09 | Felicidade momentânea

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GRACE DILAURENTIS

Eu passava quase saltitando pelos corredores da UNC enquanto fazia um esforço excessivo para não gritar para os quatro ventos que eu tinha conseguido.

Porra, que eu tinha mesmo conseguido.

Não existia nenhuma sensação como aquela. Não havia no mundo algo comparado às vibrações que se estendiam por cada centímetro de meu interior, a excitação que me ocupava por inteiro, o orgulho.

Eu não tinha falhado.

Eu não tinha passado vergonha alguma.

Sobretudo, eu tinha conseguido sentir a música por completo. De novo.

E, no fundo, eu tinha plena consciência de a quem tudo isso se devia, mas a euforia ainda era intensa demais para que eu pensasse nele. Ainda teria muito tempo para isso.

Por enquanto, eu me contentaria em compartilhar toda aquela realização com a única pessoa que poderia ficar tão feliz quanto eu mesma diante de meu próprio êxito. Subitamente peguei o celular de meu bolso, discando automaticamente o número há muito memorizado com os dedos ainda trêmulos.

— Finalmente! Já estava quase te ligando para saber...

— EU CONSEGUI! — Não me importei por um segundo sequer com todos os olhares assustados que se transferiram para mim diante do possível escândalo.

— VOCÊ CONSEGUIU?

— Sim, pai — respondi, fazendo um esforço maior para controlar meu próprio tom. Não foi uma tarefa simples, mas eu ainda não dava a mínima para isso. — Eu não errei nada. Nada, entende? Tipo, nada mesmo.

Escutei a sonora risada do homem de cinquenta e cinco anos ecoar por trás da linha, e não precisei de incentivo para acompanhá-la. Os sons de satisfação se juntaram em uníssono em um instante, o que fez com que meu coração se aquecesse no peito ainda mais.

Eu simplesmente amava compartilhar as coisas com aquele homem.

Era reconfortante saber que eu tinha alguém ali, por mim, e que meu pai sempre ficaria feliz em me ver feliz. Justamente como eu sempre o faria em relação a ele.

— E você acha que eu ainda tinha dúvidas do contrário, Grace? — ele questionou após poucos segundos, a felicidade ainda quase palpável em sua voz. — Santo Deus, você é mesmo minha filha? Definitivamente não tem como eu ter criado uma pessoa tão talentosa como você.

— Primeiro, acho que nós dois sabemos que nossos olhos obviamente entregam nosso parentesco, Robert DiLaurentis — eu disse, rindo, enquanto me lembrava de seus olhos exatamente redondos como os meus. — Segundo, não exagere, pai. Eu estou mesmo muito feliz por não ter errado nada, mas não sou, nem de longe, tão talentosa quanto...

— Não ouse terminar essa frase, Grace — ele me cortou, mas não de fato irritado. — Deixe esse pobre pai aqui aproveitar o momento sem ter que dar um sermão na filha que não reconhece as próprias habilidades.

— Você é ridículo — soprei, não contendo o riso. — Tudo bem, acho que já chega de falar de mim. Como vão as coisas aí?

— Bem, o de sempre. Segunda à sexta no trabalho, e os fins de semana se concentrando nos jogos de futebol no bar...

— Do Bob — completei, e quase pude sentir seu sorriso pela chamada

Já estava acostumada com aquela resposta.

Felizmente, meu pai ainda tinha um ótimo físico e excelente saúde, o que me aliviava intensamente. Contudo, era inevitável sentir uma pontada de culpa por deixá-lo sozinho daquele modo.

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