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Foi repentino, meses atrás estava no Brasil comemorando a aprovação da minha bolsa de estudos de especialização médica no exterior, até então tinha sido um processo muito fácil, de qualquer forma havia me esforçado muito para conseguir essa aprovação. Mas a parte mais complicada chegou em seguida, e ela estava justamente entre a parte de emitir meu passaporte, tomar algumas vacinas, comprar roupas de frio, organizar todos meus documentos e abrir uma conta bancária no exterior onde poderia, além de converter minhas economias de reais para libras esterlinas, estar tranquilo e ter uma garantia de que minha estadia de 2 anos em Londres, seria no mínimo, confortável. Agora estou em um avião rumo ao meu destino, pensando em tudo, menos na ideia de que em questão de meses, minha vida tranquila poderia ser remexida, quase como os ovos mexidos que havia comido nesta manhã.

Foram exatamente 12 horas, exaustivas 12 horas dentro de um avião, tempo suficiente para refletir sobre todos os acontecimentos que me trouxeram até esse momento, mas somente quando senti o nada agradável clima gélido passar por entre meu corpo, me causando arrepios da cabeça aos pés, foi que retomei a consciência percebendo como o ar condicionado do avião era apenas uma amostra grátis do real clima do meu destino, a terra da rainha.

Após toda a burocracia da imigração, parei na saída do aeroporto repousando minhas malas no chão, fechei meus olhos e respirei profundamente enchendo meus pulmões de oxigênio fresco, em questão de milissegundos meu organismo já havia feito seu papel fisiológico de respiração pulmonar, então exalei o ar do meu corpo, enquanto tinha leves devaneios e aspirações sobre a viagem e os próximos dias que viriam. Finalmente, havia chegado a Inglaterra, apenas alguns minutos em um novo país e meu coração já apertava sentindo falta do clima caloroso que eu estava acostumado.

Assim que abri meus olhos, não enxerguei nenhum rosto conhecido, de certa forma não esperava encontrar algum conhecido, mas acabei por encontrar um completo desconhecido, provavelmente a minha espera, consegui concluir isso com base nas informações contidas na pequena plaquinha que segurava, era o motorista do hospital que mexia uma de suas pernas ansiosamente:

Doctor Schmitt / Grey Sloan Memorial Hospital

Após cerca de uma hora dentro de um carro, o motorista estacionou em frente a um hotel, gentilmente me ajudou com as malas, agradeci e ele partiu, assim que o carro limpou minha visão pude identificar o hospital do outro lado da rua, ironicamente em frente ao hotel que ficaria pelos próximos 2 anos. Me encaminhei até a recepção e um simpático funcionário me guiou até o meu quarto após uma breve e rápida conversa.

- Bom dia, Senhor Schmitt, como foi de viagem?

- Uma viagem um pouco cansativa, mas estou ótimo, ficarei bem melhor após um banho quente. - Disse enfim, era quase inevitável não perceber o cansaço em minha fala arrastada, enquanto completava a frase em inglês.

- Certo, por gentileza, me acompanhe.

Afirmei com a cabeça agradecendo e sorrindo de forma eficaz, ajeitei meus óculos com o dedo indicador em minha face e segui o rapaz um pouco mais baixo do que eu.

O elevador nos levou até o 15º andar, caminhamos por diversas portas na cor preta e paramos em frente a uma porta em especial, com os números "206" pintados na cor dourada de forma delicada, mas elegante. O funcionário do hotel logo realizou o cadastro da minha digital no sistema de destrancamento eletrônico da porta do quarto e a abriu por completo, o quarto era extremamente bonito, com ótima iluminação e uma decoração moderna em cores vibrantes destacando uma pequena cozinha, uma cama grande, um pequeno sofá, um banheiro e uma varanda, tudo perfeitamente disposto de forma harmoniosa, mas ainda sim lembrando o específico padrão inglês na arquitetura, havia pesquisado muito sobre Londres, meses antes de viajar, estava praticamente preparado para qualquer situação. Pela primeira vista não precisaria de muito para me sentir em casa, o ambiente era estranhamente receptivo e em questão de minutos já seria capaz de me sentir como em casa, só precisava esvaziar minhas malas.

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