ALVORADA

16- Fraquezas

"Você não pode demonstrar nenhuma fraqueza. É isso que todos os livros dizem."

(Orange Is the New Black)

Tremulamente Rebecca vira o rosto para o lado e seus olhos encontram o homem que havia assaltado a senhora no parque. O torso de Rebecca instantaneamente se enrijece e todos os pelos do seu corpo se arrepiam tamanho medo.

— Você vai continuar a caminhar lentamente como se nada estivesse acontecendo — ele diz perfurando a faca mais profundamente em sua pele — ou o que ainda é um pequeno furo vai se tornar uma cratera nas suas costas, anda!

Rebecca pisca totalmente apavorada as pálpebras e volta a andar disfarçando a situação enquanto a superfície gélida continua perfurando sua pele. Várias pessoas passam pelos dois ao telefone e não percebem o olhar desesperado e a respiração falha da garota.

— Eu sabia que se viesse atrás de você primeiro aquele garoto ficaria louco — comenta ajeitando o capuz de sua blusa preta com a mão disponível — mas, eu ainda não pretendo fazer nada se você não fizer nenhuma besteira.

O homem guia o caminho para um lugar onde jamais havia estado e a cada passo os dois ficam mais longe de onde as pessoas caminham. Assim, de repente Rebecca se vê em um extenso beco sem saída e apesar de estar um dia ensolarado a metade do local está escuro pelo enorme muro de concreto que cobre a entrada de luz.

— Escuta muito bem o que eu vou dizer — diz jogando o corpo dela em direção a uma caçamba de lixo — você por acaso tem noção do que foi passar esses dias na prisão?! Além disso, tenho que agradecer por me avisar da presença dos guardas com aquele grito, foi muito útil! Mas, tudo foi por água abaixo porque aquele idiota, como sempre, atrapalhou tudo.

A lateral esquerda do corpo dela latejava com o impacto, mas se mantém em pé apesar de apertar uma das costelas com a mão para tentar amenizar a dor.

— Eu fiz muito bem em comprar aquele cachorro-quente! — Fala limpando os dentes da frente com a unha — porque no momento em que eu ia abordar o seu namorado você apareceu diante dos meus olhos e simplesmente uma ideia genial surgiu em minha mente e eu pensei por que não?! Se bem que provavelmente ela ficará irritada com isso...

O homem de cabelos escuros se aproxima do corpo de Rebecca com um olhar intrigante. Ela dá passos para trás até colidir novamente com a caçamba de lixo. Ele desliza os dedos ásperos por todo o seu rosto e ela tem vontade de vomitar com o toque. Sua a primeira reação é chutar suas partes íntimas, contudo ele consegue ser mais rápido e segura o joelho dela antes que ela consiga.

— Você é muito esperta — comenta rindo ironicamente — mas, muito lenta.

De repente ele pega o cabelo dela e o puxa severamente para baixo e Rebecca fecha os olhos antes que o corpo vá de encontro ao chão. Quando os abre novamente pode perceber algumas gotas de sangue no piso e sente que o corte tinha aumentado com a queda.

— Deve ser incrível ter dinheiro, morar em um prédio como aquele e ir para uma escola impecável sem precisar de uma bolsa — diz se afastando e colocando as mãos nos bolsos. — Mas, não são todos que tem esse poder e precisam se contentar com menos, só que isso não é justo.

Ele anda de um lado para o outro enquanto tenta acender o isqueiro para o cigarro que se encontra entre os lábios.

— Você vai fazer o seguinte — o homem comenta se aproximando novamente com um dispositivo na mão — isso é uma escuta e por meio dele eu vou ter a capacidade de escut...

— Me poupe das suas explicações e vai direto ao ponto. — Rebecca fala se levantando — não sou idiota para não saber o que é uma escuta.

Ele solta uma gargalhada alta e uma ponta de esperança surge nela para que alguém que estivesse próximo escutasse.

— Você é mais abusada do que eu pensei! — Diz dançando com a faca entre os dedos — eu vou colocar isso na sua roupa que vai fazer com que eu escute tudo ao seu redor até mesmo quando você estiver no banho eu vou estar com você... — Ele dá um sorriso pervertido e coloca a ponta gélida do objeto no pescoço dela — por causa dessa eu poderia te matar aqui agora ao invés de deixar você voltar para casa.

Olha intrigada para ele que continua a analisar deslizando a faca na parede e faz um barulho insuportável, depois aponta em direção ao corpo dela. Faz vários movimentos de cortes no ar para amedrontá-la, embora naquele momento sua cabeça esteja confusa com o que ele havia dito.

— Você vai fazer exatamente tudo o que eu mandar — comenta ao pegar um celular do bolso de trás de sua calça jeans e discar um número — mudança de planos senhorita, preciso que você clone o celular da garota — ele continua falando com uma pessoa e olhando para Rebecca ao mesmo tempo — me perdoe! Mas, eu me distraí por um momento e o perdi de vista! E eu sei que é difícil por causa da criptografia, mas você consegue. Assim, não vai ter o perigo de ela mandar mensagem para alguém sem que nós saibamos e eu chegue rapidamente ao apartamento e corte o irmão dela em pedaços.

A garota olha para baixo e nota seu braço tremendo e, por conseguinte, as pernas, tamanho medo que sente no momento.

À medida que ele conversa com sua capanga ao celular, Rebecca imediatamente lembra-se que o seu está na bolsa que carrega.

— Não se preocupe que não vai dar nada errado — ele diz enquanto a garota usa a ponta do pé para arrastar a pequena bolsa em sua direção — eu sei que acabei de sair da prisão! Mas, não posso deixar esses adolescentes babacas acharem que podem fazer o que quiserem com a sua vida e com os meus negócios!

Quando Rebecca sente o contato da bolsa com sua perna, vira-se rapidamente e a pega entre os braços. Corre em direção à entrada do beco por onde consegue ver mais claramente a luz solar a cada passo.

— Que mald...

Escuta ele resmungando à medida que tenta loucamente deslizar o zíper da mochila para pegar o celular e corre ao mesmo tempo. Mas, a rua ainda está muito longe de seu alcance.

Sem olhar para frente, Rebecca não consegue ver um pequeno buraco no chão que resulta em uma queda. o último som que ouve é de uma criança antes de sentir uma dor enorme no queixo e perder brevemente a consciência.