— Coisa boba? - a garota bate um dos pés na grama. Ryan e Zoe retornam. Eles pararam ao meu lado e espionam os movimentos indecisos que dou diante daquele mar confuso que se parte nos olhos dela — Você poderia ter recusado. Ou, sei lá, me esperado virar de costas para poder se livrar dele. Foi tão insensível da sua parte.
— Oh, loira, eu fui muito legal com você. Talvez até mesmo educado. Mas para ser honesto, só peguei essa coisa porque te achei gata. - a risadinha que dou parece deixá-la fortemente irritada.
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Genesis - Noart
Fanfic[CONCLUÍDA] Desde o início, Noah precisou se virar sozinho, utilizando o lado gelado de sua personalidade a seu completo favor. Guitarrista de uma banda montada por alguns amigos de infância, ele não tinha o dom maquiavélico de uma pessoa ruim, poré...