Segundas primeiras impressões

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Lisa encarou os ocupantes da sala como se tivesse acabado de sair do dentista e a anestesia ainda fizesse efeito, deixando-a meio zonza e lerda. Sentia a boca seca, havia engolido todos os argumentos lógicos existentes e só sobrou a última e mais irracional opção possível: gritar, rolar no chão, pedir "por favorzinho" com as mãos em preces e no seu mais horrível e odiável aegyo.

— Não, não, absolutamente não! — Bateu os pés no chão, os braços sacolejando como uma criança mimada. — Você não pode me obrigar a casar com uma garota!

— Mas Lalis...

— Mas nada, pai! — Apertou a cabeça com as mãos — Eu não sou lésbica!

— Ninguém aqui está falando que você é. — Elane continuava usando um tom baixo e passivo, quase como se estivesse entediada. — Jennie também não é, certo?

A estagiária molhou os lábios com a língua, as bochechas vermelhas e a expressão envergonhada.

— Bem, quanto a isso...

— Jennie!?

— Lisa!? Eu não saio contando sobre minha vida pessoal para qualquer pessoa que conheci em menos de um dia!

— Nada disso importa! — Sunan se levantou de supetão, a cadeira caiu, causando um barulho alto precedido por um silêncio sufocante. — Vocês podem se separar alguns meses depois que eu ganhar... quer dizer, Elane ganhar as eleições — ele sorriu atencioso para a mulher, prosseguindo: — Não estamos pedindo que durma juntas, que se beijem ou algo do tipo, apenas ajam como um casal, está bem? Aposto que andar de mãos dadas não irá quebrar a mão de nenhuma das duas.

— Mas eu tenho uma reputação a zelar! — ditou impaciente, passando as mãos pelos cabelos para tirá-los do rosto numa forma de se recompor. — Já a Jennie... ela é só uma estagiária, não está na lista de pessoas do meu ciclo social, o senhor me entende?

— O povo gosta de histórias onde nos apaixonamos pela ralé. Vai vender. — Elane sorriu.

— Acho que deveriam ser mais respeitosos. — Ten, com um olhar duro fitou a irmã e apontou para Jennie.

Esqueceu-se que ela ainda estava na sala e ao encará-la, Jennie tentava esconder uma expressão ressentida, mas era um ato falho já que suas mãos tremiam e os olhos acumulavam lágrimas pelas beiradas.

— Não se preocupe, presidenta, a "ralé" aceita a proposta.

— Ei, Jennie...espera, não foi isso que eu...

— Agora, se me derem licença.

Tentou puxá-la pelo braço, porém a menina foi esquiva e rapidamente se desvencilhou do aperto. Antes de sair reverenciou a todos presentes, mas a cordialidade durou até fechar a porta com brusquidão.

Sunan gargalhou, quebrando o silêncio que poderia ter se tornado constrangedor. Os olhos espremidos em felicidade pelas bochechas ao caminhar para abraçar a filha. Era como se o fato de Jennie ter saído transtornada daquela sala não tivesse atingido o humor do vice presidente, ele abraçou o filho também, desdenhoso ao dizer.

— A reeleição já é nossa, que comece os preparativos!


(...)



A escadaria que levava ao terceiro andar do imponente Grande Palácio parecia muito um joguinho que Lisa amava quando criança. A escada era a fase mais difícil, já que durante o percurso precisava evitar buracos, cobras venenosas e armadilhas nos corrimões.

Um acordo entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora