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"As pessoas mentem por milhares de razões. Sempre existe uma razão."

(House)

— Oi Bruna — Rebecca chama o nome de sua amiga ao telefone — vou direto ao ponto porque você sabe que eu não gosto de contornar assuntos — Eduardo dá um olhar de súplica e se ajoelha implorando perdão.

Quando está prestes a abrir a boca, o irmão alcança o celular em suas mãos e desliga a chamada, mas ela rapidamente o recupera e disca o número de Bruna e ele senta-se ao lado esperando o pior.

— O que aconteceu Rê? — Bruna pergunta um pouco sem jeito — Você me ligando aleatoriamente assim parece muito estranho.

Este momento é realmente difícil, pois por um segundo Rebecca pensa em poupar sua amiga do sofrimento de saber que Eduardo a trai constantemente e isso contribui para que fique entre duas opções, a verdade ou a mentira.

E ela infelizmente escolhe omitir a verdade.

— Você pode me passar o seu cronograma de estudos? — Rebecca pergunta e Eduardo abre os olhos em surpresa — Estou querendo me organizar, mas acho que seria mais prático compartilharmos somente um e assim trocamos o mesmo aprendizado.

Enquanto Bruna fala exatamente como divide sua rotina e as aulas, Eduardo ao fundo se mantém de joelhos e junta as mãos em sentido de oração e sussurra um "obrigado" para a irmã.

Ao desligar a ligação, Rebecca abaixa a cabeça e sente-se a pior amiga do mundo.

— Fica tranquila irmãzinha! — O irmão diz ao levantar e acariciar suas costas — Você fez um bom trabalho hoje ao apoiar seu irmão! Como diz o velho ditado "o sangue nos faz parentes".

Ela sempre odiou esses ditados.

Ela se levanta e vai para o quarto, passa vários minutos olhando para a tela do celular e processando no que acabara de fazer. Ao deitar-se de bruços escuta o alerta de uma nova notificação e fica surpresa ao reconhecer o Thiago na foto de perfil.

Oi linda, pode salvar o meu número agora que te chamei.

Os dois conversam durante várias horas até escurecer completamente e ela se levanta para assistir alguma série. Indo em direção à cozinha, escuta o irmão falando com alguém ao telefone e decide se esconder atrás da parede.

— Que desconfiança é essa, Bruna?! — Pergunta impaciente ao celular — Para que um relacionamento funcione, ainda mais que estamos longe, necessita de confiança — ele espera alguns segundos antes de continuar — Eu jamais te trocaria por outra garota! Eu realmente não te trocaria por ninguém nesse mundo.

Rebecca quase vomita depois daquele comentário e se arrepende profundamente em não ter contado a verdade para sua melhor amiga.

"Lógico que não fiz para ajudar Eduardo e sim para que ela não se machucasse por alguém que não a merece" pensa e por fim, decide não continuar a escutar a conversa e volta para o quarto.

[...]

Um mês se passara desde que o primeiro dia na escola de Rebecca fora desastroso.

Ao acordar em pleno feriado de Carnaval lembra-se de como as ruas ficam extremamente lotadas em São Paulo, não que em Uberlândia não seja da mesma forma, mas a locomoção de pessoas é incomparável.

Também já haviam se passados vários dias em que praticamente não olhara para o irmão além de ter perdido gradualmente o contato com a Bruna.

— Não se preocupe — escuta Eduardo falando com alguém na sala — não há namorada no mundo que me impeça de ir à festa de Carnaval, ainda mais uma de dezessete anos — ele diz rindo.

Ela se arrependera todos os dias desde que não contara a Bruna, mas a situação piorava a cada dia por todo o medo de perder sua melhor amiga.

Embora isso já estivesse acontecendo pela distância.

Rebecca levanta-se da cama pensando no que fará durante cinco dias em casa e vai em direção ao banheiro para lavar o rosto enquanto escuta dois garotos na sala conversando cada vez mais alto. Ela abre a porta do quarto sem se importar com a roupa que está vestida, mas no momento em que encontra Thiago deitado no sofá de sua sala arregala os olhos e volta para o quarto imediatamente antes que ele analisasse o seu baby doll vermelho.

— A minha irmãzinha nunca se veste apropriadamente antes de sair do quarto — Eduardo diz ao estalar a língua enquanto ela tenta desesperadamente encontrar em seu guarda roupa um short jeans e uma regata.

Por trás da porta consegue escutar uma risada de Thiago e afunda o rosto nas mãos soltando um grunhido alto.

Quando se sente preparada emocionalmente e fisicamente, sai do quarto com a cabeça erguida, anda por toda a sala sem falar absolutamente nada e vai em direção à cozinha. Ela nota o olhar pervertido de seu colega, mas continua olhando para frente.

Eduardo um pouco desconfortável com a situação começa a rir descaradamente.

Ela sempre odiou as brincadeiras do irmão.

— Não teria forma melhor de passar o meu feriado! — Thiago diz ao colocar uma bolacha na boca.

Rebecca fecha a geladeira ao não encontrar nada que queira comer no momento e vai em direção à fruteira para pegar uma maçã antes de se sentar ao lado de Thiago de forma provocante.

Ele a olha com um ar de interrogação, mas não se mexe um milímetro.

— Que incrível! — Diz de maneira irônica ao mordiscar a fruta e olhar para o irmão — Além de namorar a minha melhor amiga agora está selecionando amizades na minha escola.

Eduardo ignora a pergunta e apenas continua focado em um reality show que está acompanhando na televisão. Thiago, ao lado da garota, permanece inquieto e para disfarçar pega o celular. Rebecca faz o mesmo no momento em que o seu vibra no bolso do short.

Como está a vida de vocês nesse feriado? A minha está ótima com uma companhia maravilhosa ao lado.

No momento em que visualiza a mensagem que Thiago manda no grupo da sala, Rebecca engasga com a maçã e provoca uma tosse como nunca na vida. Os dois garotos a olham preocupados, mas com os olhos marejados ela responde "Está tudo bem".

Rebecca respira fundo e desbloqueia a tela do celular novamente para digitar.

Eu ainda estou tentando compreender se o meu está bom ou ruim.

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