Quasares

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Leitores/Anjos. Favoritem os capítulos que gostaram e comentem quando algo vier na mente. Isso me ajuda a continuar.●

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(Vou enumerar as palavras pouco conhecidas e deixar os sinônimos delas no final.)

Boa leitura anjo!

Abomináveis são os pilares constituídos da arquitetura morta, que arrisquei desenhar sobre a planta da medula centralizada aqui, no meu fim. Rabisco formas a lápis já prevendo como serão apagadas no futuro, porque sou um risco e então um borrão.

Não esqueço do quão covarde sou, estando ao seu lado no sofá assistindo uma das séries criminais nas quais é viciada. Minhas lumes acompanham os detetives, mas a mente estremece com a idéia de expor o que está aprisionado no íntimo. Quando fui ao psicólogo, minha madre assinou os documentos como responsável e adiantou a mesada para que eu mesmo pagasse, me deixando apenas com Taehyung para meu conforto.

É difícil entrever se haverá julgamentos ou pedidos de desistência, assim resolvi usar a impetuosidade extravagante para jogar palavras ao ar, sem esperar que alguém vá rebatê-las.

— A doutora Halley me encaminhou para a psiquiatria.

O anúncio soa repentino, perdendo apenas para o sorriso aberto nos lábios da mulher que se nega a desviar os olhos do ator bonitão na TV. Reflito o quanto aguardou pacientemente a abertura de minha psique sobre problemas sufocantes, que recusam minha súplica por oxigênio. 

Sou egocêntrico por concluir que existe um grande abismo entre nós, na divisa dos laços fraternais. Saturno é acolhido por seus anéis e quando há trevas em seu interior ele não tenta destruir os sedimentos que o embalam, sou tão cuidado quanto este planeta e mal agradecido como os que moram nos polos mas ignoram as auroras boreais.

Recapitulo as vezes em que Taehyung me socorreu. As conexões nervosas davam início a uma crise e cinco minutos depois ele estava lá, sem ser chamado ou alertado sobre as quatro paredes que eu destruía. Nunca questionou meu paradeiro, nunca deixou de me encontrar no início silencioso das crises. Algumas engrenagens cerebrais se encaixam e noto que ela também esperou a ocasião. Apesar de nossos diálogos curtos serem frequentes, meus desabafos rotineiros nunca foram.

Irene considera essencial que seu filho abra o coração, mesmo se não o fizer com ela.

Ela me ama,

Eu não sinto,

Mas seu sorriso é convincente.

Seus lábios retornam a uma linha suave e se pronunciam.

— Vou avisar o Taehyung.

O contato de Tae é novo e ela o tem salvo, pois foi quem o gritou todas as vezes ao escutar seu filhote fungando e esbofeteando as paredes. Me afastei em meus dias sórdidos¹, evitando o seu cansaço, pois sei que a vida já lhe rouba o fôlego.

Porventura, se tivesse depositado fé em quem me confiou a vida, teria sido socorrido. Interpreta-me habilmente, dolorosamente. Construí um baú solitário e infindável, onde enterrei sentimentos, pulsos mutilados, rastros de sangue, sons emitidos ao vomitar de madrugada, choro sentido, clamores. Tranquei cada faísca de dissabor² a sete chaves, e falhei miseravelmente. Posso enganar o universo inteiro, mas jamais cairei na própria mentira. Não estou irado com minha defensora, apenas decepcionado comigo. A obrigação pesa em minhas costas, devo ao moreno a participação em minha vida, e mais ainda a matriz onde nasci. No entanto, ela aguardou minha ascensão³. Ansiou a chegada ao limite para que eu entendesse o quão perigoso é ficar na borda do precipício, porque após a queda não há corda extensa o suficiente para o resgate. A única saída é escalar, e meus braços estão lesionados demais para isso.

No Limite • [Borderline]Onde histórias criam vida. Descubra agora