36. Por ela eu sangraria até a morte.

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Noah Urrea.

Um ponto importante: eu estou fodido pra caralho. E, sobretudo, não consigo mexer os meus braços. Percebo o que aconteceu quando já não penso mais no vazio, naquele grande vazio que costuma me engolir. Eu penso somente no meu amor. Ela me deixou aqui? Quero correr para o lado de fora.

— Ei! — exclama o homem próximo à janela, a barba mal feita e um olhar acabado — Nada de se esforçar demais. Você acabou de sofrer um acidente.

— Cadê a Sina? — pergunto, meus olhos transitam pelo quarto. É tudo branco e quieto.

— A mocinha que se acidentou também? — desvio o olhar, ele sorri — Ela ficará bem.

— Eu preciso vê-la. — pego, com cuidado, o lençol que uma vez me protegeu do frio — Por favor. Eu estou bem. Só preciso ver a minha namorada.

O médico, eu presumi que fosse, estica sua mão até os olhos cansados e desliza seus óculos pela ponta de seu nariz, xeretando, então, minhas expressões preocupadas, que seguem daqui até o fim do quarto.

— Ela precisará de uma transfusão de sangue. — comenta, como quem não quer nada.

— Eu posso fazer isso. — ele percebe meu desespero e sorri — Meu tipo sanguíneo é O-.

— Maravilha! — exclama o mais velho, um pouco mais animado agora — Agora, busque descansar um pouco.

— Eu só quero que ela fique bem. Eu preciso que ela fique bem. — meus olhos, ainda baixados até as mangas da camiseta, transbordam uma tristeza inconfundível — Alguém veio me ver? — sorrateiro, ele me olha.

— Sua mãe está aqui. — diz — Ela supôs que você não fosse querer vê-la.

— Não quero. — olho para a direita, a paisagem por trás das janelas fechadas — Só ela?

— Seus amigos, eu acredito. — responde, apontando para a porta — Quer ver algum deles?

— Não, nenhum. — sussurro, mas não o bastante para intrigá-lo — Eu quero ver só a Sina.

— Bem, você receberá alta amanhã. Não fraturou nada, o que é esquisito, mas precisamos examiná-lo melhor. — diz o médico, chutando o chão enquanto anda até a porta — Eu os direi que você não quer ver ninguém. E, nesse caso, procure dormir um pouco.

Sinto como se fosse bem complicado para mim toda a situação.

Posso ouvir a voz de Wendy quando a porta é aberta com cautela, revelando uma sensação reconfortante na atmosfera. A fim de pensar menos, encosto a cabeça no travesseiro e procuro parar de pensar demais, acabar com a velocidade na qual meu cérebro trabalha. É tudo muito confuso e doído. Eu só quero que as coisas parem, que o mundo pare. Que tudo pare.

Mas, mesmo distante, parece que ela está bem aqui, não apenas na minha cabeça. E a facilidade que tenho de imaginar as coisas, de precipitar acontecimentos e inventar problemas é assustadora. Isso bagunça tudo dentro de mim e me ferra por uns bons momentos. Agora, só sinto vontade de vê-la.

Pela noite, Ryan aparece. Bem intimidado, o garoto vai se arrastando até a cama, sem antes me ouvir protestar, embora eu tenha aberto a boca três vezes e suspirado com muita delonga.

Genesis - NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora