06 | Inferno pessoal

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GRACE DILAURENTIS

O sol já se punha ao oeste enquanto eu atravessava a praça central do campus em direção aos dormitórios. 

O dia havia sido longo, e já podia sentir a leve dor presente em minha cabeça se transformando em uma genuína enxaqueca. 

Embora as sextas possuíssem apenas duas aulas no horário matutino, eu normalmente usava as tardes para tocar por conta própria no piano da universidade.

Honestamente, preferiria ensaiar nos fins de semana, uma vez que eram os únicos dois dias em que me encontrava verdadeiramente descansada e disposta a tocar por prazer, mas, infelizmente, a UNC não disponibilizava as salas de ensaio nos sábados e domingos, e eu tampouco tinha dinheiro para comprar o instrumento.

Era justamente por tudo aquilo que me encontrava tão esgotada no fim da tarde de uma sexta congelante.

O maldito teste para a apresentação seria na segunda, e as seis horas de ensaio daquele dia aparentemente ainda não tinham sido suficientes para que eu conseguisse tocar de um modo decente as duas partituras que me foram impostas.

Bem, eu não era idiota a ponto de ensaiar com o objetivo de ser escolhida para a tal vaga. Contudo, eu ao menos esperava não passar alguma vergonha na frente dos professores encarregados de suprirem as vagas para a apresentação, que em sua maior parte eram as pessoas que eu mais admirava do mundo.

Eu os respeitava intensamente, e sua devoção a todo momento para com os alunos era somente o que não me permitia trancar meu curso em meus piores dias.

Eu ainda tinha esperança de que um dia conseguiria ser como eles.

Quando cheguei no fim da praça central bem arborizada do campus, o celular tocou no bolso de meu jeans, e mesmo não reconhecendo o número que se encontrava na tela inicial, levei o aparelho ao ouvido.

— Como vai, psicopata? — Uma voz masculina subitamente ecoou através de linha, e pisquei um par de vez até enfim me dar conta de quem se tratava.

— Alexander — soprei, escutando um riso nasalar em seguida.

Apesar de tê-lo encontrado apenas uma vez, a voz grossa ainda me era inconfundível.

— Olha para direita.

Instantaneamente girei meus calcanhares na direção indicada, e então não demorei a localizar o bonito rapaz, que se encontrava cercado por um grupo de colegas conversando entre si.

Stalker — acusei sarcasticamente, e embora a distância entre nós fosse abundante, ainda pude ver o sorriso divertido que se fez presente dentre seus lábios.

— Acabei de me entregar, não é? — ele murmurou, bem-humorado, e foi inevitável rir diante de suas palavras. — Eu iria até aí, mas você parece com pressa, então vou me limitar a pedir as mais sinceras desculpas por não ter te ligado antes daqui mesmo.

— De todo modo, suspeito que não faria sentido ligar antes, afinal, a UNC acaba com o tempo dos universitários em dias de semana, certo?

— Ao menos alguém me entende — respondeu em um drama forçado. — Então, indo direto ao ponto, quer sair para fazer algo amanhã? Conheço uns restaurantes de fim mundo, mas que oferecem comidas excelentes.

Franzi o cenho enquanto considerava a proposta.

A ideia de comer algo e talvez aliviar a tensão de meu corpo me parecia bem atrativa, porém também sabia que ainda tinha obrigações a fazer.

— Tudo bem se eu te dar a resposta amanhã? Tenho que resolver algumas coisas antes, então não sei ao certo se vai me sobrar tempo — respondi sinceramente, afinal, Sarah tinha um piano na casa em que vivia com os pais, e eu já tinha dado à minha amiga um ultimato de que lá estaria a partir da uma da tarde e não continha horário algum para ir embora.

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