Suspeitas

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Uma semana depois Aracena continuava silenciosa. Até o pequeno Jeldim percebeu que algo não estava certo, pois a irmã sempre fora espirituosa e tagarela. Agora, ela passava o dia todo trancada no quarto e saía apenas para banhar-se. Sentia-se suja o tempo todo, mesmo tendo acabado de sair do banho. Passava horas esfregando-se na tentativa de livrar-se daquela sensação. Evitava fazer as refeições com a família, o que obrigava a mãe a levar-lhe um prato de comida, que só comia quando já estava fraca de fome.

Lucena tinha medo de conversar com a filha e piorar a condição da jovem, mas finalmente tomara coragem de fazê-lo. Precisava encontrar uma forma de ajudá-la. Lembrava-se do momento em que a encontrou sentada encolhida atrás da estátua da deusa Venya em estado catatônico. A sacerdotisa havia dito que a encontrara caída e com os seios à mostra.

— Aracena? — disse batendo à porta do quarto da moça.

— Entre — a voz da filha era fraca e inexpressiva.

— Como se sente hoje?

A mais jovem apenas deu de ombros, enquanto a mãe sentava-se na cama, a seu lado. Lucena já pensava em desistir e deixar a menina em paz, mas respirou fundo e começou hesitante.

— Minha filha... sei que é doloroso para você falar sobre, mas preciso saber quem a atacou.

Aracena a olhou alarmada.

— Encontrei uma mancha de sangue no forro de seu vestido — explicou a mãe. — E sei que suas regras só vêm daqui a uma semana. Isso e o estado em que lhe encontramos, concluí que...

A moça começou a chorar novamente e a mãe percebeu que suas bochechas adquiriam um tom avermelhado. Lucena abraçou a filha, fez-lhe um cafuné e beijou-lhe a testa.

— Eu me sinto tão envergonhada — disse a jovem, entre as lágrimas. — Tão imunda. Se eu não tivesse...

— Olhe para mim — ordenou a mais velha, com doçura. — Não ouse culpar a si mesma. Agora me diga quem lhe fez isso.

— F-foi o... — ela engoliu em seco. — Foi o r-rei Osmaris.

Lucena piscou. Não estava esperando aquela resposta. Sabia que o monarca havia estado em sua casa duas semanas antes para agradecer à filha pelo serviço prestado, mas não tinha conhecimento de qualquer outro tipo de interação entre a filha e os membros da família real.

— Como ele...?

— Ele estava me seguindo com toda aquela história de concubina e eu acabei deixando escapar que estaria no casamento do Socram.

— Calma — a mãe não sabia se havia escutado direito. — Que história de concubina?

Aracena suspirou.

— Naquele dia em que esteve aqui em casa ele me propôs que fosse sua concubina. Eu neguei, é claro, mas ele continuou me perseguindo.

— E quando você recusou a proposta ele se achou no direito de tomá-la a força — Lucena suspirou, levando uma mão a testa.

— Desculpe.

— Você não é culpada de nada, está me entendendo? — a mulher olhou a filha nos olhos com uma expressão muito séria. — O único culpado é aquele maldito rei e nem que eu tenha que amaldiçoar este reino inteiro, ele pagará pelo que lhe fez — ela voltou a abraçar a menina.

— Eu tentei me livrar — sussurrou Aracena. — Tentei lançar um feitiço e me livrar, mas de alguma forma ele conseguiu tirar meus poderes.

— Como assim?

— Não sei, talvez no vinho. O fato é que a magia falhou.

— E como a magia pode ter falhado? Nunca ouvi falar sobre vinho atrapalhar...

A Bruxa de LádicaOnde histórias criam vida. Descubra agora