ALVORADA

21- Mentiras

"Aprendi que a melhor forma de não se magoar é fingir que não tem um coração."

(Two and a Half Men)

Os dois permanecem no sofá por intermináveis minutos.

Daniel desliza as pontas dos dedos entre os fios dos cabelos ruivos da garota que o faz parecer despencar de um prédio de duzentos andares com somente um sorriso.

Enquanto ela fecha os olhos apreciando o contato, todos os sentimentos que Rebecca jurou não adquirir acabam tomando conta de si, mas quando seu olhar encontra com o do garoto de indesvendáveis olhos verdes é completamente hipnotizada.

— Você gosta disso? — Ele pergunta olhando para baixo quando ela abre os olhos e os leva em direção aos dele.

Rebecca respira profundamente e vira o corpo de frente para ele, mas continua deitada em seu colo. A garota levanta a mão em linha reta ao rosto de Daniel e desliza os dedos por todo o maxilar dele contornando o queixo diversas vezes.

— Você gosta de... Ficar assim? — Indaga novamente fechando os olhos para sentir as carícias dela — porque para mim é uma sensação única.

— Deitada no seu colo no sofá da minha casa com seus dedos no meu cabelo? — Abre um sorriso — com certeza sim, mas... Se bem que poderia estar melhor.

Daniel, completamente confuso, franze as sobrancelhas quando Rebecca levanta um pouco o corpo e fica na altura dele.

— Eu ainda não tive a oportunidade de aproveitar o tanto que deveria — ela diz depositando um rápido beijo nos lábios dele — mas, você sabe que ainda têm coisas a dizer, não é?

Ele estica os braços para cima na intenção de aliviar a tensão em seus ombros, entretanto não é o suficiente quando vê o curioso olhar da garota.

— Talvez você precise preparar o seu coração para todas as novidades que tenho a contar... — fala pensativo ao colocar uma mecha de cabelo que havia caído no rosto dela atrás da orelha.

Rebecca balança a cabeça positivamente e esboça uma feição curiosa ao piscar repetidamente os olhos. Isso faz com que um sorriso encantador se abre no rosto de Daniel.

— Desde que você não sorria no meio da história... — comenta ao deslizar as pontas dos dedos nos lábios dele — porque o seu sorriso é extremamente perigoso.

— Perigoso em relação a quê? — Pergunta quando suas sobrancelhas dançam em sinal de confusão.

— No momento em que você esboça um sorriso o meu coração para de bater... A minha respiração simplesmente cessa para admirar sem perder detalhe algum — fala se perdendo no olhar dele novamente — é como se o seu encanto fosse isso... Por acaso você é uma espécie de sereia? Seria curioso me relacionar com um sereio.

Daniel dá início a uma gargalhada e a garota desfere um leve soco no braço dele em resposta.

— Ai! — Diz ao acariciar a região — por que fez isso sua agressiva?

— Você brinca todo o tempo com o meu coração! Estava merecendo há muito tempo por me esconder tantas coisas!

— Você colocaria todas as suas confianças no impossível? — Ele pergunta com a afirmação dela.

Uma luz se acende no peito de Rebecca e ela rapidamente se levanta do sofá e vai em direção ao quarto deixando o garoto confuso e sozinho.

Rebecca dá início a uma procura incessante por um pequeno pedaço de papel e quando o avista em cima de um monte de cadernos no canto esquerdo de sua escrivaninha, rapidamente volta para a sala.