CAP.4

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Acordei com o pressentimento de que havia alguém me observando.
E não estava errada.
Pelo menos três criadas que eu nunca tinha visto na minha vida, estavam paradas na minha cama, quanto tempo elas ficaram lá esperando que eu desse algum sinal de vida?
"Bom dia senhorita", a mais alta falou, ela tinha o cabelo ruivo bem vivo, "fomos contratadas pelo seu pai, para ajudá-la a se preparar para hoje".
Essa frase me fez ter vontade de afundar na cama e nunca mais acordar, mas eu tinha que fazer alguma coisa, não é?
"Tá bom, mas podem sair, eu consigo me arrumar sozinha".
"Por favor senhorita, deixe-nos ajudá-la", a mais nova, com cabelo loiro me disse, os olhos dela imploravam com se a vida delas estivesse em jogo.
"Tá bom, mas por favor, não apertem muito o espartilho".
Depois de longos quarenta minutos me puxando, e me apertando, logo estava pronta, do jeito que a sociedade queria que eu fosse.
Elas já estavam nas minha unhas quando pedi que não tocassem nelas, de tanto tocar violino acabei desenvolvendo o costume de rasgar as minhas unhas, por isso elas estavam tão pequenas.
Meu pequeno ato de rebeldia.
"Ei, quais são seus nomes?", perguntei antes de sair.
"Sou Dalia", a ruiva disse, "e estas são minhas irmãs Kalil e Nina", eram respectivamente a loira com olhos suplicantes e a de pele morena, que não havia dito uma palavra.
"Muito obrigada, sempre me lembrarei de vocês", dei um pequeno sorriso e subi para a sala onde meu pai conversava com meus "pretendentes".
"Ah, que bom que chegou Christine, estávamos justamente falando sobre você", é, e em como vai me vender que nem gado para esses homens sem escrúpulos.
"Encantado com a vossa beleza, senhorita, sou o Visconde de Dellaway", ele beija a minha mão, porém só consigo lembrar daquela pobre mulher na rua que caminhava sozinha e foi maltratada por esse monstro.
"Soube que adora caminhar à noite não é verdade?", pergunto inocentemente.
"É claro, o ar noturno tem um leve toque de aventura no ar, não acha?".
"Ah, é claro, assim como é uma desculpa para violentar uma mulher no meio da rua".
Ele ficou sem palavras, mas meu pai logo me repreendeu.
"Poderia por favor, controlar essa língua?".
"Não precisa, Lorde Dwas, já entendi que não sou bem-vindo aqui."
E o Visconde Dellaway saiu pela porta.
Logo o segundo vem perder seu tempo para tentar me impressionar.
"Sou o Visconde de Tudray, a seu dispor senhorita", ele se curva, mas não se engane, por muitas vezes roubou do dinheiro público da família para satisfazer seus desejos carnais.
"Soube que os negócios da sua família andam mal, sinto muito", eu disse preparando meu veneno.
"Obrigado, ficamos muito felizes por sua empatia".
"Sinto muito por terem um filho como você que gasta tudo em coisas desnecessárias".
Essa até eu senti, mas não me arrependi de ter dito.
"Ah, eu vou conversar com a minha família e eu volto mais tarde para aceitar as coisas".
Meu pai me olhou como se quisesse me fuzilar viva, mas não me importava.
O terceiro e último, graças a Deus, se aproximou de mim já invadindo meu espaço pessoal (se quer saber como eram fisicamente, todos eram loiros, de olhos claros e brancos).
"Sou o Visconde de Yarl, e já vi que a senhorita é uma bela selvagem", em seus olhos via os rostos do pobre casal de homens que andava pela rua e foram mortos a tiro por ele, "adoraria muito ter o prazer de domá-la".
"Eu não sou um animal para precisar de um dono".
"Mas como poderá ser a mãe dos meus filhos assim?", ele sussurra no meu ouvido esperando que eu seja seduzida, ou algo do gênero.
"Ah, agora eu virei uma fábrica de bebês? Só está piorando", tento me afastar dele o empurrando para longe mas logo me puxa mais para perto.
"Vejo que terei muito trabalho pela frente", ele tenta me beijar mas dou o golpe final, um chute em seus países baixos.
"Olha aqui, eu não te dei esse direito, e não sou mercadoria para ser vendida pra qualquer um, e quero que queime no inferno por aquele casal INOCENTE!", desci exasperada para o meu quarto.
Aquilo havia sido a gota d'água pra mim, na raiva rasguei o vestido em uma enorme tira de tecido para fazer uma trouxa.
Era isso mesmo, eu estava fugindo.
"Senhorita? Está tudo bem?" Kalil perguntou com aqueles olhos que iriam me assombrar se não fizesse alguma coisa.
"Kalil, quero que leve você e suas irmãs para longe daqui", peguei um saco com moedas e a entreguei, "aqui tem 1.000 euros para poderem comprar uma casa grande o bastante para vocês".
"Mas, Christine-".
"Vai, faz o que eu tô mandando e vão embora daqui".
E assim ela foi correndo para onde suas irmãs estavam.
Na trouxa coloquei apenas um pouco de comida, peguei meu violino e dei uma última olhada no meu panfleto da Holloway.
Tentei passar de fininho mas meu pai logo notou minha presença.
"O Visconde de Yarl passa bem se quer saber", bufei para aquele comentário, "você me lembra sua mãe sabia?", um frio subiu pela espinha, "sempre querendo quebrar tradições, querendo ser algo que não é, a primeira vez que nos conhecemos ela fez as mesmas coisas que fez com esses pobres rapazes".
Pobres rapazes o caramba, por uma pequena espiada da janela, consegui ver as irmãs saindo pela porta dos fundos, elas não serão vítimas do que eu causei.
"No primeiro encontro marcado pela sua família, ela conseguiu fugir para assistir uma peça que estava estreando no dia, sabe qual foi?".
Já sabia aonde ele queria chegar.
"A mesma que você viu ontem, achou que eu não iria descobrir? Eu não sou o burro que pensa que eu sou."
Mas pra outras coisas...
"Pensei em te perdoar por aquilo, foi apenas uma rebeldia não calculada, e seus hormônios também estão aflorados".
Claro, aflorados ao ponto de querer socar a sua cara.
"Mas depois de hoje, vejo que todos os meus esforços para te adestrar foram em vão, não é verdade?".
Ele arranca o panfleto da Holloway da minha mão.
"Holloway, nunca ouvi falar nisso", ele o rasgou na minha frente e jogou os pedaços no chão.
Eu só pude me ajoelhar com o choque que havia acabado de receber.
"A partir de hoje, não quero que seu nome seja vinculado à esta família, SAIA AGORA DA MINHA FRENTE".
Me ergui com o resto de orgulho que tinha, e fui até a porta.
"Ótimo, melhor do que viver aqui enfurnada numa mentira".
Não podia sair sem dar a última palavra.
Meu panfleto rasgado, meu orgulho manchado, a única coisa que sobrava comigo era meu violino, ele sempre foi resistente.
Mas, agora só um milagre para me fazer sair dessa.

A/N: Esse foi o capítulo mais longo da minha vida.
A partir de agora, eu vou colocar músicas de uma cantora que eu adoro, a Indila, que foi a verdadeira inspiração para começar essa história.
Até mais!

A música da almaOnde histórias criam vida. Descubra agora