Alexandra dormiu um pouco à tarde, depois desceu para o jantar. Somente Estelita estava presente. A mulher explicou, com evidente satisfação, que Harry mandara avisar que não viria e Pepe tinha preferido jantar no refeitório com os outros homens. Alexandra tinha-os visto chegar do trabalho naquela tarde. Acabava de sair do banho e foi até o balcão, enrolada no roupão. Esperava ver Harry entre eles. Foi por isso, com um sentimento agudo de desapontamento, que ouviu a informação zombeteira de Estelita.
A Srta. Holland, como na noite anterior, tinha pedido que lhe levassem uma bandeja no quarto.
Comeram uma mistura de feijão com arroz e carne. Estelita respondia às suas perguntas, falando durante toda a refeição. Contou que descendia de portugueses e que Pepe era seu meio-irmão. O pai de Pepe era de Valvedra, e fora viver com a mãe de Estelita quando seu primeiro marido a abandonara. Estelita não conhecera bem o pai, que fora embora quando ela era muito criança, e não explicou o que sua mãe fora fazer em Valvedra. Também não falou em seu falecido marido.
Ela rejeitou a oferta de ajuda para lavar os pratos, e assim Alexandra aproveitou para refugiar-se em seu quarto. Durante a tarde havia andado pela casa e descoberto que ao lado do escritório de Harry havia uma ótima sala de estar, mas, sozinha, não achou graça em ir para lá. Acabaria adormecendo e não queria que Harry a encontrasse dormindo. Além disso, sabia que ele não gostaria que ela ficasse esperando-o, principalmente porque Estelita o esperava na cozinha, como uma aranha ciumenta em sua teia.
Na manhã seguinte, Alexandra despertou, agradavelmente surpreendida por não estar com o corpo dolorido devido à aula da véspera.
Certa de que o banheiro àquela hora estava vazio, pois a Srta. Holland ainda dormia, foi até lá, ainda de camisola, para tomar um bom banho. E encontrou Harry, que lavava o rosto na pia.
— Oh! Sinto muito — falou, sem jeito. — Estelita tinha dito que você usava o banheiro...
Enquanto ela falava, Harry pegou a toalha e a pôs em volta do pescoço. Estava nu da cintura para cima e vestia calças de brim de cintura baixa. Mas o que chamou atenção de Alexandra foi um corte fundo que ia do cotovelo até o pulso, e indagou o que tinha acontecido. Vendo a sua reação, Harry explicou, contrafeito:
— Por causa disso não pude tomar um chuveiro esta manhã. Achei melhor lavar com água filtrada até que cicatrize.
— Mas vai precisar de pontos! — Chegou perto dele. — Como fez isto? Está fundo!
Harry afastou-lhe os dedos de seu braço e acabou de enxugar o rosto e o pescoço.
— Vai ficar bom — disse ele, sem olhar para Alexandra. — Um touro bravo quis pôr a marca dele em mim, só isso. Posso garantir que vou sobreviver.
— Mas, Harry, você devia fazer um curativo direito — insistiu. — Você não tem gaze, ataduras?
Harry pegou a camisa que estava numa cadeira ao lado da banheira.
— Você é enfermeira também? — perguntou, sarcástico.
— Aprendi a fazer curativos quando fui escoteira. Quer ter septicemia? Quer perder o braço?
— Meu Deus, você é pessimista! — exclamou, mas vacilou antes de vestir a camisa. Ela viu então que a camisa estava toda suja de sangue já coagulado.
— Harry, por favor! — Alex implorou. — Deixe que eu ponha algum remédio. Garanto que uma atadura não vai... tirar o seu charme...
— Vou pedir a Estelita que cuide disto — falou Harry, enquanto se inclinava para pegar a camisa suja.
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Anjo Loiro
RomanceAlexandra era tão pura quanto uma criança. Criada num convento, não conhecia os segredos da vida e nem sabia a diferença entre a amizade e o amor que une um homem a uma mulher. Depois da morte do pai, foi viver numa fazenda no Uruguai, com Harry, se...