O mundo acabando e elas transando, ou quase isso

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Jennie era como um móvel inerente a casa. A estante cheia de livros, bonecos e fotos continuavam na sala compacta, a varanda onde conversaram em uma madrugada que parecia ser há anos atrás estava completamente tapada pelas cortinas. Até o quarto continuava com as pilhas de livros sobre a mesinha. Era quase como se ela não tivesse mudado nada desde que Lisa saiu aquela noite. Jennie estava desarmada de todas as defesas possíveis, e a ponta do nariz vermelha poderia indicar que talvez estivesse lutando contra um resfriado, mas fora isso, aquela era uma versão da ex-estagiária-atual-chefe-de-campanha cansada demais e esperando as coisas se desenrolarem.

Lisa se perguntava: qual foi o momento exato que Jennie percebeu que ela não era a garota que achava que fosse? Qual foi a primeira dúvida que solapou sua mente e a fez pensar em desistir? Foi  antes do primeiro beijo delas? Depois? Será que ainda havia incertezas quando transaram pela primeira — e única vez — será que haveria uma segunda? Lisa maneou a cabeça, tentando tirar manualmente todas as dúvidas da sua mente, quem sabe elas não escorriam pelo ouvido ou sairiam em forma de espirro.

Do quarto de Jennie, a voz de Armário e Jisoo eram ouvidas na sala, eles conversavam sobre Ten, que virou prioridade depois de sumir com as provas. Jennie parecia alheia a tudo isso, ela deu alguns toques na porta e entrou relutante.

— Trouxe sua roupa. — Ela deixou um conjunto de moletom em cima da cama, ainda parecia ter tomado chuva, deixando tudo indiscutivelmente fofo pelas pantufas de panda alguns números maiores, bochechas rubras e os lábios arroxeados.

Lisa não soube o que dizer ou onde colocar as mãos, então apertou com força a barra da jaqueta. De um dia para o outro elas se tornaram completas desconhecidas. Era um sentimento inusitado, conhecer uma pessoa em todos os quesitos e de repente não conhecer mais, não saber do que ela é capaz ou o que realmente está pensando.

— Ah, eu... eu vou esperar você... você trocar, lá fora. — Jennie apontou para a porta.

— Não precisa, é rápido. — Assim que tirou a jaqueta Jennie arregalou os olhos e virou de costas.

— A Jisoo... — ela pigarreou. —  Te contou tudo?

— Quase tudo.

— Quase tudo. — Jennie repetiu, baixinho.

— Vocês duas tem provas o suficiente para incriminá-lo, não? — Percebeu as orelhas de Jennie vermelhas e as mãos formavam punhos enquanto Lisa tirava a calça jeans, mas não tinha como ela ver, tinha?

— O acordo é o problema... — Jennie se virou para Lisa, mas lembrou que ela ainda não tinha acabado de colocar a roupa, então voltou a olhar para frente rapidamente. — Sunan é esperto, o contrato de casamento é de três meses, se nesse tempo eu divulgar qualquer documento ou algo que o incrimine, isso não poderá ser usado contra ele no tribunal.

— Então Jisoo será obrigada a matar Elane, mas quando todo o caso vir à tona, ela será incriminada também. Pode virar — disse. Jennie pareceu ponderar, como se pudesse estar mentindo, então se virou lentamente. Lisa se sentou na cama analisando toda a timidez que nunca pensou existir na Kim. — Jisoo me contou o lado dela da história, mas eu não ouvi o seu ainda, quer dizer, eu até pensei em ouvir quando fui te ver no portão.

Jennie prendeu a respiração, parecia ter vergonha de olhar Lisa.

— Eu estou apaixonada por você, o que, definitivamente, não fazia parte do plano. E tudo o que eu falei lá era verdade e.. me desculpe, Lalisa. — Jennie caminhou até o guarda roupas, tirando de lá uma caixa de sapatos, quando esparramou o que tinha dentro da caixa na cama, Lisa percebeu que eram reportagens de jornais e revistas, algumas em coreano mas a maioria em Tailandês. Mas o que realmente chamou a sua atenção foi um poster antigo e meio rasgado. Lalisa devia ter 14 anos, estava naquela fase horrível emo punk emulando Avril Lavigne.

Um acordo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora