Noah Urrea.
O errado em mim parece chamar sua atenção, por isso seus olhos correm pelo jeans e a camiseta branca. Nada colabora com a minha saúde mental, nem mesmo a tremedeira que acontece em minhas pernas. São como geleias.
Tento despejar palavras que no mínimo amoleçam o rosto que ele tem, carregando um ar de superioridade indiscutível, uma condição. Mas assisto um fogo começar dentro de mim, e eu posso senti-lo ir e voltar.
Quero fazer tudo outra vez. Quero aquele momento de volta. Preciso respirar, sentir sua voz familiar soando de novo, pois nem mesmo o carinho de seus dedos conforta a combustão que segue pelo meu corpo. Desejo seguir desfazendo as ondas de indiferença que criei a caminho daqui, algo que nunca fiz antes, mas que carrego por gostar de estar no controle. Teimo, mas acabo sentindo sensações inéditas até o fim daquele minuto.
— É um prazer, Noah. — se trata da voz alta e meio ressentida do pai de Sina que me puxa e me arrasta para fora daquele devaneio.
Perto dela, tudo parece melhor. Eu sei que sim, por isso meus olhos escapam para as bordas à procura de seu olhar bondoso, que sempre foi suficiente para mim.
— O prazer é meu, reverendo. — estico a mão. Ele a agarra sem hesitar, embora encare ceticamente os desenhos que tenho nos braços. Os olhos dele sobem e descem, continuamente.
Sinto-me um maluco da cabeça quando Alex fica gelada em um mesmo canto. Olhá-la me entristece, querendo que as coisas sejam diferentes.
A casa de Sina me parece maior e mais intimidadora. A ventania que invade as paredes pelas brechas nas janelas me torna frio como uma pedra, embora às vezes eu consiga suar. E levo um tempo para absorver o que está acontecendo de verdade. Tudo fica azul, e o sentimento de tristeza profunda pendura-se em meus ombros quando tento caminhar. Sina mantém uma distância segura.
Se alguma palavra, no entanto, bastasse, nenhuma atitude seria necessária. Eu sei disso quando estou ao lado de Sina e de frente para sua mãe, sob a luminária da cozinha e cercado por um cheiro forte de comida. Eu quero me afastar, mas decido que ficar distante e tirar tudo da cabeça só vai piorar a situação.
A mão dela vem devagarinho. Ela acaricia minha perna como se aquecesse minha alma, e garanto, com muita calma, que isso tornou quente o meu coração.
É mesmo ela.
Melhor que nicotina e cocaína.
Mexo o garfo sobre a comida, revirando os legumes e a carne branca à beira.
Sebastian me pega distraído. Ele respira, pergunta e espera. Demoro quase dois minutos para formular as palavras dentro da minha cabeça. Vou erguendo o rosto e torcendo para que a voz saia com facilidade. Parece uma das minhas manhãs mais angustiantes. A pressão é intensa demais.
Os olhos tremem assistindo suas rugas crescendo nas têmporas.
— Quem é você, rapaz? — pisco nervosamente, sentindo meu coração disparar.
Quem sou eu?
Eu sou o que sou. Nenhuma alma formidável, nenhum corpo especial. Nada com o qual alguém deveria se preocupar.
— Noah. — Sebastian refaz seus pensamentos — Noah Urrea. — e me deixa pensando.
— O que você faz?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Genesis - Noart
Fiksi Penggemar[CONCLUÍDA] Desde o início, Noah precisou se virar sozinho, utilizando o lado gelado de sua personalidade a seu completo favor. Guitarrista de uma banda montada por alguns amigos de infância, ele não tinha o dom maquiavélico de uma pessoa ruim, poré...