– Não, Rafa! Você precisa se inscrever no teatro - Exclamava Manoela afoita com os papéis de inscrição na mão - É sério!
– Manu, eu não vou participar de grupo nenhum, desencana. - Dei meia volta de onde estava para que pudesse seguir em rumo a minha sala - E além disso, eu não sou boa atriz.
– Não é boa atriz? Você só pode tá de brincadeira né? - A garota falava ainda com a voz carregada de entusiasmo, acompanhando meus passos
– Não, não sou.. pra que você quer tanto entrar em um grupo? Já não basta ser uma Ômega excluída?
Sim, Manoela Gavassi, minha melhor amiga também era uma Ômega, teve seu primeiro host aos 13 e hoje aos 18 nunca tinha se envolvido com nenhum Alfa. Nem pra saciar o cio.
E o que é host? Bom.. Host é quando você atinge seu primeiro cio, normalmente acontece com 12/13 anos, é onde você consegue se indenficar perante a sociedade.
Se você tem um host nesse período de idade, você com certeza é um Ômega.
Os Betas passam por essa idade sem consequências e revelações, logo aos 15 anos todos que não tiveram um host são considerados Betas.
E os Alfas? Bom.. Você já nasce Alfa, seu instinto, cheiro e olhar já vem com você desde seu nascimento. Sorte de quem for.
– Exatamente por isso! Pra não ser mais excluída, imagina que triste passar o ensino médio todo tendo que lanchar no banheiro? - Encostei-me na parede e me virei para a pessoa de um metro e meio que estava na estagnada ali.
– Ok, mas só vou por você! - Disse por fim entrando na sala de aula e em troca recebi um sorriso da baixinha.
Bianca POV
Já era a quinta vez que Flay se atrasava ao me buscar em casa.
7h:18
– Quanta demora, inferno! - Dizia quando ouvi a buzina soar do outro lado da rua.
– Desculpa, acordei atrasada - A morena gritou com os vidros baixos, onde do interior do veículo uma música alta fluía a todo vapor.
– Você fala isso desde segunda-feira, já é sexta, Flayslane.
– Até parece que você vai pra detenção, a diretora Ruby morre de medo de você - Gargalhou arrancando o carro em seguida.
Ruby é a diretora do Paris, escola na qual eu estudo.
Ela é uma Beta, mas finge que é durona com os alunos, afinal, é seu papel profissional, certo?
Eu sou Bianca Andrade, Alfa Lúpus.
Tenho como melhor amiga Flayslane que também é Alfa, mas diferente de mim, Flay é Alfa comum, assim como Marcela.
Ah! Também tem Mariana e bom, Mari não é Alfa e muito menos Ômega, rara de sua espécie Beta a morena fazia parte do nosso grupo por ser muito engraçada.
– Atrasadas novamente? - Ruby indagou assim que eu e flay pusemos o pé na escola.
– Tivemos um imprevisto. - Em um rosno fraco eu a informei, vendo a mesma se afastar com um passo para trás. - A senhora vai deixar a gente entrar, certo? - Apertei a distância que ela havia deixado entre nós, fazendo com que ficasse bem perto de seu rosto.
Não, eu não estava fazendo aquilo pra tentar beija-la! Por Deus! Mas, digamos que eu use meus dotes Alfa para se safar de situações como essas, Alfas se sobressaem muito bem com os jeitos desafiadores e dominador.
– Ok...Ok! - A mulher suava com medo, dava até pra sentir seu cheiro cítrico que exalava do aroma natural dos Betas, esse na qual não me atraía.
– Vem Bia, a professora já deve estar na sala - Flay me cutucou para que eu saísse do transe de dominação que estava com minha diretora.
Entrei na escola com passos curtos, não estava afim de assistir aula de história e além disso, com uma sala totalmente cheia de Betas e Ômegas sem separação, que me tirava do sério.
Com dois toques na madeira, a figura da minha professora apareceu na vidraça transparente que existia no designer da porta, onde a mesma se prontificou de abri-la sem desdém.
– Entrem!
Ao adentrar aquele lugar senti minhas narinas queimarem, todos os cheiros misturados me deixavam zonza. O doce cheiro dos Ômegas com os cítricos dos Betas não combinavam!
Todo Alfa já é acostumado com a sensibilidade em cheiros, é assim que escolhemos com quem reproduzir. Um cheiro é muito importante.
– AQUI! - Ouvi a voz de Marcela ecoar no fundo da sala - Tem duas cadeiras aqui, venham!
Acenei com a cabeça e fui andando em sua direção, o silêncio tomou de conta da sala, todos ali presente nos observava passar, olhares de medo e desejo nos bombardeava a todo segundo, cada passo, um cheiro, cada cheiro, um desprezo.
Até que na penúltima fileira um doce aroma penetrou minha narina, fazendo minha espinha congelar e a pupila do meu olho dilatar em fração de segundos.
Fechei os olhos e busquei de onde vinha aquele perfume, de fato, eu nunca tinha sentido aquilo antes.
Os Ômegas quando na adolescência, transcende por diversos aromas, até que no fim chega em seu perfume original, então é comum que cada Ômega tenham cheiros diferentes ao decorrer da sua vida até estagnar em um.
O cheiro doce vinha da minha esquerda, mais precisamente a um metro e setenta da minha esquerda.
Lá sentava duas garotas, Manoela que descartei sem pensar, era uma Beta e Rafaella que me encarava espantada com a cena que via.
Era ela. O cheiro da Ômega tinha se aprimorado e melhorado, uma mistura doce de flores e frutas. Algo que não há existente. Pertencia a ela e naquele momento, pertencia ao meu olfato também.
Pude notar Rafaella se mexer inquieta na mesa, desconfortável com meu olhar sob ela, abaixava a cabeça e batucava com o lápis na carteira, procurando quebrar a tensão que tinha formado.
– Hey, acorda sua jumenta! - Sacudi a cabeça tentando me estabelecer naquele momento, dei uma última respirada para que pudesse me sentar ao lado de Flay naquela sala.
Rafaella POV
– Eu acho que já atingi meu aroma essa semana, andei verificando e acho que constatei sozinha! - Disse explicando Manoela que me olhava surpresa.
– Que rápido! Eu ainda tenho cheiro de leite ninho se duvidar. - Gargalhamos em sintonia ouvindo um "xiuuuu" de alguém da sala em reprovação.
Dois toques foram dados na porta e corri meus olhos para verificar quem havia chegado, pra variar, atrasado.
Quando em um piscar de olhos a sala toda pairava um silêncio melancólico, ninguém sequer ousava em respirar alto, estavam todos imóveis, incluindo a mim.
E o motivo disso? Bianca Andrade, a única Alfa Lupus da escola, acompanhada de Flay, Alfa comum.
Por serem conhecidos como rude, agressivo, selvagem e dominante, os Alfas Lúpus tendem a ter esse impacto onde quer que cheguem, afinal, ninguém queria provocar um Alfa daquele gênero. Nosso instinto nos mostrava o medo e o desejo oculto que sentíamos pelo os Alfas.
A observei caminhar até o fundo da sala, onde estava seu grupo de amigos, mas antes de chegar ao destino, Bianca parou e simplesmente se virou totalmente em minha direção. Senti meu coração palpitar na boca e minha líbido da sinal. Sim, eu estava na semana de cio. Meu cheiro estava mais destacados que os outros, por mais que eu tentasse maquiar o cheiro com um perfume industrial amadeirado que tinha comprado, o cheiro que habitava em mim era muito perceptível.
Engoli o seco quando seus olhos chocaram os meus, o castanho já estava mais escuro e sua pupila dilatada entregava que a Alfa tinha sentindo meu aroma. Droga! Droga! Droga!
- Hey, acorda sua jumenta! - Sai do transe quando ouvi sua amiga chama-la, quebrando o atrito invisível que tinha formado ali.
Bufei irritada com a situação que tinha se instalado e abaixei a cabeça tentando me livrar dos pensamentos.
Bianca não podia ser meu Alfa!
