04 | Milagres acontecem

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DOMINIC HARRISON

— Ei, Dominic! — Escutei uma voz feminina ecoar atrás de mim, em meio ao corredor da universidade. — Dominic — insistiu, e expirei um suspiro pesado antes de me obrigar a girar os calcanhares.

Deparando-me com a loira que se aproximava com passos largos e determinados, comecei a me recordar vagamente de quem ela era.

Primeiro, lembrei-me de seu corpo curvilíneo com uma quantidade de roupas excessivamente menor do que agora. Depois, lembrei-me de seu quarto na casa de seus pais e em como tive que tapar sua boca com minha mão a todo momento para que ela não os acordasse. Quase sorri ao me recordar de seus gemidos estridentes.

— Oi...

Bem, infelizmente, seu nome não parecia se encontrar dentre minhas memórias.

A garota permaneceu me encarando por longos segundos, decerto na expectativa de que o tempo fosse fazer com que eu me recordasse, o que claramente não foi o caso.

— Sou eu, Sylvia — ela soprou, descontente, quando percebeu que estávamos perdendo tempo.

— Como vai, Sylvia?

— Estaria melhor se você tivesse retornado as minhas ligações.

Subitamente, reprimi a vontade de perguntar como infernos ela havia conseguido meu número.

Graças ao incidente do ano passado, quando uma psicopata carente divulgou meu contato dizendo que eu era o agiota que cobrava os menores juros da cidade, automaticamente fazendo com que a droga de meu celular travasse com inúmeras mensagens e ligações, eu vinha tomando um cuidado extra a quem oferecia meu contato.

— Olha, Sylvia... — comecei, mas logo percebi que não tinha muito o que dizer.

O fato era que eu não tinha mais o que explicar quando, desde o primeiro segundo, já havia deixado claro que não estava à procura por mais do que uma noite sem compromisso com aquela garota. Eu sempre o fazia em relação a todas elas.

E, pelo que me recordava, Sylvia sequer hesitara antes de oferecer sua casa para o passatempo pelo qual ambos aparentemente buscávamos na mesma medida.

Tudo bem — ela sibilou diante de meu silêncio, forçando um sorriso. — Sei que você é ocupado. Mas já que te encontrei, poderíamos marcar algo aqui mesmo. Eu estou disponível em qualquer...

— Então, Sylvia — cortei-a calmamente —, eu me diverti muito naquela noite, mas você já sabia que não prolongaríamos as coisas a partir daquele ponto. Você é incrível, só que me parece que eu realmente não estou procurando pelas mesmas coisas que você.

Ela semicerrou os olhos em minha direção, assimilando minhas palavras. Embora eu estivesse com uma certa pressa, esperei pelo fim do processo.

— Você está me dispensando — ela ponderou, uma legítima irritação já dançando por seus orbes.

Tive de reprimir uma careta quando identifiquei seu orgulho sendo ferido.

— Isso é questão de ponto de vista. Eu não acho que...

E antes que eu tivesse alguma chance de finalizar a frase, sua mão se chocou contra minha bochecha esquerda em um estrondo genuíno, e uma ardência tórrida se espalhou pela região quase que instantaneamente. 

Soltando o ar pesado pela boca, apenas permaneci encarando a garota ainda aborrecida à minha frente, ignorando os inúmeros olhares curiosos fixados em nós.

— Eu só tenho uma coisa para te dizer, Dominic: você não é tudo isso que você mesmo acha de si.

Limitei-me a assentir.

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