18- Coincidências

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"Você tem um bom coração... Entregue-o para quem se importe."

(Gossip Girl)

— Acho que deveríamos começar por: o que você está fazendo aqui? — Rebecca pergunta à amiga quando se levantam para ir à cozinha.

Bruna ajuda afastando a gata, que corre em círculos próxima aos pés de Rebecca, e se põe ao lado da amiga para dar suporte caso ela se desequilibrar.

— Isso está realmente muito feio — aponta para o machucado na lateral das costas dela quando Rebecca levanta a blusa.

As duas, incrédulas, olham para um profundo furo roxo que é facilmente visível em meio à pele branca da garota. Rebecca desliza o dedo indicador por ele e sente uma pontada que a faz imediatamente tirá-lo de lá.

— Agora entendo porque o Daniel falou aquilo de passar o carro por cima de você! — Bruna esbraveja ao lado — pare de ser tão imprudente Rê!

A garota apenas revira os olhos em resposta e continua a andar após abaixar a blusa azul que veste.

As duas chegam à cozinha e observa Eduardo sentado no sofá assistindo um episódio de Friends. Rebecca vira para o lado rapidamente e confere a feição triste de sua amiga.

— Eu estava com a viagem programada há alguns dias — diz ao se sentar na cadeira. — Mas, nunca imaginei que quando chegaria estaria sem namorado — direciona o olhar brevemente para Eduardo — e estaria vendo minha melhor amiga aos cacos.

Rebecca se senta na cadeira mais próxima que encontra enquanto Eduardo continua assistindo o seriado sem se importar com as duas ao lado. A garota sente-se mal por sua amiga tanto em relação ao modo como o irmão tem a tratado quanto por continuar escondendo o segredo.

— Planejava uma surpresa para os dois — Bruna provoca uma tosse — mas, parece que nada saiu como o esperado!

Antes que Rebecca possa falar algo, o celular no bolso de seu short jeans vibra e faz todo o esforço necessário para alcançá-lo.

Vocês sabem o que aconteceu com ela?! Soube que foi atropelada!

Atropelada? Mas, pensei que tivesse sido assaltada.

Sobre o que vocês estão falando?!

Rebecca visualiza as conversas no grupo da sala, como odeia ser o centro das atenções, aquelas mensagem contribuem para que se sinta pior fisicamente e emocionalmente. Mas, antes que apague a tela do celular, outra aparece diante dos seus olhos junto a um sorriso que cobre todo o seu rosto.

Vocês deveriam cuidar das suas próprias vidas, não é Miguel?! Use o seu tempo de sobra para procurar um dicionário no Mercado Livre, Lara! E você um cérebro, Amanda!

Daniel com suas chatices, como sempre.

Bruna ao lado observa a reação de sua amiga ao celular, e mesmo com uma profunda dor no coração após o término, deseja que ela seja feliz. Logo depois, seus olhos vão em direção a Eduardo pela milésima vez e uma lágrima traiçoeira ameaça escorrer por seu rosto, mas antes que aconteça ela se levanta e atrai a atenção dos dois.

— Quando você se sentir melhor precisa me mostrar essa cidade incrível! Enquanto um táxi me conduzia até sua casa eu passei por lugares sensacionais, Rê! Agora finalmente entendo o motivo por você ter me deixado em São Paulo.

Rebecca guarda o celular no bolso novamente, foca as atenções na amiga à frente e a convida para descer até o hall de entrada.

— Você está com alguns parafusos soltos! — Comenta quando o convite é feito — você está aos pedaços e nós sequer sabemos o motivo! Como você acha que conseguiria descer até a entrada se mal consegue ficar em pé sozinha?

A garota revira os olhos com a demasiada preocupação e se levanta calmamente para provar o contrário. Mas, o incômodo em suas costas volta a atingir e coloca as mãos em cada lado de seu quadril para disfarçar a dor.

— Você conhece algo chamado elevador? — Pergunta ironicamente ao ir em direção à porta e se dirige a Eduardo no sofá — não avisa para os nossos pais que eu estou saindo do quarto.

Saem do apartamento deixando Eduardo sozinho, como ele gostaria a meses, e andam pelo corredor em linha reta ao elevador que se encontra a aproximadamente dez metros. Antes que a porta se feche, Bruna coloca a mão e pede para que a pessoa dentro espere por elas. Quando a porta volta a abrir , possibilitando que elas entrem, Rebecca se assusta ao perceber que o seu ocupante é o Nicollas.

— O que você ainda está fazendo no prédio? — A garota pergunta ao amigo assim que se encosta na parede do elevador para manter o equilíbrio.

— Estava com o Thiago e o Daniel — ele responde se afastando para que Bruna passe e fique ao lado da amiga. — Também fiquei surpreso ao saber que vocês moram no mesmo prédio! Que coincidência, não é?

Rebecca franze as sobrancelhas e lembra-se de uma conversa antes de perder todas as suas memórias do acidente.

— Por isso ele disse que me viu no corredor... — Se expressa alto sem perceber.

— O que disse? — Bruna pergunta se voltando a ela.

— Nada! — Fala balançando a cabeça rapidamente — estava pensando alto! Então Nicollas, onde exatamente eles moram?

O celular de Nicollas toca e rapidamente ele o atende.

— O que você quer? — Ele pergunta rolando os olhos — não, eu acabei de sair do apartamento dele.

Ele desliga a chamada e volta a prestar atenção nas garotas.

— Desculpe! A Amanda é muito possessiva em relação ao Thiago... — Nicollas abre um sorriso — isso me dá nos nervos. Você tinha que ver como ela ficou quando você beijou ele! Eu fiquei com medo do olhar dela naquela hora! Parecia que ela pegaria uma faca a qualquer momento e te mataria ali mesmo no corredor!

Rebecca também sorri com o comentário.

— Eu nunca tinha visto ela perder uma batalha na vida! E olha que eu conheço ela faz algum tempo... Enfim, onde estávamos?

Antes que as portas se fechem, ele aponta para uma porta que expõe o número 34 e Rebecca pisca os olhos inúmeras vezes imaginando que possivelmente sua visão ainda está alterada.

— Trinta e quatro? — Pergunta e ele balança a cabeça positivamente — mas, esse é aquele apartamento...

"Quem for o dono desse apartamento está em apuros" lembra-se do que disse a Thiago quando o colocou no sofá para que descansasse de todo o álcool no corpo e leva a mão à testa enquanto os dois no elevador a observam sem entender absolutamente nada.

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