Um acordo entre nós

Descoberta

 

As mãos de Lisa estavam em punhos e seu maxilar trincado. Assim que o carro parou em frente ao Grande Palácio, saiu do automóvel, batendo a porta, furiosa.

— Lisa, espera! — Jennie gritou, correndo para acompanhá-la.

A sala principal estava acesa, na verdade, nenhum cômodo do palácio a não ser os quartos eram apagados durante a noite — uma regra tosca que só servia para gastar energia, das milhares de outras coisas sem sentido que precisou se acostumar.

Não olhou para trás uma vez sequer, mas soube que Jennie estava atrás de si, hora ou outra pedindo desculpas a um funcionário desavisado que rompia pelo caminho. Só parou ao chegar no quarto do irmão, batendo na porta. O relógio no meio do corredor que separava os cômodos indicava ser cinco horas da manhã em ponto. Era um péssimo horário para caçar confusão por ser troca de turno e ter mais pessoas na casa do que em outra hora da madrugada, mas naquele momento nada passou pela sua cabeça, esmurrou a porta do quarto dele novamente.

— Ten! Eu sei que você está aí! ABREEEE!

— Lisa! Vai acorda a casa toda! — Jennie tentou afastá-la.

— Que se foda! — Se desvencilhou do aperto. — Chittaphon, porra! Abr-

— O que foi!? — Ele abriu a porta, amarrando o roupão molhado pelo corpo com uma expressão irritada. — Alguém morreu? O quê... oi, Jennie.

— Aãn... oi. — Jennie tirou alguns fios de cabelo do rosto.

— Oi? — Encarou os dois, zangada. — Ten, onde você estava?

Ele engoliu em seco, abrindo mais a porta num pedido mudo que entrassem.

— Se Jennie está aqui, acho que já sabe que eu não estava com Lucas.

— Imagine a minha cara quando ele me disse que não te vê há uma semana e eu pensei, poxa, eu também não o vejo por quase uma semana também!

— Nós nascemos juntos, Lisa, mas cortaram o cordão umbilical tem um tempinho, sabia? — Ele se sentou, os cabelos molhados pingando na cama.

Lisa riu amarga, encarando o fundo dos olhos do irmão, que desviava de todas as suas tentativas.

— Você quer fazer isso na frente dela? — Ele apontou para Jennie, que se encolheu minimamente.

— Acho que todo mundo que tenha dois neurônios nesse país sabe que o vice-filho não tem um passado tão limpo assim. Então, tudo bem Jennie estar aqui.

— Lisa...

— Só que ela não sabe o quanto as pessoas que te amam sofrem com isso e... e sofrem toda vez que você...

— Lalisa! — O eco da voz dele reverberou pelo quarto e Ten foi a passos rápidos até a irmã. — Você acha que eu tenho controle sobre isso? Acha que se eu pudesse escolher, teria escolhido te magoar de novo? O problema é que você sempre espera o melhor de mim, que eu cumpra o papel de irmão mais velho, responsável e sem defeitos, só que eu não posso evitar.

— Está dizendo que a culpa é minha por esperar o básico do meu próprio irmão? — Arregalou os olhos, incrédula.

— Estou dizendo que não é da sua conta, caralho! — Os dois estavam cara a cara e Lisa em nenhum momento abaixou o olhar, seria forte como Jisoo. — Eu não tenho que estar sempre aqui, eu tenho uma vida também!

— Que vida de merda você tem! — esbravejou de volta. — Se está tão empenhado em acabar ainda mais com a sua reputação tudo bem, mas pensa...