Capítulo 6

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Erínea descobriu uma plantinha nova no jardim. Ficou a imaginar e por entender o fenômeno. Não semeou nem jogou nenhum caroço diferente, muito menos transplantou qualquer muda.

    - Devem ser os passarinhos - sugeriu a madre - eles são os responsáveis por muitas inovações.

    - Estou curiosa pra ver a noa espécie.

    - Tenho a impressão que é girassol. Bem, o dever me chama. Com licença.

Será que ser jardineira também não é um dever? Ela deve ter algo mais significativo do que flores, concluiu a noviça.

Erínea se abaixou para ver a Saudade - branca, lívida e tristonha - no seu canteiro. Saudade simboliza saudade mesmo. Parece que o seu perfume e misturou com o sentimento da jovem, num toque nostálgico, cuja fragrância exalava, reclamando a sua atenção.

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    - Mamãe, tenho quase dezessete anos...

    - Eu sei.

    - Amo o Lutero.

    - E daí?

    - A senhora não vai abrir mão do nosso namoro?

Dona Amélia franziu a testa, numas rugas de preocupação. Enfim, chegou o momento que ela mais temia. Fugiu o quanto pôde. Todavia, isto não podia continuar assim.

A mãe olhou a filha com ternura. Encarou-a nos olhos. A voz parecia não querer sair, mas era preciso.

    - Nenê, tenho um assunto muito sério para tratar com você...

    - Fale, mamãe.

    - Você não pode se casar.

    - Por quê?!

    - Ouça: Quando nasceu, você era tão franzina, muito doentinha. Os médicos a haviam desenganado. Então fiz um voto a Nossa Senhora de Fátima, a santa de minha devoção. Se você sarasse e ficasse grande, seria freira.

A filha teve um sobressalto.

    - Mas mamãe, por que só agora a senhora me falou? Eu não posso, não posso aceitar um plano deste! É um absurdo...

    - Temia exatamente isto. Protelei todo esse tempo, evitando que viesse a ouvir justamente o que estou acabando de receber na cara. É... a juventude não compreende mesmo...

Erínea chorava: - Eu não quero, não quero ser freira, nunca!...

    - Mas voto é voto, eu não posso quebrar a promessa - respondia a mãe, desapontada.

Nervosa, Erínea discou para a repartição de Lutero. Pelo teor, ele supôs uma catástrofe. Quando chegou, encontrou um conclave reunido para discutir o problema. O irmão mais velho veio do Leblon. Outra irmã, da Barra da Tijuca, acabava de chegar. Joel morava com eles, era o tipo topa-tudo. Os demais irmãos moravam fora, por isso não foram convocados.

    - Mamãe, vocação tem que ser espontânea. Não me sinto comissionada para este tipo de vida.

    - Estou com ela - concordou a irmã.

Joel não dava palpites. Sentado escarrapachadamente, limitava-se apenas a ouvir. O pai era neutro: não podia contrariar a velha nem a filha. Já o irmão mais velho concordava com a mãe.

A Noviça SonhadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora