05 | Intimidação

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GRACE DILAURENTIS

Eu estava jogada em minha cama vestindo um pijama do dobro de meu tamanho real enquanto encarava o notebook posicionado em meu colo, estampando exatamente a mesma tela inicial do Word de uma hora atrás.

Expirei um suspiro pesado quando percebi que, de quatro mil palavras mínimas sobre a história da música, ainda faltavam quatro mil palavras.

Bem, aquela era eu em um sábado à noite, destruída tão exteriormente quanto interiormente, e, sobretudo, solitária.

Penelope fora passar o fim de semana com o namorado, e não me restavam dúvidas de que ela estava aproveitando a noite muito melhor que eu, afinal, ambos teriam o apartamento inteiro para eles.

Fiz uma careta ao pensar que aquilo não era lá muito justo. Eu não deveria estar ocupada com um trabalho ridículo que certamente não me ajudaria a tocar qualquer instrumento adequadamente quando ao menos noventa por cento das pessoas da minha idade deveriam estar se divertindo genuinamente naquele mesmo segundo.

No fim das contas, faculdade era realmente um saco.

Honestamente, eu estava ansiosa para ter meu diploma e ao menos conseguir tocar em algumas orquestras de bom conceito, e talvez, em um futuro distante, abrir algum tipo de bar próprio para jazz, onde poderia tocar quando quisesse.

Eu estava ciente de que aquilo era um sonho distante, mas também conhecia a mim mesma o bastante para saber que eu era uma pessoa obstinada.

Aos poucos e ainda que com alguma dificuldade, estava caminhando para meu próprio futuro justamente de acordo com o que planejara em minha pré-adolescência, e o gênero musical preferido de meu pai ainda estava suficientemente entrelaçado à minha mente de modo a me deixar perseverante ao ponto de fazer aquilo acontecer.

Batidas frenéticas na porta subitamente me tiraram de meus pensamentos, e enquanto o barulho estridente e frenético chegava aos meus ouvidos, instantaneamente me dei conta da mancada que havia cometido.

— Grace DiLaurentis, eu acho bom a merda do seu celular ter explodido no seu quarto ou algo do tipo, pois senão, eu juro que enfio ele no seu rabo até você...

— Para de gritar, Sarah! Caso você não saiba, há outras pessoas vivendo nesse andar — eu disse assim que abri a porta, puxando a garota para dentro.

— Ora, ora, ora! O que é aquele aparelho intacto ali? — Ela caminhou com seus saltos agulha até minha mesa de cabeceira, pegando meu celular ao se virar para mim.

— Eu tive que desligar ele para conseguir me concentrar no trabalho da faculdade — expliquei, na defensiva, e ela estreitou os olhos em minha direção.

— Tá, que seja! De todo jeito, eu estou te falando da inauguração do Versatilly há mais de uma semana, então por que raios você ainda está com essa roupa ridícula? — questionou entredentes, nada, nada contente.

— Eu meio que esqueci — balbuciei, e Sarah então arregalou aqueles grandes olhos castanhos de forma a me deixar realmente temerosa por um momento. — Foi mal, Sarah. Acho que você vai ter que ir sozinha.

O fato era que eu nunca estivera mesmo tão ansiosa para ir. Inaugurações eram um saco; tumultuadas, desorganizadas, e, geralmente, superestimadas.

E claro que o fato de descobrir que Dominic ilustramente faria presença na festa não tinha ajudado em absolutamente nada.

Desviei um súbito olhar para o notebook cuja tela estava prestes a bater minha própria cabeça minutos antes.

Ao fim, ambas opções que tinha para aquela noite não eram nem um pouco atraentes.

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