A C R I A N Ç A D E V I D R O

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"Monstro.

Como eu deveria me sentir

Criaturas mentem aqui

Olhando através da janela

Eu ouvirei suas vozes

Eu sou uma criança de vidro."

York - 1917

Aproveitando o calor gostoso da manhã, Jimin caminhava pelos campos verdes e floridos da propriedade de seu pai, sentindo a leve brisa esvoaçar o tecido delicado de suas roupas.

Estava voltando para casa, pois logo era a hora do almoço, mas a manhã estava linda e agradável, diferente de sua casa, essa era a verdade. A verdade era que ele não queria voltar para casa. Só queria ficar ali mais um pouco, antes que seu pai descobrisse que havia saído, até aquilo, por mais absurdo que pareça, seu pai o proibiu de fazer. Era sufocante.

Ao passar pelo hall de entrada, Jimin sentiu o peso do olhar de seu pai, ele sabia que estava muito encrencado, e que seu pai o castigaria severamente por um motivo tão bobo, era sempre assim.

- Eu não fui claro quando disse que não queria que você saísse de casa? - Direto,rude. Seu progenitor caminhou de forma lenta até ele, Jimin gelou da cabeça aos pés. - Não vai falar nada? - Perguntou com o maxilar travado - Você é um inútil mesmo! - Jimin sentiu uma pontada no peito, aquilo doía. Porém, o mais doloroso foi o ardor em sua face, um tapa tão forte que o fez virar o rosto. - Você é um insolente! Eu te dou abrigo, comida, uma cama confortável, proteção, educação. Mas você me devolve como? ME DESOBEDECENDO! - Gemeu baixo quando seu pai puxou seu cabelo, fazendo o fitar com os olhos inundados por lágrimas, mas nem isso comoveu Antony, enquanto Jimin era praticamente arrastado pelos cabelos por aquele que chamava de pai. Sabia para onde seu pai estava o levando, e por isso entrou em desespero. -

- P-pai, não. Por favo-r. Pai. Não. - Implorava sentindo sua garganta doer, e sufocar com as lágrimas. Gemeu de dor quando o seu pai o jogou com brutalidade contra a parede do compartimento minúsculo. A antiga dispensa, um quarto escuro e pequeno. E ali Jimin foi trancado, enquanto batia e arranhava desesperadamente a porta, a ponta de seus dedos estavam machucadas, seu rosto banhado por lágrimas, e sua garganta doía, sua respiração era afetada pelo forte cheiro de mofo e poeira. Encolhido no canto da parede Jimin se conformou, seu pai não o tiraria de lá, nem sua mãe, e nenhum empregado. Não importa o quanto chorasse, não iria pôr a dor para fora, seria como um grito embaixo d'água, um grito silencioso. Ninguém o salvaria, Jimin afogaria sozinho naquele rio de dor.

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Londres, 1917

Cemitério de Highgate

- D-deus, me aju-de..

Implorava um homem de meia idade, com ambas as pernas e braços quebrados enquanto tentava como louco se arrastar pelo chão, em uma falha tentativa de fugir da morte, que caminhava calmante atrás de si, se deliciando com a visão de sua pobre vítima

- Vamos, você só continua a perder seu tempo, e o meu também. Deixe-me acabar logo com isso, prometo que serei breve! - Falou em uma cordialidade falsa, fingida, que pingava maldade, assim como sua adaga pingava sangue. -

- Te-nha misericór-dia..

- Tsc. Tsc. Tsc. - O assassino negava com a cabeça, enquanto pisava sobre as costas do homem - Desse jeito você me ofende. Eu ainda preciso fazer uma visitinha ao seu amigo detetive de York. Mas...- Sorriu ao ouvir alguns ossos das costas do homem estalarem e ele grunir de dor - Acontece que quem perdoa é Deus, e pro seu azar.... - Pegou um pedaço de arame farpado, envolvendo em suas mãos sem se preocupar se o feriria ou não, ele não se importava, a dor física não se comparava com o prazer que ele sentia em matar. - Eu não sou Deus... - envolveu o arame no pescoço do homem puxando para trás, fazendo o homem ficar de joelhos, enquanto o enforcava sem piedade, sentindo o sangue quente escorrer por suas mãos. - E também não acredito nele.

Depois de enterrar o corpo em uma cova já aberta ali, o psicopata caminhou calmante pelas vielas enquanto lerá os documentos selados com os selos de Antony Grey. Riu em deboche, ele acabará de matar o braço direito do tão temido detetive. Entretanto, naquele momento não foi isso que lhe chamou atenção, mas sim, uma foto, tirando de dentro de um envelope o retrato de um lindo menino, adorável, um anjo exalando pureza. O filho do detetive.

- Que interessante... - acarenciou com o polegar o rosto do menino - Jimin, uh? - guardou a foto em seu sobretudo e seguiu seu caminho - Estou ansioso para conhecê-lo, Jimin-ah...

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Jimin olhava para o dorcel de madeira, enfeitado com tecidos brancos e finos que balançavam com a brisa suave que provinha da Janela aberta, com o pensamento longe, o corpo dolorido, coração estilhaçado, e os olhos transbordando lágrimas.

Seu olhar não tinha brilho, Jimin divagava sobre qualquer coisa, menos pensar em sua situação atual, a realidade machucava. Estava cansado , um ciclo vicioso onde ele só teria a mesma opção.

Eram as mesmas coisas, as mesmas pessoas, as mesmas circunstâncias em dias diferentes. Mas naquele momento, naquela noite, Jimin projetava o rosto dele em sua cabeça, em como os olhos negros e inexpressiveis pareciam entrar na sua alma, pareciam o ler por inteiro, e Jimin no fundo gostava daquilo. Do olhar. Dele.

Não sabia se era apropriado pensar nele, justo naquele momento, ele tinha algo diferente, talvez pelo fato de que ele era o primeiro homem que viu, depois de seu pai. Sua beleza ofuscava as atrocidades que ele cometia. Um lindo psicopata.

Ele matava e estava livre.

Jimin era inocente e estava preso.

Tão sorrateiro como uma serpente, ali, sentado em sua varanda de frente para ele, os olhos que tanto o prenderam o analisará, como um predador analisando sua presa, preste a dar o bote, andando calmante até ele. De perto, agora, ele era tão mais belo, tão pequeno, e tão puro que sentia seu pau doer só de pensar em arrancar até o último requisio de pureza daquele anjo.

Assim que sentiu alguém sentar ao seu lado na cama, Jimin estava pronto para gritar por socorro quando teve sua boca silenciada pelo assassino, assim que seus olhos encontraram o dele, Jimin soube exatamente quem era.

Jeon por outro lado ficou hipnotizado pela doçura dos olhos daquele menino, inchado por lágrimas, as bochechas rosadas, mas agora coloridas em vermelho por uma palma. Um tapa. Assim como seu corpo franzino cheio de hematomas.

Jeon pela primeira vez sentiu algo caracterizado como empatia, talvez em algum lugar de sua mente sociopata exista resquícios daquilo que um dia ele foi. Encontrando naquele garoto seu início e seu fim.

Naquela noite para Antony Grey era um sequestro, mas para Jimin era um resgate.

Teoria do Caos | Jikook [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora