Sentada à beira do lago Pontchartrain, o vento pairava sobre meus cabelos soltos. Sozinha, como há muito tempo não ficava, talvez eu precisasse de um tempo sem amigos e sem namorado. Ao cair da tarde, meus pensamentos passeavam pelas águas frias do enorme lago à minha frente. Dias após o bem dito karaokê, tentei esfriar minha cabeça ao máximo, procurando uma maneira de contar aos meus amigos e ao meu namorado um fato agora importante sobre meu pacato passado. Esses dias após a cantoria foram os mais normais possíveis: trabalhei e vi Gustavo algumas noites por conta de seu trabalho também muito corrido durante a semana. Infelizmente, procurei evitar meu casal de amigos por também ter que ver Michael.
Anos atrás, no começo do meu primeiro ano do ensino médio, mesmo muito reclusa, eu consegui fazer amizades entre as aulas que frequentava longe do Alex e foi assim que conheci Michael. Em um pequeno grupo de amigos, ele parecia não querer se destacar; era um menino inteligente e fazia parte do clube de desenhos, seus amigos pareciam legais e receptivos, e me chamaram para participar do clube de desenho. Recusei, pois não gostava de desenhar, mas permaneci sentada perto deles, entre todos foi Michael que chamou minha atenção por seu jeito calmo e formal de falar. Com o passar das aulas, ele me contava sobre sua vida e seus sonhos de se tornar um designer de jogos, a princípio até pensei que ele era um nerd original, mas me enganei.
Meses passaram, e eu sempre me sentava perto deles. Talvez por nunca escutar nada desrespeitoso nem receber olhares intencionais, consegui me enturmar facilmente, especialmente com Michael, um menino simples, e com óculos estranhos, que conseguiu minha atenção. Talvez fosse a primeira vez que pensei em alguém fora da bolha de amizade... Sem espalhar para ninguém, nossa amizade foi crescendo entre as aulas e a biblioteca. Lembro-me com clareza de seu jeito calmo me explicando traços de um desenho perfeito. Seu jeito manso me encantava, e sim, eu paquerei pela primeira vez na vida. Minha primeira e traumática paixonite na escola.
O vento gelado me faz encolher os braços, abraçando meu casaco, e minha mente lembra como se fosse hoje.
Vez ou outra, ele brincava que meu sorriso era tão bonito que seu coração doía ao palpitar, e nesses detalhes imaginei que ele também gostasse de mim. Ainda hoje, depois de anos, penso como não percebi que ele era falso ao dizer que gostava de mim mais que a lua gostava do céu. A primeira vez que Michael me chamou para sair foi exatamente onde estou agora, sentados aqui com dois picolés de morango e livros na mochila. Ele disse que gostava de mim frente ao lago e também foi onde dei meu primeiro beijo — desajeitado e gelado, os lábios dele tocaram os meus com sua calma, e nenhuma língua foi envolvida.
A menina tola seguiu acreditando em frases fofas e mãos dadas em segredo. Em um belo dia, Michael não apareceu para a aula, depois semanas e meses, ninguém em sua casa e uma transferência de escola repentina sem despedida e celular na caixa postal. Após muitos dias entre lágrimas e a espera de um telefonema que nunca vinha, por entre os livros da biblioteca, seu antigo grupo de amigos, que antes não sabiam de nada, falavam que pelo menos antes de ir, ele conseguiu me tirar um beijinho. Eu fui uma brincadeira entre nerds do colegial e não tive com quem desabafar, por pura vergonha.
A noite aparecia lentamente, as nuvens alaranjadas se despediam, e sem pressa de ir embora da beira do lago, eu apreciava as gaivotas tomarem seu rumo céu adentro. Mensagens não respondidas na caixa de entrada me incomodavam, afinal, somente meus pais sabiam do meu tempo a sós comigo mesma, pois esse problema devia ser somente meu.
Sempre costumo dizer que a vida arruma jeitos de me por contra a parede, talvez para testar minha força ou minha paciência, mas me recuso a enlouquecer ou se quer chorar dessa vez. -Com o celular em mãos, disco o número do Baker que atende de imediato.
—O... oi, Anne, onde você está e por que não me respondeu? Está tudo bem? Ou está em apuros? Queria ter ligado antes, mas achei que você estava ocupada. — Sua voz impaciente em um lugar abafado me fez suspirar.
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Acasos Do Coração
RomanceJoanne Clark sempre foi uma garota cheia de sonhos e sorrisos, mas um evento devastador apagou sua luz. Ao invés de sonhar com o primeiro amor, Joanne anseia apenas por escapar da cidade que representa sua dor e deixar para trás todas as lembranças...