Osmaris estava de mau humor. Havia se humilhado e mesmo assim ela o rejeitara. Passou os dois dias seguintes berrando com os criados ou qualquer um que viesse a perturbá-lo. A exceção foi sua mãe, que adentrou seu gabinete sem ser anunciada, provavelmente para preservar o mordomo do temperamento do filho.
— Osmaris? — disse a senhora. — Tem um tempo para sua mãe?
— Claro — disse ele tentando sorrir. — Sente-se.
A madame sentou-se em uma poltrona próxima a janela, de forma que a luz do sol incidisse sobre seus cabelos já brancos, conferindo um brilho angelical à mulher. Ela não dava sinais de ter estado doente há poucos dias.
— A que devo sua visita, minha mãe?
— Uma mãe não pode simplesmente desejar a companhia do filho?
— É claro que pode — ele sorriu.
— Mas por mais que eu adore passar um tempo contigo, esse não é o real motivo de eu estar aqui — admitiu ela. — Não escapou a minha percepção que você tem andado um tanto estressado nos últimos dias.
— Admito que tenho sido um tanto desagradável.
— Para dizer o mínimo — murmurou ela.
O rapaz riu.
— Pois bem, o que o aborrece? — perguntou a rainha.
— Não quero importuná-la com esses assuntos.
— Bem, agir como um velho ranzinza não vai ajudá-lo no que quer que o esteja perturbando. Então por que você não faz o que precisa ser feito para resolver o problema?
Osmaris ponderou as palavras da mãe.
— A senhora tem razão — disse por fim. — Mas não sei o que fazer.
— Você é inteligente, Osmaris. Vai pensar em alguma coisa — ela levantou-se, depositou um beijo na testa do filho e retirou-se.
O monarca ficou pensativo por um instante, então decidiu sair para cavalgar. Sempre raciocinava melhor sobre o lombo de Cormac, com o vento batendo no rosto.
O passeio era o que precisava para clarear a mente. Os potentes músculos do garanhão alcançavam velocidades extraordinárias, deixando seu mau humor para trás e a brisa fresca do anoitecer revigorou-lhe os sentidos.
Quando deu por si, estava às margens do caudaloso rio que delimitava a fronteira leste de Ládica. Se seguisse cerca de dez minutos a jusante chegaria ao casebre onde vivia a Velha Bruxa do Rio, como era conhecida.
O pensamento deu ao monarca uma ideia para resolver o impasse que chegara com Aracena. Amarrou o cavalo em uma árvore próxima, já que o terreno em declive era irregular a mata se fechava mais conforme se aproximava da morada da bruxa.
Cerca de dez minutos depois, avistou a pequena cabana de madeira escura coberta de musgo. Um cheiro delicioso exalava do recinto e o rei reconheceu na mesma hora, da cozinha do castelo. Bolo de milho. Era estranho pensar que uma alguém com a reputação dela gostasse de bolo.
Dona Megaira era conhecida por conduzir negócios escusos às margens do rio. Ninguém conhecia de fato as suas origens, mas ela já era velha quando chegara há Ládica antes mesmo da Grande Epidemia, há mais de oitenta anos. Isso significava que ela tinha uma vida anormalmente longa, até mesmo para uma bruxa.
Ninguém ousava confrontá-la, visto que a mulher era versada nos mais variados tipos de magia e não hesitava em fazer uso das artes das trevas.
Osmaris deu três batidas na porta e pouco tempo depois foi atendido por uma senhora decrépita e baixinha, com rugas profundas no rosto. Ela parecia ainda mais velha do que ele imaginara ser possível e se perguntou se a anciã seria incapaz de fazer algum tipo de poção rejuvenescedora. Que graça teria viver mais do que a maioria de seu povo se não mantivesse a beleza?
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A Bruxa de Ládica
FantasyAracena é uma jovem bruxa que trabalha como curandeira no pequeno reino de Ládica. Durante uma madrugada, seus serviços são solicitados quando a velha rainha adoece. Lá, ela conhece o jovem rei Osmaris, que se encanta pela moça, mas esse desejo pode...