Lutero ia ver Erínea todos os sábados. Aparecia sempre com um LP debaixo do braço. De preferência as valsas de Strauss.
- Se sua mãe não fosse tão cafona, a gente podia dançar.
- Não fale assim, coitadinha...
- Desculpe. Não quis ofendê-la.
- Espere.
A mocinha foi até a copa. Deu uma espiada.
- Ela está fazendo biscoitos na cozinha. Vamos aproveitar? Tire os sapatos, para não fazer barulho. Pronto?
- Que legal!
- Você dança muito bem, Lutero.
- Já trabalhei num teatro. No início era um simples empregadinho. Transportava os instrumentos, ajudava na montagem do palco, fazia qualquer coisa, até a limpeza do camarim. Fui me entrosando com a turma e acabei virando artista. Fiz comédias, dancei, uma profissãozinha à toa. Mas, na época, achei que foi o fino.
- Tinha fama?
- Fama é o que não faltava. E as fãs?... Era um tal de pedir autógrafos que você nem imagina. Isto parecia até gratificante para quem não tinha nada.
- Posso imaginar.
- Sabe qual o meu nome artístico?
- Qual?
- Carlitos.
- Já sei. Você se inspirou naquele cômico das comédias norte-americanas?
- Acertou.
A valsa durou pouco. Dona Amélia, com seu instinto maternal, desconfiou,
- Parem com esta dança, seus malandros! Nenê, vá pro seu quarto, vamos ter uma conversinha.
- Nenê?
É o meu apelido, bobinho.
- Desculpe, Dona Amélia. Prometo que isto não vai se repetir mais, nunca mais.
- Fui eu mãezinha. Insisti com ele. Queria aprender a valsar, é tão bonito...
Lutero foi embora chateado.
****
O telefone do apartamento tocou. Era Erínea. Falava da casa de sua amiga Maristela. Já fazia mais de um mês que ela e Lutero não se viam.
- Estou morrendo de saudades.
- É mesmo?
- Por favor, venha me ver.
- Não Erínea, acho melhor a gente não se falar mais. A velha enche sabe... Vamos esquecer a nossa amizade.
- Está louco cara? Olhe, estou aqui na vizinha. Venha agora tá?
- Tá bem, eu vou.
Meia hora depois, os dois conversavam felizes.
- Por que a gente não curte uma praia?
- Vou lhe confessar uma coisa Erínea. Não sei se você vai entender.
- Fale.
- Não tomo banho de mar. Não gosto. Sou arredio ao mar.
- Eu entendo. Isso é psicológico. Chama-se talassofobia, ou, medo do mar.
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A Noviça Sonhadora
SpiritualA Noviça Sonhadora Sonho, romance, experiências da vida e os fins bonitos de um amor real... O tema do encontro... As vibrações da vida e das relações mostrando que amar não é pecado, É a vida! Do convento ao campo de missões, Erínea encontrando, se...