Capítulo 5 - Nunca se sabe.

10 2 2
                                    


A campainha toca e Hawks abre os olhos. A cabeça dói.

- Já vai!

Senta no sofá. Percebe que dormiu ali mesmo e sequer trocou de roupa.

A campainha toca a segunda vez.

- Já disse que estou indo!

Caminha lentamente até a porta. Mão na cabeça. Dor.

Uma breve olhada no olho mágico. Sua ex-mulher e sua filha.

- Droga!

Abre a porta. 

- Você esqueceu, outra vez.

- Desculpa, eu dormi demais.

Elas entram.

Sandra dá uma conferida em Andrew.

- É, estou vendo.

- Ela já almoçou?

- Andrew, sabe que horas são? Duas da tarde!

- Meu Deus.

- Filha coloca a sua mochila no quarto do papai, tá bom. - É um bom momento para uma conversa a sós. - Olha Andrew, você é o pai dela. Mas tudo isso, acho que não vou mais deixar você a ver, até você melhorar.

- Eu estou bem Sandra.

- Bem? Olha o seu estado.

- Já acabou?

Os dois se olham por um momento.

- Ela precisa de um pai Andrew. E o William está tomando seu lugar.

Ele agora está pensativo.

- Beijo meu amor, se comporta tá? Tchau Andrew.

Andrew só levanta a mão.

A porta se fecha, agora são apenas pai e filha.

- Filha, papai vai tomar um banho e vamos dar uma volta no shopping aqui perto.

- Tá bom.

- Fica sentadinha aí no sofá.

- Você dormiu aqui hoje?

- Sim, papai chegou cansado demais.

- William disse que o senhor o alócotra.

Hawks sabe o que ela quis dizer realmente. Alcoólatra.

- Ele te disse isso?

- Não, estava escondida. O que é alócotra?

- É quando um policial é bom no que faz, ou seja, o Willian me adora.

- Então posso dizer isso na escola?

- Não! Não pode isso na escola, é para os bandidos não saberem que sou policial.

- Tá bom. - A menina dá de ombros. - 

Andrew toma seu banho. Veste uma calça jeans escura e uma camisa branca perdida no armário. Umas borrifadas aqui e ali de um perfume velho e pronto, ela parece nova.

- Vamos!

A menina vai na frente e o detetive pega sua arma e coloca na cintura. É como ele diz, "nunca se sabe".

Laura se diverte com as cabines de simulação de corridas e dinossauros em 3D da área de jogos do shopping. 

O Pai corre atrás dela e lhe ataca com cócegas na barriga.

Ela pergunta tudo.

- Pai vamos comprar pipoca e jogar para os pombos?

- Sim, vamos sim.

Metade para eles e metade para os pombos.

Agora os dois caminham de mãos dadas. Laura toma seu sorvete, como toda criança está com as bochecha sujas.

- Vamos aqui no mercado comprar algo para janta.

Entram.

Uma olhada aqui e ali. Pipoca de microondas, sucos. Algumas batatas congeladas.

Gritos.

- Me dá a merda do dinheiro!

- Ahhh!

Uma mulher corre para fora.

- Vadia! - Disparo.

A mulher cai com um tiro no meio das costas.

Um grito fino e alto -  AHHHHHHHH - Laura.

Agora uma arma é apontada para ela.

- Laura, cuidado! - Hawks se joga na direção dela. 

- Me dá a merda do dinheiro. - Grita. 

- Aqui, toma, toma.

Hawks está entre as prateleiras de limpeza e bebidas.

O assaltante sai pela porta.

- Ei! Polícia! - Grita Hawks com sua arma em punho. 

O alvo agora é Hawks.

- Merda! - Dois disparos.

Um no peito, outro na garganta. Um deles atravessa e atinge a vidro da loja, agora em pedaços no chão.

Assaltante neutralizado.

Hawks caminha até o corpo. É só um garoto. Ao lado o da mulher baleada. Um rastro de sangue no chão.

- Chame um ambulância. - Dá a ordem a funcionária do caixa. 

Ele examina o corpo da mulher. Está grávida.

- Droga!

Uma voz chorosa.

- Pai?

- Filha, tá tudo bem?

- Uhum. Vo...você atirou nele pai?

Silêncio. Abraça a filha.

Andrew na delegacia. Sentado na recepção. Suas mãos estão sujas de sangue e sua perna não para de balançar.

- Andrew?

- Sandra. - Respira fundo. 

- Onde ela está?

- Dormindo na sala do Peter.

- O que aconteceu?

- Um assalto.

- E você reagiu?

- Sou um policial Sandra.

- Hoje, você era apenas um pai.

Silêncio.

- Ela não se machucou Sandra.

- Vou levar ela comigo.

Ele concorda com a cabeça.

Sandra pega sua filha no colo e está pronta para ir embora.

- Sandra me desculpe.

- Não é hora para isso Andrew. Não agora.

Ela vai embora.

Sentado na sala de Peter, olhar fixo na mesa. Pro nada.

Peter entra.

- Ei, cara.

- Oi.

- Tudo bem?

- Acho que sim.

- É.

- E a garota, e o bebê?

Peter balança a cabeça negativamente. 

Mãos no rosto. Se levanta bruscamente.

Ele vai até o banheiro. Lava o rosto, se olha no espelho. Não ouve nada ao seu redor. Sua cabeça dói.

Arma embaixo do queixo.

Choro. 

A BuscaOnde histórias criam vida. Descubra agora