Prólogo

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Dois anos antes...

Inglês, matemática, economia, biologia e educação física – essas eram as matérias que eu precisava estudar para passar pelo segundo ano do ensino médio o mais rápido possível. E, claro, me manter quieta, ao lado do Alex, tentando não chamar atenção até que tudo isso acabasse. Sei que existe quem sinta falta do colégio depois de se formar, mas esse não será o meu caso, eu garanto.

Enquanto encarava o quadro, observava o professor de biologia explicar sobre nosso DNA pela décima vez.

— Entendeu isso aí? — cochichou Alex ao meu lado, amassando uma bolinha de papel. — Eu sei que nunca vou usar isso na faculdade de artes e música. Que tédio!

Ele tinha razão, mas, para garantir minha vaga em Harvard, eu precisava entender isso, decorar, tirar um A, e, se não fosse pedir muito, ainda ensinar isso a alguém.

— Te explico depois. Ou melhor, pede ao Andrew. Ele já estudou isso e pode nos explicar melhor — cochichei de volta, fazendo o professor abaixar os óculos e olhar em direção aos alunos, tentando localizar o cochicho.

Culpada, era eu quem estava conversando, mas ele não desconfiou.

— O Drew disse que vai trabalhar até tarde hoje, e é sexta-feira. Ele vai buscar mantimentos na cidade vizinha. Te espero para me ajudar, querendo ou não...— sussurrou Alex, ignorando o professor, me fazendo encará-lo. — Boa sorte tentando me ensinar!

Só de imaginar ter que explicar algo que eu nem entendo, já sentia minha cabeça latejar.

— Ok. Por acaso eu tenho escolha? — perguntei, já sabendo a resposta, e fui encarada pelo velho Wilson, o terror da biologia desde o início das eras escolares.

É, meu pior pesadelo aconteceu. O professor me notou, chamou meu nome em alto e bom som, e soltou um de seus sermões, fazendo com que vinte alunos me encarassem, incluindo um pequeno grupo que se achavam os reis e rainhas.

— Senhorita Clark, sei que você é ótima na minha matéria, mas seu amigo está a um passo do D. E, sinceramente, adoro usar minha caneta vermelha para desenhar enormes letras D! — disse o professor. 

Alex bufou ao meu lado e baixou a cabeça, entendendo o recado, que era especialmente para ele.

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Tortura era a única palavra que resumia a escola para mim, ao contrário do meu irmão, que adorava aquele antro de pessoas barulhentas que queriam aparecer a todo custo. Segundo ele, no entanto, não se importava com o barulho. — Deitada na cama do Andrew, implorava para que ele ensinasse biologia ao Alex no meu lugar.

— Cara, você sabe, eu raramente te peço alguma coisa. Tenho apenas quinze anos e não tenho paciência para ensinar nada a ninguém. — Balancei a cabeça, fazendo-o rir. — Por favor irmãozinho, eu coloco água nas plantas e levo o lixo para fora por uma semana. — Fingi chorar e ouvi sua risada engraçada.

Sentado em sua cadeira, ele encarava o notebook e estudava sobre seu próximo serviço voluntário. Almejava o currículo perfeito para sua faculdade de engenharia, e trabalhos voluntários sempre ajudavam muito, principalmente se fossem em lares para idosos.

— Anne, minha irmãzinha insistente, vai fazer dezesseis este ano e você não tem paciência para nada. Vocês seriam melhores na escola se não vivessem grudados o tempo todo, assistindo, brincando e andando pela rua. — Andrew me encarou e eu bufei. — Preciso ir pegar os mantimentos para a semana que vem; hoje é sexta e você sabe como o papai é pontual. Vou de carro, logo mais eu volto e estudamos. — Ele fechou o notebook e passou as mãos pelos meus cabelos longos. — Uma semana fazendo tudo que eu pedir? — Ele sorriu, me colocando contra a parede e estendeu a mão. Aquilo era uma aliança?

Acasos Do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora