01 | Uma boa amiga

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GRACE DILAURENTIS

Eu encarava a roupa estendida impecavelmente em cima de minha cama, certamente deixada pela minha colega de quarto, enquanto fazia um esforço excessivo para não gritar ali mesmo.

Não havia dúvidas de que o pequeno vestido que Penelope tivera a intenção de me emprestar não permitiria sequer que o oxigênio chegasse aos meus pulmões.

Por um momento, perguntei-me onde ela estava com a cabeça ao considerar que eu realmente poderia vestir aquilo.

Ao que tudo indicava, os quase vinte anos de amizade não tinham sido suficientes para que a garota conhecesse por completo a amiga que tinha.

Soltando o ar pesado pela boca ao caminhar até meu guarda-roupa a fim de pegar um body e uma calça jeans qualquer, amaldiçoei aquela garota por me manter sob ameaça de morte caso não estivesse em um pub barulhento em menos de uma hora.

Contudo, claro que o peso na consciência não demorou a aparecer.

O fato era que eu não estava irritada apenas por estar sendo coagida a sair em uma quinta à noite quando tinha mais de sete trabalhos da universidade para fazer. Honestamente, o que mais estava me matando aos poucos era a perda da minha melhor amiga para um garoto que ela tinha praticamente acabado de conhecer.

Pois é, eu já sabia que estava sendo uma imbecil por sentir raiva daquilo.

Embora eu estivesse contente em ver Penelope feliz, sentia falta de vê-la em nosso dormitório com frequência, de descontarmos toda nossa frustração diante dos professores desalmados da Universidade da Carolina do Norte em potes de sorvete enquanto víamos algum filme horrível juntas, e, sobretudo, de sairmos para uma balada qualquer em busca de transas sem compromisso.

Mas, bem, como o karma era uma vadia, eu finalmente iria curtir uma noite com Penelope após ser abandonada por ela por quatro fins de semana seguidos, só que com um objetivo completamente diferente do habitual.

O propósito implícito daquela noite seria fazer com que eu me aproximasse de seu mais novo namorado.

Embora Brandon aparentasse ser um cara legal, levando em consideração as poucas vezes em que nos esbarramos, eu ainda estava no meio da crise de perca sua melhor amiga e perceba o quão fodidamente solitária você pode ficar.

Eu simplesmente ainda não me sentia muito capaz de processar o fato de que a pessoa com quem eu convivera minha vida toda começasse um compromisso com apenas vinte e um anos de idade.

Nós fizemos planos, e havíamos os seguido à risca. Ao menos, até àquele momento.

Tínhamos nos esforçado juntas para sair da pequena cidade caipira do interior, havíamos conseguido passar exatamente na mesma universidade e dividir um dormitório, tudo como o combinado.

No entanto, a regra explícita de curtir a vida de solteira até nos formarmos aparentemente havia sido desprezada por completo, pois lá estava a minha ex-parceira do crime namorando em seu segundo ano de faculdade.

Enquanto colocava o body justo e de mangas compridas, passei a tentar substituir toda aquela mágoa sem fundamento por uma lista do que uma boa amiga faria.

Eu sorriria naquela noite, não faria comentários inconvenientes sobre ter sido jogada para escanteio pelo último mês inteiro e definitivamente não beberia mais do que a quantidade de álcool necessária para agir de acordo com as expectativas de Penelope.

Eu faria dar certo. Teria que fazer.

Após cerca de meia hora, enfim me olhei no espelho, e, pela provável primeira vez no dia, um fantasma de sorriso dançou por meus lábios.

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