Cap. 6

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BIANCA POV

A lua já rasgava o céu escuro naquela noite e eu estava na expectativa de uma ótima noite repleta de luxúria.

As 21h meu encontro com Saad virou rotina ao longo dos meses, nós tínhamos um lance corporal, movido apenas por instintos selvagens de ambas. A Ômega cheia de sedução me atiçava a cada noite e eu? bom, eu sempre caía nas garras da felina. Não reclamava, o prazer proporcionado a mim é que estava em jogo no momento.

Ligação On

– Alô? - Antes de sair de casa pude ouvir meu celular tocar.
– Você está com camisinha aí? Acabo de perceber que estou sem - A voz de Mari Saad suavizou do outro lado de linha.

Não, eu não tenho um pênis, se é isso que estão indagando.

Mas eu sou Alfa e nós temos nossas peculiaridades, inclusive nosso gozo é capaz de gerar espermatozóides como uma ejaculação similar a de um homem Alfa. Basta um único contato direto das duas intimidades, sendo ela uma Ômega,
corre o risco de uma gravidez.

Louco né? Mas foi isso que aconteceu depois da peste que dividiu a humanidade.

– Caralho, não tinha como avisar antes? A farmácia já vai fechar. - Bufei irritada.
– Ainda tem tempo Bia, corre lá, é pertinho.
– Tá, tá, vai querer algo mais?
– Um chiclete, de sua preferência de sabor.
– Pode deixar, gatinha. - Dito isso, desliguei o celular e dei o primeiro passo pra rua.

Ligação Off

Já estava apressada pra sair de casa e encontrar-me com a loira o quanto antes para saciar minha sede de Ômega, mas imprevistos acontecem.

A farmácia ficava a duas quadras de onde eu morava com meus país, com isso, resolvi ir andando para poupar gasolina da Lamborghini. E assim fui, em passos curtos, tranquila, sentido todo o vento que reinava naquela noite, a sensação de sopro gélido sob minha pele me fazia estremecer.

Antes que pudesse chegar ao local previsto, uma certa sensação me dominou por inteira, eu não entendi de primeira do que se tratava, geralmente nós temos instinto de predador, mas também um de proteção com quem nos importamos. Dei de ombro e continuei em direção a farmácia.

O primeiro grito.

Ainda sim abafado mas pude escutar de longe, parei bruscamente e fechei os olhos na esperança da minha audição aflorar melhor e indentificar de onde estava vindo aquele protesto.

O segundo grito.

Me virei em direção ao final da avenida da farmácia, onde ali encontrava alguns carros parados, a rua totalmente escura, a leve neblina ainda piorava a situação. Mas pude ver duas silhuetas que cravava uma batalha corporal. Aquilo não estava certo.

O terceiro grito.

Sem nem pensar duas vezes, corri em direção a rua, com passadas largas, meu punho já se fechava em automático, os Alfas já tinham a ira dentro de si e eu já estava completamente entregue a ela. Sem nem saber do que se tratava, meu instinto já me avisava que aquilo iria dar uma merda.

– Solta. - A figura masculina ao me ver se aproximar, empurrou a mulher para atrás de seu corpo, tampando totalmente minha visão da moça. Ele abriu os braços e me encarou.

– Ou o que? - Provocou com um sorriso perverso no rosto.

– Eu mandei solta-la. - Em uma voz firme, quase um rosno, ordenei novamente a ele. - E eu acho bom você fazer isso o mais rápido possível.

Naquele momento, o meu Lúpus já estava apurado, meus olhos já tinham mudado a cor para um castanho mais intenso. Ali, naquele momento, eu já não estava mais sobre meus comandos.

– Ela é sua? - O homem aparentemente assustado com minha "transformação" indagou, agora um pouco recuado, mas ainda escondendo a mulher em si.

– Sim, ela é minha Ômega. Larga ela, agora. - Tive que inventar a desculpa de que a mulher me pertencia, afinal de contas, os Alfas respeitam as parceiras sexuais e amorosas de cada um de sua legião.

– Oh, me desculpe! Eu não sabia, mas fica de olho nela, mulher minha não sai sozinha essa hora da noite. Passar bem. - O machista finalmente saiu de frente da mulher loira, na qual pude observar assim que foi feito, o Alfa deu ombro e subiu a rua como se nada tivesse acontecido.

– Você está bem? - Antes de terminar a frase por completo, meu olfato já tinha reconhecido aquele aroma, meu corpo já conhecia de quem pertencia, meus olhos já vidravam na silhueta a minha frente. - Rafaella?.

– Bianca? Oh meu Deus, eu nem sei como te agradecer por isso, eu estava com tanto medo do que poderia ter acontecido, muito obrigada de verdade. - Kalimann se desmanchava em lágrimas e metralhou todas as palavras de uma vez, com a voz embargada pelo choro que lhe sufocava a garganta, a garota parecia estar desesperada, aos prantos.

– Calma, Rafaella, onde você mora? eu posso te acompanhar até em casa, o pior já passou. - Tentei passar a maior confiança que podia, eu não ia deixa-la na rua sozinha, não naquele estado.

– No final da rua, na casa 7. Mas não me leve pra casa agora por favor, me leve na casa da Manu. - Ela agora já estava mais recomposta, mas ainda sim totalmente abatida.

– Manu? A Beta que anda com você?

– Manoela não é Beta, mas isso não importa agora, só me..leva até lá. - Ela me olhou nos olhos, que por mais que o cio da garota esteja em dia, sua iris revelava todo medo que devia estar sentido.

– Tudo bem, me diz onde que é que te levo até lá.

Caminhamos em silêncio até duas ruas dali, por algum motivo eu não me importava com o horário e nem como Saad iria me receber depois de ter me atrasado. Pairou um silêncio confortável desde das últimas trocadas palavras, essas que seriam o endereço de Manoela.

A casinha amarela com detalhes joviais, flores na janela e uma grande porta branca indicava ser onde a moça morava. Paramos em frente ao portão na expectativa da figura de Manoela aparecer na porta. E ali, Rafaella tocou a campainha.

Uma vez.

Duas vezes.

Três vezes.

Na quarta ela gritou e xingou Manu com inúmeros nomes pejorativos.

– Mas que merda! Ela não deve estar em casa, sabia que estava de rolo com alguém. - A loira bufava e sentou no batente que separava a calçada do portão da casa. - Pode ir, Bianca. Eu vou esperar aqui, ela não deve demorar.

– Aqui? - Olhei para os dois lados sombrios e escuros da rua, não havia uma pessoa sequer ali, somente nós duas. - Você tem certeza?

– Tenho, obrigada e boa noite.

– Olha, eu acabei de salvar a sua vida, o que merda eu fiz?

– Bianca, muito obrigada por isso, eu nem sei como te agradecer, mas eu ainda não posso negar o quão escrota você foi no dia do banheiro. - Rafaella me olhava com fúria nos olhos.

– Foda se?

– Me deixa em paz. Já agradeci uma vez, quer mais o que?

– Eu quero que você vá comigo para minha casa, eu não vou te deixar na rua sozinha.


ALFA • RABIA Onde histórias criam vida. Descubra agora