Capítulo 1

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Pov. Logan

Giovana estava agarrada ao meu corpo dormindo tranquilamente no meu peito. Eu tinha ido buscá-la de madrugada no aeroporto da cidade. Ela insistiu em passar a noite em um hotel mas eu quis voltar para a fazenda já que teria muita coisa para resolver logo de manhã. Mentira, eu só odiava ficar na cidade. Muito barulho, muito artificial, muito cinza... Fora as más lembranças que Seattle me traz.
Com cuidado me desvencilhei dos seus braços e caminhei nu mesmo até o banheiro tomar uma ducha. Giovanna tinha ficado duas semanas fora para a semana da moda de Milão e sim ela foi brigada comigo porque eu não quis acompanha-la. Quando começamos a ficar, eu deixei claro que eu não era o tipo de cara que iria acompanhá-la em desfiles e em eventos, já odeio as fotos que ela insiste em postar nas redes sociais. E ela voltou ontem e continuava brava comigo. Bom, não posso fazer nada. Isso não é quem eu sou.
Coloquei meu jeans, as botas, uma camiseta de manga curta e meu chapéu. Iria para a fazenda do meu padrinho para tomar um café com ele, como ele mesmo me pediu ontem. Deixei um bilhete para quando Giovanna acordasse e montei no meu cavalo seguindo o cheiro de café no bule até a fazenda principal.
Eu cresci aqui na fazenda principal. Meu padrinho e minha madrinha acolheram minha mãe quando ela estava grávida e fugia do homem que a estuprou. Admiro minha mãe, minha guerreira, que por tudo que passou com o homem que me concebeu e nunca me deu um olhar torto muito pelo contrário. Me encheu de amor, de carinho e nunca me deixou faltar nada. Quando minha madrinha morreu naquele maldito acidente, ela acolheu Leila, filha do meu padrinho, e a criou como uma filha ensinando-a as coisas do universo feminino e tudo o mais. Isso a fez se aproximar ainda mais do meu padrinho e, claro, eles acabaram desenvolvendo um romance. Leila e eu fomos os primeiros a apoiar assim como eles foram os primeiros a nos apoiar.
- O cheiro desse café chega lá em casa – entro pela porta da cozinha, mas não sem tirar as botas primeiro ou levaria uma bronca.
- Bom dia, meu menino – minha mãe segurou meu rosto entre suas mãos e me deu um beijo na bochecha e eu beijei sua testa.
- Bom dia, mãe – fui ate a mesa onde meu padrinho já lia seu jornal, como sempre – Bom dia, padrinho.
- Bom dia, filho – respondeu ele com um sorriso e nos abraçamos – Você perdeu o jantar de ontem. Pão caseiro quentinho, queijo fresco e abrimos sua garrafa de vinho. Perfeito.
- Eu comi naqueles restaurantes de fast food. Passei mal a noite toda – minha mãe tirou meu chapéu porque dizia ser sinal de desrespeito sentar a mesa com chapéu e acariciou meu cabelo me servindo uma xícara de café fumegante.
- E Giovanna? Chegou bem? – perguntou minha mãe se sentando ao lado do seu marido.
- Sim, chegamos muito tarde. Acho que ela vai dormir até de tarde – peguei um pedaço do pão caseiro recém saído do forno e passei manteiga que até derreteu – Continua o humor do cão.
- Sinto muito, querido.
- Está tudo bem, mãe. Ela sabe que eu não sou esse tipo de homem. Faço vista grossa com as fotos que ela posta na internet, mas fazer aparições com fotógrafos e tudo?! Não, isso não. Ela estava ciente disso quando começamos o namoro – meu padrinho fechou o jornal tirando seu óculos e começou a comer junto comigo.
- Só cuidado para se machucar ou machucar a moça. Vocês já estão juntos a 2 anos – disse ele com ar de repreensão e eu só assenti – Sua mãe e eu temos uma novidade.
- O que? – perguntei assustado já pensando que terei um irmãozinho.
- Leila sairá da clínica em dois dias – disseram eles ao mesmo tempo. Ambos estavam felizes e emocionados.
- O tratamento foi concluído. O médico nos disse que ela está 100% e que teremos apenas que fazer a manutenção com medicamentos leves e outras coisas que ela ama fazer. Exercícios, dança, cavalgar...
- Isso é... – eu não tinha palavras. Eu não sabia que estava sentindo.
Porra, eu quero pular de alegria, quero entrar na minha caminhonete, dirigir até a clínica e ficar lá acampado até trazê-la para casa – quer dizer, essa é a minha vontade desde que ela se internou na clínica. Leila ainda mexe comigo, mesmo depois de tudo, eu sei que ainda não a esqueci. Também, como esquecer do seu primeiro amor. As vezes acho que Leila foi meu primeiro e único amor. Como amei aquela patricinha dos infernos. A amei ao ponto de engolir meu orgulho e perdoar uma traição. Mas eu não fui o suficiente para ela e isso machuca mais que qualquer coisa.
- Isso é ótimo! – completou minha mãe – Aquela mulher que tanto fez mal a ela está presa, o corpo dela está livre de qualquer droga que aquela mulher tenha aplicado e nós teremos nossa menina de volta.
- Sim, mãe. Isso é ótimo – de repente fiquei com calor e com uma fome sem tamanho – O pão está divino. Tem mais? – me levantei indo até a geladeira e voltei com um pote de geleia de uva que também era feito na minha fazenda. Os dois se entreolharam – Tá quente aqui né? O ar tá ligado?
- Filho, respira – meu padrinho tocou no meu braço e eu respirei fundo lentamente – O que nós precisamos falar é algo um pouco mais sério.
- Logan, seu padrinho e eu te amamos incondicionalmente assim como Leila – começou minha mãe.
- Mas você sabe que o estado de saúde dela ainda é delicado, não queremos causar nenhum desconforto que a leve a um surto e.. – ele olhou para ela que assentiu – Nós achamos que Giovanna aqui não irá fazer bem a ela.
- Filho, nós não queremos que vocês saiam da fazenda, mas nesse período de adaptação de Leila e nós estarmos ainda entendendo a condição dela, eu vou fazer marmitinhas para vocês comerem na sua casa e se possível, não traga Giovanna para a fazenda principal.
- Sinto muito, querido. Estamos nos sentindo mal por pedir isso a você. Você é tão nosso filho quanto Leila e queremos que seja feliz....
- Eu entendo, padrinho. Giovanna pode ser bem intragável de vez em quando. Ainda mais quando ela descobrir que eu era casado com Leila.. – cocei os olhos nervoso.
- Casado e extremamente apaixonado .. – completou minha mãe.
- Isso, casado e extremamente apai... mãe!!!! – a olhei com olhos arregalados – Eu deveria ter contado a ela antes não é?
- Sim, você deveria – disse meu padrinho em tom sério.
- Ela quer morar na casa da vinícola – confessei cansado – a alguns dias vem falando da mansão da vinícola, questiona o motivo da casa estar fechada e do porquê não morarmos lá.
- Derrube aquela casa – disse minha mãe apontando o dedo pra mim – mas nunca leve outra mulher para morar lá.
- Eu jamais conseguiria se quer entrar lá com outra mulher – respondi mais pra mim que para eles – Eu não queria gastar dinheiro construindo outra fazenda. Teria que ser próximo daqui e eu não sei o que fazer.
- Querido, não precisa sair da fazenda.
- Giovanna já se acostumou a vir para cá fazer as refeições, usar academia, a piscina, tirar fotos no jardins e tudo o mais.
- Talvez eu devesse ficar com Leila na vinícola, bem, pelo menos no começo. O que acha? – disse minha mão olhando para meu padrinho que parecia considerar a ideia.
- Não, mãe. Não vai se afastar da sua casa e do padrinho. Eu vou dar um jeito, também não sei se Giovanna ficará por aqui durante esses dias. Talvez ela tenha outro desfile e no período de readaptação da Leila ela esteja fora.
Eu não podia ficar com raiva dos dois por ter me pedido para manter minha noiva afastada da fazendo enquanto minha ex mulher está voltando de uma clínica psiquiátrica. Nós três sofremos muito com os surtos dela e seus sumiços. É claro que eles querem evitar que qualquer coisa cause algum mal ela. Só queremos que ela fique bem e possa seguir com sua vida.
Me despedir dos meus pais e montei no meu cavalo seguindo para a vinícola, passei pelas plantações, a criação de gado e tudo estava se acordo com o esperado.
Sempre me emociona quando chego na vinícola. As terras eram da família da mãe de Leila e ficaram para nós dois depois que ela faleceu. Meu padrinho e eu demos continuidade no vinhedo e foi no nosso casamento que as pessoas conheceram nosso vinho. Conheceram e se apaixonaram. Hoje somos uma grande fábrica de vinhos. Milhares de hectares de plantações. Realmente quando morávamos na casa dos sonhos era mais fácil de olhar os negócios e seria muito mais  eficaz se eu voltasse a morar na vinícola. Mas puta que pariu, eu já fico com um humor do cão quando Giovanna aparece por aqui e imagina morar com ela aqui.
- Dia, senhor Johnson – meu gerente da vinícola veio me cumprimentar assim que cheguei a fábrica.
- Dia, senhor Rochelle – o cumprimentei – como estão as coisas?
- Tudo perfeito, menino. Tivemos uma pequena praga na plantação de Merlot mas nada que irá comprometer a safra, podemos dar uma olhadinha depois – Sr. Rochelle está a anos trabalhando com Sr. Willians e de nossa total confiança.
- Sim, com certeza. Eu vou aproveitar o sol baixo e pintar a casa – Sr. Rochelle me deu aquele olhar e sorriso de triste. Ele também me apoiou em diversos momentos quando eu estava bêbado, querendo destruir tudo, a quantidade de vezes que eu pintei a mansão para deixar tudo vivo, deslumbrante, do jeito que ela pintou a nossa casa dos sonhos.
- O senhor pintou a pouco tempo. Ainda nem deu tempo de desbotar e o senhor acabou de pintar o interior.
- Leila irá sair da clínica... – ele me olhou surpreso e então sorriu de orelha e orelha.
- Está esperando o que então, menino? – Ele tirou seu aventou e luvas que usava na colheita dos cachos de uva -  Vamos pintar a casa!
*****
Alguns funcionários e eu passamos a manhã toda pintando o exterior da nossa casa e eles pareciam animados por Leila estar voltando para a fazenda. Ela sempre foi querida por todos aqui dentro e é extremamente criativa quando se trata do nome e embalagem de cada tipo de vinho. Ela costumava pintar a mão o rotulo do primeiro vinho de cada safra, que diga-se de passagem ficam armazenados na adega no porão da nossa casa e também que desde que ela me deixou meus vinhos saem com rótulos genéricos e a primeira garrafa fica só com o nome. Assim que ela chegar falarei para ela pintar, como costuma fazer.
Teve uma época em que colecionadores pagavam um preço altíssimo por um rotulo exclusivo pintado a mão por ela. Isso costumava a deixa-la motivada e animada. Talvez pode ajudar em sua adaptação em casa. 
- Sr. Johnson – disse um dos seguranças da fazenda enquanto eu e os caras estávamos descansando na parte de trás da casa e bebendo uma cerveja – Srta. Murphy está na portaria e exige entrar. Posso liberar sua entrada.
Assenti e Sr. Rochelle me deu um sorriso amarelo. Cada funcionário recolheu suas coisas e foram para o horário do almoço e eu fui até a frente da casa. Tirei do meu bolso o colar que continha a chave da porta da frente e tranquei a minha casa. Passei o colar no pescoço e coloquei minha camisa.
- Logan, por que não me acordou? – vi que ela pretendia subir os degraus da varanda da casa e logo tratei de descer e de me afastar.
- Chegamos tarde ontem e eu te disse que teria coisas para fazer hoje de manhã – ela passou os braços ao redor do meu pescoço e me beijou.
- Você está suado e com gosto de cerveja na boca – disse ela fazendo careta – Estava pintando a casa? – disse ela com uma animação que não deveria estar aí.
- Sim, vamos almoçar? – perguntei passando por ela que segurou meu braço.
- Espera, ainda temos tempo. Eu passei lá na casa dos seus pais antes de vir para cá e o almoço ainda não estava pronto. Eu nunca venho para cá, pode me levar para um passeio? Quero conhecer as plantações, a fábrica, riacho, soube que tem até cachoeira...
- Gio, agora todos estão em horário de almoço..
- É melhor ainda, amor – disse ela com malícia.
- Não está mais brava comigo? – resolvi mudar de assunto e caminhar até a caminhonete que ela veio dirigindo.
- Eu já te provei ontem que não – ela segurou novamente em meu braço me fazendo parar – Por que não vamos tomar um banho na cachoeira? Eu te livro desse mau humor que você está.
- Estou com fome – disse voltando a caminhar para a caminhonete e dessa vez ela não me parou. Abri a porta do carro para ela  - Eu vou de cavalo.
- Nossa, não posso montar com você? Nunca fizemos isso e eu sempre tive vontade.
- Não estou com o Adam hoje. Mais tarde te levo montar – prometi só para fazê-la entrar no carro e sair da vinícola.
- Negativo, mais tarde vamos conversar sobre nosso casamento e sobre onde iremos morar depois de casados.

N/a: Bom pessoal, bem vindos a história do Logan e da Leila...

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