Capítulo 7

29 1 0
                                    

A Primavera chegou.

A madre tinha razão. O girassol cresceu e deu flor.

Erínea continuava no seu ofício de jardineira. Cumpriu o que prometera. O jardim estava cada vez mais bonito. As margaridas em forma de triângulo, as violetas em círculo, as saudades em ziguezague, os lírios circundavam o jardim, tudo em harmonia e ordem. O girassol, como veio de xereta, ficou ali mesmo, como um guarda-costa, a vigiar aquele mundo multicolor.

Erínea regava os canteiros com a mangueira de borracha. Brincava com as plantas, sacudindo o chuveirinho que esguichava a água.

Ás vezes, Erínea parava para dar uma olhadinha na estrada, na esperança de ver os pais chegando. Os velhos a visitavam a cada início de trimestre. Era uma festa vê-los chegar. Dona Amélia levava doces e biscoitos, para abastecer o armário de Erínea por muitos dias.

Do Rio ao interior de São Paulo, onde ficava o convento, a viagem se tornava exaustiva para o físico alquebrado dos velhos. Mesmo assim, não mediam sacrifícios. Era com bastante emoção que encontravam e abraçavam a filha.

Nada... Só o bosque de eucaliptos ladeando a estradinha sinuosa.

    - E o nosso papinho, Saudade?

.....................................................................................................................................

    - Erínea, vou a Petrópolis. Resolvi ver a minha mãe.

    - Engraçado, você nunca fala em sua mãe.

    - É que nós brigamos, sabe? Nunca ouviu falar em briga de mãe e filho?

    - Brigaram?!

    - São modos de dizer. Sabe o que foi? É que ela resolveu se casar de novo e não gostei. Foi por isso que me mandei pra cá.

    - Acha justo?

    - De repente, tudo mudou. Eu, que sonhei em poder oferecer à minha mãe um dia uma vida melhor, vi meus planos frustrados. Aparece um cara velho, oferece uma casa bonita, um carro, conforto, e me passa para trás.

    - Não seja tão possessivo assim. Sua mãe tem este direito, não acha?

    - Deve ter. Mas não me conformo. Ela é linda, uma mulher de fibra. Batalhou tanto para me sustentar, coitada. Quantas vezes ficava costurando até altas horas da noite enquanto eu dormia. Uma vez me deu uma bicicleta e isto lhe custou muito trabalho. E agora que pensava em recompensá-la...

    - Não fique triste. Você ainda pode retribuir a sua mãe, sendo o filho que ela sempre desejou. Não acha que está na hora de voltar aos afetos? Pois então, vá vê-la, seja o mesmo filho carinhoso e amigo. Também conte a ela que você agora tem outra mulher em sua vida. Mas olhe, mãe é mãe. E namorada é namorada, ta legal?

    - Você é fabulosa. Tenho a impressão que vão se dar muito bem quando se conhecerem.

.....................................................................................................................................

    - Falando com as flores, Erínea?

    - Oi irmã, que susto!...

    - Suas flores estão uma beleza.

    - Nossas.

    - É verdade, são nossas.

    - Amanhã é domingo, o clubezinho vai funcionar?

A Noviça SonhadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora