03 | Muito em comum

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GRACE DILAURENTIS

Eu acabava de sair da aula de prática instrumental quando meu pulso foi puxado bruscamente para trás.

— Aonde pensa que vai com tanta pressa? — Sarah, minha amiga e colega de curso, questionou impacientemente.

Arqueei as sobrancelhas.

Refeitório?

— Não foi uma pergunta literal, sua idiota.

Infelizmente, eu já tinha alguma ideia daquilo.

— Tá vendo aquela lista ali? — A violinista apontou para a folha A4 colada à parede, logo ao lado da porta da sala em que nos encontrávamos instantes antes. — Você não vai sair daqui enquanto o seu lindo nome não estiver nela.

Expirando um suspiro pesado, encarei por segundos longos demais a lista de inscrições para o teste de uma apresentação da universidade que ocorreria em pouco mais de dois meses, reunindo cerca de dez musicistas estudantes da UNC.

Uma vaga para pianista estava disponível, e eu não podia estar mais consciente de que aquela seria uma boa oportunidade para ganhar alguma experiência. Os únicos lugares públicos em que tocava eram pequenos restaurantes, nunca contendo uma quantidade de pessoas muito maior do que trinta.

E, bem, havia um motivo para aquilo tudo, portanto, embora soubesse que uma boa oportunidade estava em jogo, também estava ciente de que não estava preparada para ela.

— Eu não posso, Sarah — admiti por fim, abaixando o olhar. — Você sabe.

Besteira! — a garota de cachos escuros e espessos não hesitou em protestar, firme. — Você com certeza ganha fácil dos idiotas sem talento dessa universidade.

— Quer parar, Sarah? — Bufei, cruzando meus braços. — Isso é a coisa mais ridícula que você já me disse. Todos aqui são talentosos pra caramba. Mesmo se eu fizesse o teste, com certeza não passaria.

— Já que você tem tanta certeza assim, assina a porcaria da lista de uma vez — ela rebateu instantaneamente, e cerrei os dentes com uma força excessiva ao entender que eu tinha aberto a brecha perfeita que minha amiga precisava.

Tentei dar um passo para tomar rumo ao refeitório central, mas minha amiga foi mais ágil ao se colocar em minha frente em um ato malditamente obstinado.

Que droga, Sarah — eu resmunguei, genuinamente frustrada, porém segui até o papel preso à parede. — Feliz agora? — questionei assim que meu nome já se encontrava nas entrelinhas.

Ao fim das contas, aquilo realmente não faria diferença alguma em minha vida.

O fato era que eu não tinha a mínima chance de conseguir a vaga. Eu sabia disso, contudo, não me encontrava totalmente chateada por isso. Eu não me sentia preparada para me apresentar em frente a centenas de pessoas importantes, de todo modo.

— Obrigada, querida — Sarah soprou simplesmente, o humor já tão bom quanto o usual. — E francamente, pensava que o processo demoraria um pouco mais.

Pois, é! Sorte sua que estou com fome.

Ela estalou a língua duas vezes.

— Vamos, admita que o mérito é todo meu.

— Só nos seus sonhos — rebati, sem de fato conseguir conter o sorriso. — Agora tenho que ir, estou mesmo...

— Tá, tá — Sarah cortou, impaciente. — E vê se não esquece do Versatilly, no sábado.

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