Peito em chamas ♡ capítulo 35

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Meus olhos fitavam os seus olhos castanhos avermelhados, sentia meu pulmão contrair e segurava meu choro com toda força que existia em mim. Observava seu rosto pálido buscando uma resposta minha, suas mãos foram ao pescoço e o garoto em minha frente derramava lagrimas sem esforço algum. 

Meus músculos tremiam por dentro e a angustia me invadiu de uma forma na qual nunca senti depois da morte do Andrew. Gustavo me encarou, fazendo-me desviar o olhar e encarar a taça de vinho completamente em pedaços no espaço entre nós, o vinho tinto molhava meus pés descalços. Com os braços em volta da minha própria cintura, sentia um misto de calafrios e queimor no peito, meu corpo se tornou quente ao senti tocar-me com sua mão gelada. Dei um passo para trás afastando-me do seu corpo, com insistência Gustavo tornou a tentar tocar-me.

— Não... — Degluti, sentindo minha voz falhar. — Não chega perto de mim. — Meu braço estendido em sua direção o afastava.

Gustavo, em silêncio, abaixou-se e, com as mãos sobre a cabeça, começou a soluçar. Aquilo fez meu corpo arder em chamas de raiva. Sentei-me no sofá, encarando uma parede cheia de quadros. Tudo à minha volta parecia cinza. Por um momento, não vi cores, não ouvi sons e nem sabia o que sentir. Mas a voz de Emma ecoava em minha mente; era claro que ela sabia disso. Levantei-me com voracidade, calcei minha pantufa e, ao sentir o mundo girar, pausei meus passos.

Seja forte, seja firme, não caia. 

Em passos largos, me dirigi à escada curvada e subi os degraus quase correndo ao ouvir Gustavo me seguir. Sentia a testa úmida de suor e as mãos escorregadias deslizando pelo corrimão da escadaria longa. Entrei no quarto de Gustavo às pressas, e logo ouvi o estrondo da porta batendo atrás de mim. Meu coração disparava enquanto ele se aproximava, sua presença era um peso, e o ar no quarto parecia denso, difícil de respirar.

Na pia do banheiro encarei o espelho trincado e meus olhos vermelhos refletiam em cada trinco, joguei água corrente em meu rosto vazias vezes seguidas enxugando na minha própria blusa. Poucos minutos atrás eu assistia filme pela primeira vez com a pessoa que amo, e agora sinto-me no chão, minha tentativa de permanecer firme vai por água abaixo e entro em uma crise de choro. 

Gustavo se aproximou, ainda com lágrimas nos olhos, tentando desesperadamente tocar minha mão, mas eu me soltei de seu toque, recuando.

— Anne, vem aqui. Só escuta, só precisa me ouvir. — Ele insistiu, sua voz embargada. — Não faz isso. — Vê-lo chorar estava me destruindo por dentro, mas a dor que eu sentia era ainda maior.

— Não toca em mim, não fala comigo. Não diz meu nome, não me segue. Eu implorei para você não partir meu coração, eu confiei em você. — Sussurrei entre lágrimas, parada na frente dele. Minhas mãos tremiam, a garganta apertada pelas palavras que mal consegui pronunciar. — Eu nunca faria isso com você, eu nunca esconderia isso de você.

Minha cabeça latejava com o peso da revelação, e a dor parecia piorar a cada segundo. Não podia ser verdade, Gustavo não podia ter escondido isso por todo aquele tempo isso. As palavras repetiam-se em minha mente sem cessar, como um mantra desesperado. Meu coração, confuso e partido, queria correr para ele, para seus braços e acreditar que tudo era um terrível mal-entendido. Mas minha mente, fria e racional, sabia a verdade. A verdade era insuportável.

— Eu não podia fazer nada, eu não tenho culpa. Tentei falar todo esse tempo, eu... eu... — Gustavo, pálido, sentou-se na beira da cama, lutando para respirar, sua voz falhando. — Eu não podia... 

Minha mente gritava "burra". Como pude ter sido tão cega? Com raiva e desespero, joguei minha mala aberta em cima da cama, jogando dentro dela qualquer coisa que minhas mãos alcançassem. Meus movimentos eram desajeitados, as lágrimas me cegavam e minha raiva me deixava trêmula.

Acasos Do CoraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora